Ela já acordou de manhã planejando encher o dia todo sem parar, de modo a de noite, bem cansada, cair na cama e apagar direto. E não deu outra. Quando se viu adormecer nem acreditou, era a felicidade total, e chapou sem ter tempo de contar até cinco.
Duas horas depois, entretanto, ela acordou. Ficou bem quietinha sem mexer um braço, os olhos fechados para ver se driblava a insônia, mas assim ficou horas, até que às quatro e meia decidiu levantar. Foi para sala, fumou, leu, voltou para cama. E quando acordou, já acordou planejando encher o dia todo sem parar para de noite, bem cansada, cair na cama e apagar direto. Se alguém perguntasse o que lhe tirou o sono, não saberia responder, se está preocupada ela também não saberia dizer, pois a insônia não é generosa. Ela não nos diz nada, não nos dá informação alguma a não ser a de que somos ignorantes naquele determinado momento para o entendimento do que se passa conosco. A insônia só nos diz toda noite: "você não está bem... você não está bem... você não está bem... Acorda, criatura!". Só que com isso ela é também a nossa grande aliada, uma vez que está sinalizando que é justamente preciso acordar e ver que algo está errado dentro de nós. Não é por acaso que invade nossas noites como um guardião a nos dizer que talvez estejamos sendo levados pela vida, de olhos fechados e com o pensamento embaçado, entorpecido diante de algum impasse.
Assim ela nos desperta, nos chama, quando estamos caminhando, sem perceber, para um resultado de alienação, de desconhecimento do limite de nós mesmos. É nesses momentos que a insônia vem para nos dar o aviso: "É URGENTE, ACORDA CRIATURA, NÃO DÁ PARA ESPERAR A VIDA TODA!".
