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REUNIFICANDO AS SUB-PERSONALIDADES

Paula Salotti

Você já parou e perguntou ao espelho: "Quem sou eu? O que realmente desejo, sinto e busco realizar na vida?"... Para essas perguntas podem surgir milhões de respostas, já que em nosso interior habitam seres radicalmente diferentes, com desejos, ambições, medos e vontades próprias. Todos carregamos uma multidão conosco e, diante de tantas solicitações, nos perguntamos a qual voz vamos seguir, em qual delas podemos acreditar?

Na prática da astrologia é comum nos depararmos com as várias facetas da nossa personalidade, representadas pelos planetas natais, algumas delas mais ativas em decorrência de trânsitos e progressões. Para que uma energia não tome o lugar da outra, é importante termos em mente que possuímos um "Eu Central" (simbolizado no mapa pelo Sol) que é a nossa essência, o que verdadeiramente somos, mas que nem sempre podemos expressar, devido a pressões sociais e familiares ou porque estarmos confusos e ocupados demais servindo a outras exigências interiores que residem em nós.

Mas o que fazer quando cada faceta do nosso ser solicita coisas diferentes simultaneamente?...

Algumas coisas podem acontecer! Como dizia Jung, "tudo que negamos em nosso ser aparece do lado de fora, e damos a isso o nome de destino". Portanto, o mais comum é que na incapacidade de administramos tantos seres "rebeldes", acabemos por "escolher" pessoas e situações em nossa vida que proporcionam manifestações desse nosso mundo interior reprimido. Assim, aquele que possui dentro de si um ser feroz, agressivo, irritado, mas que não consegue harmonizá-lo com o seu Eu Central, pode passar a vida encontrando feras pelo caminho.

Inspirando-nos na psicossíntese, de Roberto Assaglioli, podemos fazer um estudo dentro do que ele chamou de sub-personalidades, onde, com um pouco de introspecção, podemos buscar conscientemente o contato com nossos habitantes interiores, vivenciando-os ao invés de vê-los atuar através de pessoas e circunstâncias que entram em nossa vida. Para isso, a primeira postura que devemos adotar é a do observador: sinta-se assim em relação a você mesmo! Relaxe e em sua imaginação dê um passo atrás e procure se ver por inteiro: o ângulo mais bonito, o mais feio, onde você é alegre, extrovertido, que situações o levam à timidez ou geram medo e insegurança. Então, escolha uma faceta, de preferência aquela que mais lhe tem incomodado por se negar a integrar-se com o resto. Aqueles que trabalham com o mapa natal podem fazer a escolha baseados nas suas posições planetárias ou nos aspectos do mapa. Por exemplo, se você tem uma quadratura Vênus-Plutão e sente que atrai relacionamentos possessivos, dominadores e, às vezes destrutivos, então o primeiro passo é reconhecer e aceitar o fato. O segundo é tentar imaginar uma forma ou figura que represente esta situação. Deixe que uma imagem se apresente naturalmente, permitindo que as sensações que esta sub-personalidade evoca, estimulem a mente. De repente ela começa a tomar uma forma. Pode ser uma pessoa, um objeto, ou uma cena completa que se forma. Preste atenção a cada detalhe e quando sentir vontade, converse com a situação que se apresentou e procure perscrutar seus sentimentos em relação ao que esta manifestação provoca em sua vida. Por exemplo, se no caso de Vênus-Plutão surgir uma mulher fatal, vampe, vestida de preto, com longas e afiadas unhas, batom vermelho, com ar desafiador e provocante - procure se relacionar com ela, pergunte o que deseja, expresse o que você acha sobre o seu comportamento, e tente sentir que espaço ela está ocupando em sua vida, se é com o seu consentimento ou não. Quando acabar este exercício, escreva ou grave numa fita as impressões, sentimentos e detalhes que ocorreram.

Este simples fato de evocarmos a manifestação de uma faceta interior tem o poder de transmutar este padrão, levando-o para o nível da imaginação e simulação, e muitas vezes dissolvendo situações existenciais que, para a vida, têm a mesma finalidade que o exercício acima, ou seja, levar o indivíduo a contactar com os seres e situações que habitam no seu interior. Assim, ao lidar com a situação diretamente - mesmo que apenas no nível imaginário - o indivíduo estará aliviando a pressão interior produzida por tais padrões.

Para os que lidam com a astrologia, pode-se usar o significado básico dos planetas (que representam os atores da nossa "peça"), para fazer as seguintes perguntas: "Quem sou e como me saio quando: tenho que expressar meus sentimentos, cuidar das pessoas, viver na intimidade? (Lua); quero me comunicar, mostrar o que sei, perguntar o que não sei ? (Mercúrio); desejo expressar minha agressividade, mandar, comandar, correr atrás do que quero? (Marte), etc."

Isto é apenas o início. A partir daí, diversas perguntas podem ser feitas em função do que sentimos em relação a cada faceta do nosso ser. E a questão principal nesta prática é que todos estes nossos lados trabalhem para o nosso Eu Central, aquilo que verdadeiramente somos. Da mesma forma como todos os planetas gravitam ao redor do Sol, todos as nossas facetas devem girar em torno deste Eu Central.