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A NATUREZA DAS SUPERSTIÇÕES

Giancarlo Kind Schmid

As superstições sobrevivem, desde os mais remotos tempos, à toda tecnologia e avanço cultural, às margens do século XXI, onde todos os dias as informações dobram a cada minuto. As cerimônias, que sobrevivem hoje em dia como superstições, são constantes testemunhos de que a mente humana mudou muito pouco, desde os primitivos ancestrais.

A origem delas, parece residir no temor ou medo do desconhecido, na crença no fantástico, relacionada a aspectos folclóricos e mitológicos de uma civilização, na fantasia dos ignorantes, na busca ansiosa pelo mágico e divino; muitas são exteriorizações de ansiedades íntimas, cuja natureza ainda não foi totalmente explorada.

Etimologicamente, a palavra superstição vem do latim superstes, que inclui dentre os muitos significados, o de sobreviver. Mais comumente, o termo é utilizado para designar crenças que não são nossas.

A carga simbólica que nelas reside, liga o homem a uma censura, criando uma atmosfera de medo da transgressão, de ser vitimado por uma onda de mau augúrio ou azar, ou mesmo implicando na defesa contra fatalidades e "ameaças invisíveis".

Uma dada superstição percorre povos, atraindo a atenção dos incautos, normalmente criando uma associação com a psique daqueles que já possuem uma predisposição à influenciabilidade e à impressionabilidade, sendo estes, os principais responsáveis pela divulgação em massa de tal natureza.

Existem três responsáveis pela origem das superstições: a religião, o folclore (ou lendas e mitos) e os aspectos culturais de um povo. Em primeira instância, as religiões provocaram durante a Idade Média, uma "explosão" de crendices, manifestadas a partir do temor ao demônio e bruxas, além das severas proibições que despertavam na imaginação alheia, fantasias quanto a objetos, animais e lugares. Podemos citar dentre muitas, as superstições da ferradura, gato preto, moedas colocadas nos olhos do morto, cemitérios, etc.; as de cunho folclórico ou lendário, engendram uma mítica, cuja origem surge no homo sapiens e pronuncia-se através do paganismo (superstições quanto a animais, fenômenos da natureza, etc.) e por último, as de cunho cultural, manifestadas a partir da falta de informação (como vemos no interior do Brasil) ou mesmo aliadas à religião, nas festas, ritos, cerimoniais e até na arte (encontramos por exemplo algumas como o buquê da noiva, o noivo não ver a noiva antes de se casar, a roupa branca de ano novo, etc.).

A relação superstição - folclore é muito estreita, apresentando traços característicos e comuns entre si; tanto um como outro engedram uma mística, uma fantasia, uma forma de amedrontar o homem. Tanto uma como a outra trouxeram para a cultura as simpatias e "fórmulas mágicas" de proteção e conquista pessoal.

É importante frisar que existem dois tipos de superstições: as relacionadas com os objetos, atos ou coisas que isolam o indivíduo do malefício e as que se situam na relação do homem com seu meio, levando o indivíduo à vulnerabilidade em relação ao objeto que pode afetá-lo negativamente. No primeiro tipo, encontramos aqueles que transferem psiquicamente a um dado objeto, qualidades especiais de proteção, magnetismo, sorte e poder: os que crêem nas ferraduras, pé de coelho, trevo de quatro folhas, figas, arruda, moedas, animais, presas dos mesmos ou atos como bater na madeira três vezes, cruzar os dedos, pronunciar determinadas palavras ou frases, amarrar coisas, etc, e o segundo, identificamos aqueles que evitam determinados objetos ou atitudes: não deixar um gato preto cruzar o caminho, não passar debaixo de escada, não passar debaixo de um arco-íris, não deixar guarda-chuva aberto dentro de casa, evitar o número 13 (também considerado número de sorte para outros), não derrubar sal, não quebrar espelho, etc.

A crença nas superstições se sustenta na emergência coletiva: inconscientemente, a dúvida em relação ao futuro, o que estar por vir, mobiliza a psique humana para a auto-preservação, para a sobrevivência. A superstição pode alcançar qualquer pessoa, independente de seu estado social ou intelectual - desde que sinta ameaça de forças que estejam fora de seu alcance.

Atribui-se a relação do uso de determinado objeto a uma dada circunstância, uma analogia com a sorte ou azar naquele momento, e o indivíduo uma vez associando uma coisa à outra, pode "talismanizá-lo" (ou seja, tornar um talismã). Do ponto de vista psíquico, temos a relação da sincronicidade aí revelada, e em nada podemos concluir, de fato, que tal objeto trouxe boas ou más influências para seu usuário.

Simbolicamente, toda crença no imaginário, liga o homem às suas origens míticas, pela necessidade principalmente, de tornar-se novamente uno em si mesmo.