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O PAPEL DA ASTROLOGIA NAS DISFUNÇÕES GINECOLÓGICAS

Maria Helena da Silva Bastos

Convido todas as mulheres a escutar o seu corpo!

O nosso corpo, uma fantástica e perfeita obra de engenharia, nada mais é que um livro aberto que nos conta histórias desde a mais tenra infância. Nosso processo de "escuta" começa com a anamnese. Esta é uma palavra muito empregada no meio médico e significa o conjunto de informações que o médico, o psicólogo ou o terapeuta recolhem da paciente, quando a interrogam sobre a história de sua doença. Em suma, é uma análise dos sintomas e das somatizações. A palavra anamnese deriva da palavra grega anamnésis que significa recordação, lembrança. Platão já dizia que nada aprendemos e que apenas nos lembramos. Existe em nós uma memória essencial, a memória do Ser verdadeiro e divino que somos.

O trabalho de todo terapeuta deve ser dirigido para essa lembrança do Ser, que é algumas vezes bloqueada pelas memórias do corpo e do psiquismo. Escutar o nosso corpo significa reavivar esta memória do que nos aconteceu e tentarmos identificar o nosso ponto fraco, o lugar do nosso corpo onde vem se alojar, regularmente, a doença e o sofrimento. Observemos o medo ou a atração que vivemos em relação a algumas partes do corpo, e em quais situações psicológicas se manifestam certas doenças ou certos sofrimentos. Tomemos o herpes como exemplo. Quem nunca percebeu a associação entre o chamado stress e a manifestação do seu herpes? De tanto conviver com estas crises, a pessoa passa a reconhecer no seu herpes, o próprio stress. E como encontrar estas memórias em nosso corpo?

Se entendermos a astrologia como uma linguagem, uma forma de expressar o conteúdo psíquico da pessoa, ou, se através da compreensão simbólica que representa toda carta natal, podemos avaliar o papel que esta pessoa procura desempenhar dentro da sociedade, poderemos analisar os impulsos conscientes e inconscientes aos quais a pessoa está condicionada e, assim, reavivaremos esta memória corporal.

Entendamos bem que aqui não há lei de causa e de efeito, mas, sim, uma ressonância, uma sincronicidade entre o nosso corpo físico, o nosso corpo de memórias, e as leis do universo.

Num sentido mais usual, podemos observar as fases da Lua. Uma gestação, por exemplo, dura 10 lunações, ou seja, 40 semanas. Observa-se que os partos ocorrem mais freqüentemente na entrada da Lua Cheia... Enfim, a mulher tem suas marés!

Num sentido mais individual, fique atenta às oscilações que você sente durante seu ciclo menstrual. Observe a Lua e note a diferença entre menstruar na Lua Cheia ou na Lua Nova. Também podemos observar a freqüência de casos de esterilidade em pacientes que tenham fortes influências de Saturno. E não é raro que um aborto ocorra durante um trânsito de Marte sobre a Lua... Mas o que mais me interessa neste estudo são as doenças crônicas e insidiosas, e a verdadeira cura é fazer a prevenção. Acessando-se o inconsciente, a memória corporal, podemos redimir o corpo de eventuais traumas não reconhecidos e perpetuados ao longo de uma existência. E neste sentido, gostaria de empregar a astrologia como forma de libertação das memórias traumáticas impressas no nosso corpo.

Tudo o que corresponde à parte inferior do corpo, como nádegas e genitália, corresponde às memórias anal e genital. Podemos observar que nosso corpo guarda memórias que lhe fazem mal e que lhe trazem, talvez, alguma angústia. Trata-se de observá-las de maneira muito objetiva mas, também, de modo espiritual e sagrado.

Estas partes do nosso corpo se unem no sacro (sacrum, o osso sagrado que era oferecido em sacrifício aos deuses), que é o local do templo, o lugar sagrado. Muitas vezes nós mesmas devastamos este Templo Sagrado. Na tradição budista, estar em boa saúde com seu sacro e com seu ânus é aceitar a impermanência de todas as coisas. Tudo o que é composto será decomposto. Esta noção pode nos ajudar a suportar algumas provações da doença ou da velhice. E quando estudamos esta Região Sagrada, quando abordamos a sexualidade, nos damos conta de que não se trata somente de sexualidade, mas trata-se também da imagem que a sociedade e as religiões têm da sexualidade.

Quando observamos esta parte do nosso corpo que chamamos de sexo, como nos situamos em relação a ela?... Observemos, igualmente, a qualidade de nossos orgasmos ou a dificuldade em atingí-los. O sexo é um momento de passagem para além do Ego ou além do Eu porque, através do abandono do corpo, alguns podem viver uma abertura, um caminho para a transcendência. E qual a nossa expectativa em relação ao sexo?

Tomemos como exemplo o caso de uma mãe que, inconscientemente, não permite à sua filha conhecer um gozo que ela mesma não conheceu. E se sua filha, se a mocinha experimentar tal prazer, terá muita culpa e tudo isto de uma maneira inconsciente. Portanto, nosso corpo, nosso sexo, nossa sexualidade, são habitados por toda espécie de memória.

