Artigos

TRANSFORMAÇÃO E MUDANÇA:
VIAS DE EVOLUÇÃO

Paula Salotti

Transformação e mudança... Duas palavras de significados semelhantes, mas que encerram propostas bem diferentes quando atuam em nossas vidas. Com certeza, qualquer um desses processos nos leva a crescer, melhorar e evoluir, mas é importante compreender as sutis diferenças que estão por trás desses efeitos, que no simbolismo astrológico estão relacionados respectivamente aos planetas Plutão e Urano.

A compreensão do significado individual de cada um desses planetas nos levará a perceber os processos marcantes e transformadores que atuam em nossa vida, mas que devem ser encarados com posturas totalmente diferentes. Assim, quando pensamos no que significa uma transformação, precisamos evocar a simbologia plutoniana. Transformar é mais que mudar; é alterar a forma de algo que existe. Se você faz uma simples mudança, você troca uma camisa azul por outra amarela; mas que tal incrementar a camisa azul, tornando-a totalmente diferente? Essa é a proposta plutoniana, ou seja, você não pode simplesmente trocar, cansar, enjoar, substituir. Aqui, é necessário conhecer profundamente o que se possui, seja um objeto, um sentimento ou uma situação e, a partir daí, regenerar, transmutar, alcançar uma oitava acima (ou, às vezes, uma abaixo).

Imaginemos as alterações plutonianas como um movimento espiral. Dentro de uma mesma situação somos atirados em vários níveis, e é nesses momentos que conhecemos os extremos do Escorpião, vivendo do mais elevado e transmutado dos sentimentos, ao mais cruel e insidioso desejo. Assim, no processo de transformação, nada essencialmente novo entra em nossa vida; o novo terá que vir do que há de mais velho e conhecido. Grandes descobertas são feitas nesses momentos, já que no processo de transformação somos obrigados a uma profunda interiorização e, como num vulcão, tudo que está latente, ou mesmo adormecido, é lançado à superfície de uma forma intensa.

No Tarot encontramos esse simbolismo retratado no Arcano XX, "O Julgamento", que, apesar de ser um arcano que indica mudança, esta surge sempre a partir de algo conhecido do passado. Não importa se de um passado recente ou de um vínculo de vidas anteriores, mas a situação que se apresenta sempre nos é familiar. Assim é o efeito Plutão. A casa que este planeta ocupa no mapa natal ou em trânsito recebe sempre uma semente plutoniana, que, por mais que tenhamos a ilusão de tê-la eliminado, um dia ressurge das cinzas. Plutão nunca vai embora de vez.

Agora, se o assunto é mudança, a história é outra. É Urano que rege as mudanças radicais, o absolutamente diferente, o novo. A sensação mais comum num trânsito de Urano é o sentimento de que você foi dormir de um jeito, com tudo em sua vida arrumado e sob controle e, ao acordar, nada mais está como antes, a vida virada de cabeça para baixo. Enquanto no processo de transformação lapidamos algo que existe, nos processos de mudança trocamos de panorama e somos atirados em situações que jamais vivenciamos antes. A sensação de deja vu, tão comum em situações plutonianas, aqui é substituída pela perplexidade e espanto, sentimentos freqüentes nos processos uranianos, já que tudo que surge nesses momentos em nosso caminho é diferente, original, ímpar.

No Tarot encontramos o Arcano XVI, "A Torre" , que é o que mais reflete mudanças radicais, ou mesmo a quebra de estruturas existentes. É de se esperar que "A Torre" seja um dos arcanos mais temidos, já que indica um processo após o qual nada mais será como antes: nenhuma estrutura rígida ou acomodada se mantém diante do processo representado por Urano e pela Torre, a mudança.

Assim como com "O Julgamento" e Plutão imaginamos um vulcão cuspindo suas lavas do interior, com "A Torre" e Urano vemos terremotos jogando por terra tudo que era aparentemente sólido e inabalável. Num processo uraniano de nada adianta a experiência conhecida, a segurança conquistada. Logo você irá sentir como se estivesse num país diferente, numa outra cultura, aprendendo tudo do zero.

De qualquer forma, quando lidamos com esses símbolos entramos em contato com forças coletivas que em certos casos chamamos de kármicas. No fundo, a grande sabedoria para lidar com tais situações é praticarmos a "passividade ativa" que o zen nos ensina e não criarmos nenhuma resistência aos desígnios da vida.

Essas forças são como um grande oceano a nos atrair, e nesses momentos somos nele atirados. Os mais sábios percebem logo que a melhor atitude nestas circunstâncias é boiar e deixar que a correnteza os leve para algum lugar, o melhor lugar. Assim não se cansam e, quando menos esperam, chegaram à praia. Já os afobados, que acham que o poder pessoal está acima de tudo, geralmente não reconhecem o chamado do momento e tentam nadar contra a correnteza com todas as forças. Claro que o resultado deste esforço por lutar contra algo muito maior do que si é o cansaço, a fadiga, e, em decorrência, o afogamento.