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VAI PRO LIXO!

Atirando as coisas num canto da Casa 12

Jane Eyre de Melo

O caminho para o terceiro milênio parece ter sido ladrilhado de boa parte das sujeiras acumuladas neste século. Caminhamos em meio a lixos sociais, religiosos, financeiros e psicológicos. Nesse exato instante você seria capaz de dizer quanto lixo existe à sua volta?... E até dentro de você?...

A palavra lixo originou-se do latim e quer dizer cinza, numa referência ao borralho dos fornos, fogões e lareiras de antigamente. Hoje é sinônimo de "tudo aquilo que jogamos fora". Segundo dados recentes, brasileiros produzem em média 1,5 Kg de lixo/dia. Então, cabe a pergunta: o que fazemos com o nosso lixo?

Sabemos que a 12ª casa do mapa astrológico, em um de seus amplos significados, comporta o nosso grande depósito, o nosso grande aterro particular. Mas depósito de quê? Depósito das nossas aflições, dos nossos medos, do nosso excesso de lixo de toda a natureza. É a sujeira que escondemos debaixo do tapete.

Saturamos nosso psiquismo com todo tipo de toxinas. Dilatamos nossa mente com necessidades tão desnecessárias. Empurramos goela a baixo todos os nãos para não criar atritos ou inimigos. Exaurimos nossa auto-estima e felicidade e quando a psique se esgota de tanto reciclar, tentando eliminar o lixo acumulado dentro de nós, procuramos ajuda externa. Buscamos então as soluções que nos livrem de todo-mal-amém.

Abundantes restos de formas-pensamentos nossas e da coletividade geram em cada um de nós grande quantidade de lixo pelo desperdício de energia de pensamentos. Destinamos esse lixo para a humanidade e assim instala-se o vaivém.

Mas reciclar está na moda. Tudo torna-se possível de reaproveitamento. No entanto, reciclagem de lixo é um processo caro. Qualquer coisa feita de papel reciclado é muito cara. Imagine reciclar lixos psíquicos? Quaisquer cuidados com o trash requer altos custos. Afinal, lixo é luxo.Como cuidamos do ambiente à nossa volta – armários, gavetas, a casa, o escritório, as ruas, as praias, as estradas, as florestas, o planeta Terra? Será que no terceiro milênio, contaminados ainda pela voracidade do "descartável", contaminaremos também as nossas idéias, nossos relacionamentos e voltaremos isso tudo para o nosso monturinho? Os valores propostos pela 12ª casa serão sobrepujados pela urgência, pela tecnologia e pela transformação das nossas psiques em lixo?...

O processo de reciclagem da Casa-12 é bem mais complexo e requer uma reprogramação não apenas dos nossos medos, mas também dos causadores da sujeira psíquica. Todos nós somos responsáveis pelo que pensamos em nossos porões. É preciso nos responsabilizarmos pelo que nós geramos em nosso ser mais íntimo. É preciso nos tornarmos responsáveis por um mundo psíquico mais limpo e não devemos nos omitir nem refrear qualquer iniciativa de amor transpessoal, que vá além de nossos monturinhos particulares.

A 12ª casa parece ser a casa da imortalidade. Contudo, o encanto da mortalidade nos obriga a parar para refletir. Nossa compaixão pelas outras pessoas surge da consciência de que nós também estamos neste globo terrestre por alguns anos e que daremos adeus a este mundo também. Eu pergunto se os humanos poderiam amar se soubessem que nunca morreriam. Esta é uma propriedade da mortalidade: aprendemos a amar uns aos outros. Talvez, como Ulisses, possamos optar pela mortalidade e assim limpar nossos porões. É certamente uma alegria quando estamos aborrecidos, sentados num aeroporto, avivar e embelezar nossa existência trazendo à mente as muitas coisas bonitas e encantadoras que vimos ou experimentamos. Somos tão ricos quando imaginamos!

Os grande perigos que corremos agora, exemplificados pelas bombas nucleares, são em si mesmos mandamentos de que devemos aprender a viver juntos como irmãos, numa grande família. Temos um inimigo comum, elaborado por todo lixo humano. A mesma tecnologia utilizada para a destruição de nossos inimigos também nos torna cativos do poder destrutivo que geramos.

Despertamos de um sono de muitos séculos para nos encontrar num novo e irrefutável sentido de mito da humanidade (Aquário). Encontramo-nos numa comunidade do novo mundo; não podemos destruir as partes sem destruir o Todo. Neste encanto luminoso sabemos que somos verdadeiramente irmãs e irmãos, finalmente na mesma família.

Ao limparmos conscientemente a Casa-12 veremos que ao nascer do Sol em cada campina há trilhões de folhas de grama, cada uma com sua gota de orvalho pendurada à grama verde. Bem antes do Sol nascer; cada gota de orvalho tem, contra seu fundo prateado, um arco-íris completo de cores. Trilhões de diamantes em nossa campina. Já não sujamos, mas brilhamos.