Uma das queixas mais freqüentes num consultório ginecológico é a T.P.M (Tensão Pré-menstrual). Chamamos de síndrome ao conjunto de sinais e sintomas, e na TPM podemos encontrar relatos de mais de 80 sinais e sintomas manifestados numa fase do ciclo da mulher, onde há de ocorrer uma renovação, o fim de um ciclo. Quando falamos em ciclo, refiro-me ao ciclo menstrual. E o que representa a menstruação?... "A menstruação nada mais é do que a natureza chorando lágrimas de sangue por uma gravidez frustrada"... Bastante poético isso, mas bastante simbólico também, quando analisamos o que representa a menstruação. Menstruar é um fato central na vida de qualquer mulher. Para nossas ancestrais da Idade da Pedra, o sangue menstrual era sagrado. A palavra sacramento provavelmente se origina de sacer mens, literalmente, menstruação sagrada.

Menstruação significa "mudança de lua". Tem como sílaba-raíz mens, mensis, e está na origem da contagem do tempo. Forma palavras como medida, dimensão, metro, mente, para citar algumas. Nas sociedades tribais, a menarca, o início do fluir do sangue, era celebrado com um rito de passagem, auxiliando a menina a realizar sua entrada para o reino do mana: o poder sagrado transmitido pelo sangue e que tanto podia dar como tirar a vida. Ao longo dos milênios, as mulheres têm desaprendido a arte de menstruar, de fluir com a vida.

O que era sagrado tornou-se proibido, sujo, contaminado. A regra passou a ser esconder a regra. O resultado disto foi que o evento central na vida de toda mulher madura tornou-se invisível. Mesmo mulheres "liberadas" acreditam que suas regras (aquilo que as rege) são uma inconveniência que deve ser eliminada. A decantada imprevisibilidade feminina é, em grande parte, decorrente das oscilações a que a mulher está submetida ao longo de seu ciclo mensal. É a expressão da imprevisibilidade da própria vida. Observando minhas pacientes com sintomas de T.P.M. percebi que na grande maioria destas clientes os "dramas de controle" eram a temática essencial na anamnese psico-emocional.

A T.P.M. Acomete mais freqüentemente mulheres numa etapa da vida em que a sexualidade e a produtividade estão no apogeu: mulheres na faixa dos 25 aos 45 anos. Ela tem sua manifestação mais exuberante em momentos da vida da mulher, onde ela se confronta com situações que não domina. É mais comum se apresentar nas mulheres que apresentem algum distúrbio orgástico ou nas mulheres que não estejam exercendo atividade sexual. O momento que estas mulheres, em determinadas momentos da sua vida, aprendem a abrir mão e a se entregar, a T.P.M. se torna mais atenuada, ou mesmo desaparece.

As patologias de colo uterino, principalmente as que favorecem ao câncer de colo uterino, mediadas em geral pela ação do HPV, um vírus de transmissão sexual, é outra das manifestações freqüentes em qualquer serviço de ginecologia.

A ação de qualquer agente infeccioso no nosso corpo, vai depender basicamente de dois mecanismos : a resposta do hospedeiro e a agressividade ou virulência do agente infeccioso. Se considerarmos que a resposta do hospedeiro depende diretamente da sua imunidade, e que para que ela seja eficaz precisamos partir do conceito de que saúde é a manutenção da homeostase, ou do equilíbrio da força vital, podemos compreender a responsabilidade deste "equilíbrio". Uma pessoa saudável é aquela que está plena, completa, a nível de corpo, mente e espírito. O que então faz com que determinadas mulheres, ao se exporem ao HPV, não venham a manifestar quaisquer sintomas de doença mediada por este agente, e outras evoluam de modo rápido para lesões pré cancerosas ou mesmo o próprio câncer de colo uterino?

Entendo o HPV como a doença que se manifesta na região onde esta energia do universo se torna mais evidente, na entrada deste templo sagrado, que é o corpo da mulher. A vagina e o colo do útero são a porta de entrada, o canal de comunicação com o Ser Essencial, com a Deusa Interior.

O HPV não tem predileção por faixa etária, podendo manifestar-se tão logo se inicie a vida sexual ou mesmo anos depois. Atribuo ao HPV as dificuldades em trabalhar o desejo. É bastante freqüente em mulheres que têm fortes influências de Plutão e de Escorpião. Quando estas pacientes estão num período da vida em que se sentem frustradas, insatisfeitas com alguma coisa, ou mesmo com o relacionamento, a infecção se agrava ou mesmo se manifesta. No momento que começam a buscar técnicas de auto-conhecimento e aprendem a relaxar, observo uma melhora acentuada da doença. Já ouviram aquele ditado: "Quem ama não adoece"?... Pois esta frase tem grande sabedoria aqui! Amor implica em, antes de mais nada, estar presente, estar consciente. Só amamos a partir de nós mesmos.

Quem ama se percebe pleno, cheio de luz. É muito freqüente perceber períodos de remissão do HPV, ou em muitas ocasiões a sua cura, sempre que estas mulheres se tornam mais realizadas afetivamente.