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A DANÇA DOS CALENDÁRIOS

"Nada aconteceu no mundo de 5 a 14 de Outubro de 1582. A Terra não girou, os pássaros não cantaram, ninguém nasceu, ninguém morreu. Tudo porque após a meia noite do dia 4, começava o dia 15 de outubro. Por decreto, é claro!"

A arte de medir o tempo sempre foi uma das mais importantes na vida do homem antigo, uma vez que suas atividades cíclicas, como o plantio e a criação, estavam intimamente ligadas aos ciclos das estações. Uma das tentativas mais remotas de se estabelecer um calendário organizado veio dos babilônios, que criaram um com 12 meses de 30 dias cada. Mas foram os egípcios que estabeleceram o ano de 365 dias, vinte e cinco séculos antes de Cristo, baseando-se na variação dos pontos em que o Sol nasce e se põe no horizonte conforme a estação do ano. Este processo também foi adotado pelos antigos bretões, que construíram colunas de pedra em Stonehenge (1500 a.C.) para marcar tais pontos. Como o controle do tempo era uma atividade de grande importância nas sociedades primitivas, nada mais natural que fosse considerada uma espécie de arte sagrada, exercida por sacerdotes.

Apesar de que o ano egípcio de 365 dias fosse uma excelente aproximação do ano verdadeiro, era, no entanto, seis horas mais curto do que este. Com o correr dos séculos, esta diferença acabava convertendo-se num erro de dias, depois de meses, quando se procurava marcar com uma data o início real das estações. Esta mesma confusão ocorria entre os romanos, e foi por isso que no ano 45 a.C., conforme orientação do astrônomo Sosígenes de Alexandria, o imperador Júlio César estabeleceu o chamado "Calendário Juliano", que fixava o ano em 365 dias e 1/4. Como não podia haver um dia fracionário, convencionou-se que a cada 3 anos de 365 dias se seguiria um ano de 366 dias, o chamado ano bissexto.

Apesar da inovação que corrigia as diferenças acumuladas, ainda assim o ano do "Calendário Juliano" tinha 11 minutos a mais do que o ano real, uma vez que a revolução da Terra em torno do Sol dura exatamente 365 dias, 5 horas e 49 minutos. Ao longo dos séculos, essa pequena diferença também foi-se acumulando e, por volta de 1582 este erro já era de aproximadamente 10 dias. Em 5 de Outubro deste ano, o Papa Gregório XIII ordenou então a eliminação dos dias excedentes, instaurando o "Calendário Gregoriano", em uso até hoje. Desta forma, o dia 5 passou a ser o dia 15 e, para evitar que voltassem a ocorrer acúmulos de erros como se dera no sistema anterior, o Papa determinou que as passagens de séculos (1600, 1700, etc) não fossem consideradas anos bissextos, exceto as divisíveis por 400, como ocorrerá agora no ano 2000. Com toda essa aritmética, conseguiu finalmente estabelecer uma concordância razoavelmente eficaz entre o ano real e o ano do calendário. Os programas de astrologia já fazem essas correções automaticamente, reconhecendo uma data do "Calendário Juliano" ou do "Calendário Gregoriano", conforme o caso. No entanto, deve-se alertar que a decisão do Papa Gregório não foi aceita prontamente, sobretudo por parte dos protestantes. Assim, a adaptação ao "Calendário Gregoriano" foi sendo feita de forma irregular, variando em alguns países, o que demanda uma verificação quando se lida com datas históricas dos últimos séculos.