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O CAMINHO TRANSCENDENTE DO AMOR E A ALMA GÊMEA

Luciana Rothberg

"E o amor é coisa que ilumina,
somente gente fina pode ter um grande amor..."
(Trecho de música de Genival Lacerda)

A exaltação dos planetas nos signos específicos é um conhecimento milenar tão antigo que se perde nas brumas do tempo, como, aliás, grande parte do corpo estrutural da astrologia. Cada planeta rege um determinado signo e se exalta num outro signo diferente. A regência acontece por igualdade de princípios e, portanto, ali o planeta está em casa, à vontade. A exaltação se manifesta através de uma sintonia ascendente, vertical e evolutiva para os dois fatores envolvidos, planeta e signo, quando então é revelada uma dimensão maior do potencial humano. Ou seja, a exaltação só pode ser vivenciada por quem está buscando se sintonizar com os princípios e virtudes de um plano superior.

Vejamos o exemplo de Vênus, que rege Touro e Libra, e tem sua exaltação em Peixes. Vênus é tradicionalmente conhecida como "a deusa do amor", mas num nível mais básico ela rege o princípio da atração magnética. É ela que dá a "nota": bom/ruim, bonito/feio, legal/chato, etc. Então, é natural que queiramos ter as coisas que nos são agradáveis e estar sempre perto das pessoas que amamos, devido à sua regência em Touro, um signo de constância e estabilidade. Só que tudo tem também a sua polaridade negativa, que nesse caso é o medo de perder o objeto desejado, o que gera apego e ciúmes. Temos então nesse nível uma confusão do amor com a posse do outro: amar torna-se igual a possuir.

Quero nesse ponto esclarecer, que não estou falando das pessoas que tenham Vênus em Touro, e sim da experiência humana arquetípica, demonstrada por esses símbolos, num dos patamares do processo evolutivo de toda a humanidade.

Com Vênus regendo Libra, observamos que a relação com o desejo por alguém ou alguma coisa já começa a buscar mais equilíbrio e harmonia, porque a verdade é que ninguém consegue aprisionar o parceiro numa relação se a outra pessoa não quiser de fato. Então, aqui há o desenvolvimento do respeito e da troca. O perigo está justamente na "negociação", pois tem coisas que a gente não pode abrir mão de forma alguma, senão cai naquela situação em que 1+1 = ½ (um mais um fica igual a meio), situação infeliz observada com muita freqüência por aí.

E agora chegamos à Vênus em Peixes, que era o nosso objetivo inicial. Vamos começar observando o signo de Peixes, um signo mutável de Água. Peixes rege a experiência da abertura total da sensibilidade psíquica. Como último signo do zodíaco, rege o mergulho nas ondas espirituais, dando à pessoa a oportunidade de mostrar se aprendeu a nadar nas suas próprias emoções ou se vai afundar como uma pedra, como um receptor que não agüentou tantas percepções à sua volta. Vênus elevada nesse signo encontra livre espaço para a fluência do amor. Não mais o amor que virou posse, não mais o amor de conveniência, mas, sim, o encontro mágico de duas almas afinadas numa mesma sintonia, que é o canto que vem do alto, do Criador do Universo. Para a polaridade invertida, no reino das ilusões, observamos também casos tristes de vampirismo, sacrifício inútil e manipulação, mas é como o ditado diz: "quanto mais alto, pior a queda"; por isso é que uma das piores dores é a dor da desilusão.

E como saber se o que você está vivendo é verdadeiro? É simples, basta aproximar-se cada vez mais do Divino Mestre, que ele lhe mostrará o caminho. As pessoas ficam querendo viver um grande amor, sem entender que é necessário ligar-se na fonte do Amor Maior; sem aprender a se colocar na sintonia certa a fim de atraí-lo para a sua vida. Portanto, fica claro o processo evolutivo necessário para alcançar a compreensão e a vivência dessa benção, seja através de um romance, de um filho ou de uma amizade.

Essa experiência de contato transcendente, que se inicia em Vênus abrindo as portas do amor encantado, tem um desdobramento crescente, que pode ir se intensificando se as pessoas envolvidas agüentarem. Quem dá continuidade ao processo é Netuno, regente de Peixes, que se exalta em Leão. Aqui, no signo que rege o coração, temos o derramamento da energia amorosa em forma de alegria e luz. É aqui, também, que muitas pessoas se assustam com a intensidade da vivência e fogem apavoradas, ameaçadas com a possibilidade de perderem o seu ego. Provavelmente, vão passar o resto das suas vidas lamentando secretamente não terem tido a coragem suficiente para lidar com a situação. E é indispensável buscar a coragem, quando é o próprio Sol, regente de Leão, em sua exaltação em Áries, que dá a continuidade ao caminho "real" do amor.

Real no sentido de realidade ou realeza?... Nesse caso, tanto faz, pois o amor verdadeiro tem o poder da inteireza: quando ele está presente, ele é a realidade. E como nos fala o texto de abertura dessa matéria: "somente gente fina pode ter um grande amor".

