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TITANIC: O NAUFRÁGIO DE UM MITO

Otávio Azevedo

"Para mim o Titanic significa que o homem é arrogante e pensa que pode ir além do que realmente pode. Quando o homem disse que o navio não poderia afundar jamais, Deus respondeu: ‘Vai afundar, sim.’ Nós não devemos dizer coisas assim, porque dependemos da vontade de Deus. E Deus estava comigo naquela noite." (Eva Hart (89 anos), sobrevivente do naufrágio, na época com 7 anos)

Recentemente lançado, o filme Titanic, de James Cameron, acontece sob o mesmo panorama astrológico que ocorria quando se deu o acontecimento real. Estou falando da trajetória de Urano em Aquário, trânsito relacionado às quebras dos mitos inventados pelo Homem, especialmente aqueles que pregam algum tipo de controle sobre o inexorável fluxo mutatório da Natureza. Na passagem anterior a esta que vivenciamos, pouco após Urano ingressar no seu próprio signo, o naufrágio do Titanic abalou a humanidade, não só por ter sido um dos piores desastres criados pelo Homem, mas em parte por levar junto o mito de que se possam construir obras perenes, imunes ao tempo e ao próprio fluxo de vida-morte-renascimento da Natureza. Agora, após dar uma volta completa no Zodíaco por cerca de 85 anos, Urano retorna ao seu próprio signo, e enquanto rondava o mesmo ponto em que se posicionava naquela noite trágica, Cameron reproduzia as imagens que mostram derrocada do Homem quando quer se tornar um deus. Urano em Aquário eleva ao quadrado as possibilidades de quebra da arrogância do Homem quando pretende controlar a impermanência da vida. Neste sentido, pode ser comparado com a manifestação do arcano "A Torre" do Tarot. E foi sob este panorama que se deu a saga do Titanic.

Sem dúvida, quando Urano passa por Aquário marca uma época de muitas descobertas, muitos avanços. O planeta da quebra de padrões sempre conduz o Homem a novas verdades, abre novos caminhos, e possibilidades inusitadas costumam surgir: Assim como agora já tivemos o contato com a clonagem e outras inusitadas revelações científicas, naquela época acontecia a Teoria da Relatividade, que revolucionava todo o pensamento científico até então. E nisto, uma certa ironia: por um lado, uma lei que demonstrava como a vida é relativa. E por outro, uma crença humana em coisas absolutas, como o conceito de indestrutibilidade incorporado pelo Titanic. A nível de mitos e fatos, tínhamos montado o cenário para um dos acidentes de maior impacto na história da humanidade.

Aquele ingresso anterior de Urano em Aquário deu-se na segunda década deste século. Naquela ocasião, o Titanic, o maior, melhor e mais luxuoso meio de transporte jamais construído pelo homem, incorporava o mito da imortalidade: era "insubmersível". Este conceito estava coerente com o crescente otimismo gerado pelos avanços tecnológicos que a humanidade vinha conquistando na época a passos largos. Naufragou na viagem inaugural, após colidir com um iceberg no Atlântico Norte, tornando-se o mais significativo desastre produzido pelo homem neste século. Não apenas por destruir um fenômeno da engenharia naval e a vida de 1.523 pessoas, mas, principalmente, por aniquilar este mito, de que os homens possam elaborar obras perfeitas, e de que exista uma forma de congelar o natural fluxo de criação, destruição e renascimento da Natureza.

O transatlântico partiu de Southampton, em 10 de Abril de 1912, às 12 horas e 15 minutos. O mapa astrológico da viagem contém algumas posições que, individualmente, indicam apenas contratempos e dificuldades; no entanto, combinadas, formam um quadro preocupante, mostrando a possibilidade de desastre: Netuno no grau dos Nodos e em quadratura a eles e ao Sol; Marte (regente da Casa-10, o destino) em quincúncio a Urano (regente da Casa-7, a viagem); Mercúrio - indicador de comunicações e viagens - retrógrado, na Casa-10; Saturno - símbolo de quedas, obstáculos e afundamentos - interceptado nesta mesma Casa-10. Além disso, a Lua está na condição de "Fora de Curso" e Júpiter, planeta que rege as grandes viagens - como era o caso - também está retrógrado, indicando que alguma coisa poderia "dar para trás", naquela que era a mais pomposa e importante viagem internacional da época.

