O QUE TEME O PAPA?

Otávio Azevedo

Em recente viagem à Eslovênia, o papa João Paulo II, em sermão, advertiu os jovens para os “perigos” da Astrologia e do Ocultismo. Trêmulo, em decorrência do Mal de Parkinson que lhe ataca a mão esquerda, o papa disse que a Europa precisa de santos, e não de adivinhos, referindo-se aos astrólogos. No seu sermão, João Paulo II advertiu os jovens para “deixarem de se encantar pelo oculto ou procurarem nos astros sinais do seu destino”.

Apesar da sua aparência arqueada pelos anos, o que denota um lutador incansável pelos rumos da entidade que dirige, João Paulo II não têm autoridade para falar de Astrologia, e muito menos para condená-la. Com toda certeza, ignora o assunto... ou será que João Paulo II conhece a Astrologia em profundidade e emite opiniões fundamentadas em estudos profundos acerca do tema?... Claro que não! Trata-se de preconceitos, dogmas e interpretações tendenciosas das escrituras bíblicas.

Apesar de ser o representante máximo da Igreja Católica e do peso dos anos que carrega, João Paulo II carece da prudência e sabedoria que lhe levariam a investigar detidamente um assunto que desconhece antes de emitir pareceres e dar conselhos sobre o mesmo. Em decorrência, seu discurso reflete visões petrificadas, às quais não permitiu que se diluíssem pela abertura sábia àquilo que não entende e não quer entender.

Se João Paulo II tivesse estudado a Astrologia, poderia compreender muitas coisas que, infelizmente, parece não considerar. Saberia atribuir significado aos inúmeros sintomas físicos e acidentes que vem colecionando desde a sua posse, já que nada neste mundo ocorre por acaso. Saberia que no incidente do tiro que lhe vitimou houve uma profunda mensagem. Deus - como afirma a própria Igreja - está em tudo. Logo, estava também no turco que lhe baleou... E um incidente como este encerra uma riqueza de informações simbólicas!

Se João Paulo II conhecesse Astrologia, saberia que o acidente que lhe partiu o fêmur fala de intolerância e preconceito. Através da Astrologia, saberia que o fêmur está ligado ao signo de Sagitário, relacionado à filosofia, à visão da vida e à abertura da mente. Uma fratura neste osso simboliza extrema rigidez nessas áreas, daí a fratura, um aviso de que é necessário romper essa rigidez. Esta mesma mensagem aparece no seu mapa natal, através de um stellium de planetas na Casa-09 em Touro, que, entre outras coisas, pode indicar essa rigidez e teimosia nos pontos de vista, sem capacidade de fluir e abrir-se a novas verdades, ou àquelas que desconhece. É por conta desta mesma rigidez, que o papa continua a atrelar-se a certos dogmas ultrapassados da Igreja, como a proibição do uso de contraceptivos.

Se tivesse estudado Astrologia, João Paulo II saberia que o tremor da sua mão esquerda, em decorrência do Mal de Parkinson, revela temor. Afinal, só tremem aqueles que temem... E o que teme João Paulo II? A Astrologia? O Ocultismo? Ou o inexorável declínio da Igreja Cristã, diante de uma nova era que se descortina, e que sem nenhuma dúvida irá abrir novas vias de conhecimento.

Na verdade, é o conhecimento que a Igreja mais teme, e sempre temeu. Convém à Igreja que o homem não busque muito a sua própria verdade, já que a fé cega depende disso. Não foi à toa que a Inquisição e os anos negros da Idade Média mantiveram todo conhecimento possível sob o controle da Igreja. Milhares morreram ou foram ameaçados pelo simples fato de que traziam boas novas. Aniquilaram-se aqueles que descobriam verdades científicas que hoje são inquestionáveis. No entanto, apesar de tudo, a Igreja parece ainda querer impor os mesmos métodos. Já que não pode mais questionar a Ciência, vira-se agora para outra direção. Felizmente, no entanto, hoje já não se pode dizimar aqueles que trazem boas novas.

Como disse a “Revista Veja” na sua edição de 22 de maio, espiritualmente os últimos anos do pontificado de João Paulo II têm sido um vácuo: a Rússia e o Leste Europeu não se reconverteram ao catolicismo, as religiões evangélicas drenam o rebanho na América Latina e o avanço do capitalismo e da urbanização estoura os costumes e a moral cristã. Adoentado e envelhecido, o papa parece sem forças para tirar a Igreja desse vazio.

Se tivesse estudado Astrologia, João Paulo II saberia que a humanidade encontra-se no advento da “Era de Aquário”, onde novos modelos substituirão aqueles que sustentaram a “Era de Peixes”, em cujo solo vicejou a Igreja Católica. Agora, no novo modelo que se descortina, a Igreja está diante do máximo desafio de sua história: ou passa a considerar e incorporar as novas formas de conhecimento que tanto lhe ameaçam adaptando-se ao novo paradigma, ou continuará a caminhar cada vez mais para o vazio.