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A TERAPIA É ALTERNATIVA;
O DIAGNÓSTICO, NÃO

Carlos Roberto Haddad

Um dos maiores problemas nas terapias alternativas é a questão do diagnóstico. As terapêuticas oficiais baseiam-se em diagnósticos oficiais. E as alternativas, quase sempre, também: o Do-in e a Acupuntura têm pontos para enxaqueca e gastrite; a Cromoterapia tem cores para cólicas e eczemas; certas posições do Reiki e da Cura Prânica curam hemorróidas e artrose nos joelhos; a Biodança e o Shiatsu resolvem a depressão... Estas são apenas algumas das infinitas possibilidades de benefício das terapêuticas alternativas. No entanto, todos esses nomes de patologias são emprestados. Via de regra, os livros e cursos sobre terapias alternativas acabam fornecendo uma listagem associando a patologia oficial com a terapêutica alternativa.

Se considerarmos os dois casos em que a terapêutica alternativa é mais procurada, que são as pessoas insatisfeitas com os resultados obtidos pelos meios convencionais e as que querem evitar os meios empregados oficialmente, como os remédios ou cirurgias, então seria conveniente, em ambos os casos, que se utilizasse de um diagnóstico alternativo. Se utilizarmos as terapias alternativas com outra visão, teremos maiores oportunidades de sucesso.

Quando falo de outra visão, não me refiro à noção primária de "energia"- falta de energia, excesso de energia ou energia em desequilíbrio. O uso de tais expressões são muito genéricas pois, no fundo, toda terapêutica consiste em manipular energia, seja na acupuntura, na bioenergética, nas ervas ou até com orações. Por si, são insuficientes para uma boa diagnose.

Mesmo as teorias que se propõem a tratar a diagnose - auriculodiagnose, reflexologia, iridologia e até a fotografia kirlian - envolvem-se, por vezes ingenuamente, com o discurso oficial.

Essa prática - associar terapia alternativa com diagnose não alternativo - é necessária para leigos no assunto, mas os terapeutas deveriam ter um diagnóstico também alternativo. Veja assim: agimos conforme pensamos. Observe um espirro. Se você achar que o paciente tem um vírus querendo entrar, proporá terapêuticas de combate. Se vir o caso como fraqueza do organismo, procurará fortalecê-lo. Se compreender como a influência de um espírito obsessor, promoverá passes ou algo similar. Se achar que o ambiente está retirando a energia, tentará energizar o ambiente ou compensar a perda. Se pensar como friagem, procurará protegê-lo do frio. Se o diagnose oficial, feito dentro de uma ótica analítica por profissionais, geralmente, muito bem preparados, não deu conta da questão, considero muito coerente que busquemos alternativas tanto para o diagnose quanto para a terapia.

Os mais conhecidos sistemas para pensar o ser humano, que consolidam um sistema alternativo de diagnose e terapia, são: o vedanta (trilógico, apoiado em kappa, pita e vata), o aristotélico (com os quatro elementos) e a teoria oriental dos cinco elementos (ligado à Acupuntura, Shiatsu, Do-in e Moxabustão), sendo este o mais divulgado. Estes sistemas até que têm sido bastante comentados, mas a visão dicotômica da mentalidade ocidental, comum a todos nós, dificulta a visão holística, dominante nesses sistemas.

Para reduzir a influência dicotômica da nossa cultura e podermos nos aproximar mais desses sistemas, costumo sugerir que o estudante descarte todas as explicações dicotômicas, tais como espírito/corpo, consciente/inconsciente, razão/intuição - pois elas não têm espaço nesses sistemas. Se o leitor conseguir pensar o ser humano sem essas divisões, terá chances de compreender como as teorias antigas pensavam. Se não, será mais um a traduzir o yang/yin como positivo/negativo, homem/mulher, alto/baixo, movimento/inércia. Como conseqüência, após ter desenvolvido a teoria, terá necessidade das tão comentadas "tabelinhas".

Quanto ao par yang/yin, cabe comentar que, quando traduzido como positivo/negativo e relacionado com os pares acima, não dão conta da mensagem original. Qualquer um que conheça a teoria sabe que podemos ter, ao mesmo tempo, excesso yin ou excesso yang no mesmo organismo; falta dos dois; falta ou excesso de um e o outro em equilíbrio. Yang e yin não são antagônicos e complementares. São apenas complementares e paradoxais. Nenhum par antitético serve para pensá-los, pois pares antitéticos sempre são auto-excludentes, enquanto yang e yin sempre coabitam. Nenhum organismo é masculino e feminino ao mesmo tempo, nenhuma solução química têm excesso de cargas positivas e negativas, nenhuma hora do dia é muito clara e muito escura simultaneamente, mas yin/yang estão presentes em todos essas manifestações.

A meu ver, os diagnósticos convencionais e alternativas são, a exemplo do yang/yin, apenas complementares e paradoxais, e não antagônicos e complementares.