O grande trígono de Júpiter ao Ascendente (que representa o navio no mapa da viagem) e ao Sol (o capitão) descreve a super-confiança naquela viagem e a sua grande reputação. Era o mais badalado e luxuoso cruzeiro marítimo que já tinha sido feito até então. O Titanic foi construído para ser o máximo em tudo: luxo, tamanho, conforto, velocidade e segurança. Reflexo do Ascendente Leão em trígono a Júpiter e ao Sol. Mas, com Júpiter e Mercúrio retrógrados - significadores de viagens - estas promessas poderiam dar para trás.

O simbolismo de Júpiter na Casa-5 (jogos e diversões), e o seu alegre trígono ao Ascendente, descreve os passageiros da primeira classe e sua atitude em relação à viagem. Obter uma passagem para esta viagem inaugural era um símbolo de prestígio e status. Havia um mercado negro para ingressos e muitas pessoas pagaram um alto ágio pelos mesmos. Quanto à viagem, havia um grande interesse na velocidade do navio, um dos fatores determinantes da colisão. O capitão - Edward Smith - estava bastante ansioso para estabelecer o novo recorde e, imprudentemente, aumentou a velocidade após o navio ter ingressado num campo de gelo. Ele tinha recebido avisos de que haviam icebergs na área, mas preferiu ignorá-los. Esta super confiança e a ânsia de vencer é indicada pelo Sol no signo de Áries em trígono a Júpiter. Desafortunadamente, este mesmo Sol em Áries (o capitão) fazia também uma quadratura a Netuno (a falha, o inesperado, a confusão).

Uma curiosa cegueira ou ilusão (ainda a quadratura de Netuno ao Sol combinada com Mercúrio retrógrado) tomou conta de todo processo. Os binóculos de longo alcance que eram parte dos equipamentos não foram colocados a bordo e, desta forma, não se podia enxergar icebergs à noite. Também não haviam suficientes salva-vidas, provavelmente porque se julgava o navio "insubmersível". Uma advertência de outro navio dando a posição exata do iceberg foi deixada esquecida na mesa do operador até ser entregue ao capitão; quando o foi, o transatlântico já estava em cima do bloco de gelo. E, pior de tudo, é que o Titanic, para ser "insubmersível", fora projetado com compartimentos estanques, de modo que se a água entrasse, ficaria confinada num compartimento apenas. No entanto, não eram invioláveis por cima, mas apenas pelos lados. O Titanic não colidiu frontalmente: como um punhal de gelo, o iceberg rasgou o fundo do casco. Assim, a água foi passando do teto de uma câmara para a próxima, então inundou a caldeira e, finalmente, o navio inteiro.

O Titanic colidiu com o iceberg quatro dias após a partida, em 14 de Abril de 1912, um domingo, às 23 horas e 37 minutos. Enquanto as pessoas tentavam se salvar, a orquestra tocava "Nearer, My God, to Thee" (Mais Perto de Ti, Senhor). Apesar do pânico, havia um cavalheirismo compulsório, e as mulheres e crianças tinham a preferência dos poucos salva-vidas existentes. Naquele exato momento havia um Yod, configuração fatídica formada por dois quincúncios (ângulos de 150o ) com um sextil de base, apontando para o Ascendente (o navio). O Yod, que é também chamado de "Dedo de Deus" ou "Dedo do Destino" tinha na base em sextil a combinação Saturno-Netuno (bloco de gelo, o iceberg). O "Dedo do Destino" era o iceberg, apontado para o Titanic.

Eram 2 horas e 25 minutos do dia 15 de Abril de 1912, quase 3 horas após a colisão.

No Céu, Urano estava cruzando a linha do Ascendente no signo de Aquário, enquanto Caput Algol, a estrela maléfica, posiciona-se exatamente no nadir, no exato ponto médio do sextil Mercúrio-Plutão, que formava um outro Yod apontando para o Meio-Céu (o destino da viagem). Era um segundo "Dedo do Destino", agora apontando o zênite.

Na Terra, o Titanic mergulha nas águas gélidas do Atlântico Norte, levando consigo os mitos da perfeição e da indestrutibilidade, reflexos do eterno anseio dos homens por um dia chegarem a deuses.