O Sol exaltado em Áries pode ser sintetizado na frase iniciática: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" ( João XIV-6). Revela que a subida em direção à Luz se dá sempre com muita luta, quebrando os grilhões da acomodação e do medo. O livre-arbítrio é um dom que Deus deu a todos, assim como o Sol nasce todos os dias, porém é necessário ter impulso guerreiro e ousadia para conquistá-lo. E a entrega amorosa só pode ser feita se a pessoa já tiver conquistado o seu território interior; afinal, só se pode dar aos outros aquilo que se possui.

Portanto, passado o momento do êxtase proporcionado pelo contato com o amor infinito, as pessoas envolvidas precisam individualmente enfrentar e vencer o desafio de integrar esse acontecimento à sua própria vida. O perigo está no fogo que aqui predomina e pode alastrar-se em paixão flamejante, principalmente quando a sexualidade está envolvida.

É o tempo que vai permitir que o processo tenha uma continuidade e um amadurecimento, conforme é indicado por Marte, regente de Áries exaltado em Capricórnio, que é quem continua conduzindo com determinação, o caminho de subida em direção ao topo. Marte exaltado em Capricórnio nos mostra a seriedade com que essa vivência incomum deve ser encarada. É o pulso firme da vontade interior, que segura o alvoroço provocado pelo encontro transpessoal. Ensina a importância da disciplina interior, para que seja possível a construção da ponte que leva ao relacionamento duradouro. Uma relação assim pede dedicação, pois tanto se apresenta como uma benção, como também uma responsabilidade, por aquela outra alma amiga. O Capricórnio mostra o trabalho de aprimoramento constante, que será necessário para reorganizar, com calma, as novas fronteiras psíquicas, em cada um e conjuntamente.

Com isso, chegamos ao regente de Capricórnio, Saturno, que se exalta em Libra, o signo do casamento e das amizades duradouras, que só serão possíveis onde houver um senso de justiça, para intermediar as diferenças que vão aparecendo com o passar do tempo no relacionamento. Saturno em Libra nos dá uma chave fundamental sobre a questão da responsabilidade, que só pesa se a pessoa fizer alguma coisa que ela mesma considera errada.

É interessante observar que no final desse caminho para o amor tudo desemborca numa aliança, de ouro ou não, que já vinha sendo mostrada desde sempre pelos anéis de Saturno, um planeta tão bonito astronomicamente. Só que é uma aliança diferente daquela que vem diretamente por Vênus em Libra, pois como Vênus é regente de Libra e se exalta em Peixes, então, podemos começar tudo de novo, quantas vezes quisermos.

Mas a descoberta de Netuno, ainda relativamente recente, é que veio complementar essa seqüência, que ainda não tinha se revelado em sua plenitude para a humanidade.

Que o amor de Vênus encontra a sua expressão máxima em Peixes, é um saber antigo e que pode ser muito bem observado, no apogeu da Era de Peixes, em plena Europa medieval, onde era comum que os cavaleiros que partiam para as Cruzadas, ou mesmo ao participar de um torneio, dedicassem a sua vida a uma amada dama, que na maioria das vezes já era comprometida. Ou seja, era um amor platônico, que era vivido só no sonho e na fantasia, o ideal inatingível. O contexto econômico e cultural daquela época favoreceu esse tipo de romantismo, porque a grande riqueza era a terra; e para que ela não fosse dividida entre vários herdeiros, só o primogênito tinha o direito a se casar, ficando todos os outros filhos impedidos de manter qualquer relação amorosa estável. Daí, juntava aquele bando de homens inquietos, que inevitavelmente iriam extravasar a energia lutando entre si, enquanto sonhavam com amores impossíveis. Era a época em que o eixo Peixes/Virgem demonstrava uma dificuldade de integração das polaridades, com o amor espiritual (Peixes) não podendo ser materializado e vivenciado no dia a dia (Virgem). A descoberta de Netuno em 1846, porém, já se deu num outro momento histórico, em que o eixo da era - Peixes/Virgem - como um pêndulo, pendia agora desequilibrado para o lado de Virgem, gerando uma visão mecanicista do universo, visão esta que tendia a ignorar o lado sensível e misterioso da natureza (inclusive da natureza interior).

E Netuno veio como um "mágico", que guardava uma carta fantástica na manga para o final do espetáculo, reequilibrando lentamente esse eixo, de novo em direção a Peixes, fazendo reviver de dentro da fogueira das vaidades, um anseio real por um sentido mais pleno de vida e fazendo desabrochar novamente a flor mística dos grandes amores.

Então, no século em que Netuno se revela, vem o romantismo com força total, e os estudos espiritualistas surgem sincronicamente, dando o embasamento para toda essa mística (Peixes) ligando-a aos encontros mágicos, que seriam, na verdade, reencontros de vidas passadas.