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OS PERFUMES E A VOLTA DA ALQUIMIA

Neiva Brum

O uso dos aromáticos tem uma longa caminhada na história da humanidade, desde tempos imemoriais o homem instintivamente esfregava material perfumado no corpo.

Nos tempos antigos o perfume era utilizado para orar, curar, inspirar e conquistar. Eram altamente valorizados e trazidos em caravanas e navios. A canela da África, o cardamomo e nardo da Índia, gengibre, noz- moscada e açafrão da Indonésia.

Nas civilizações antigas do Egito, Mesopotâmia, por toda história greco-romana, apenas fragrâncias naturais eram conhecidas, e assim foi até o século XIX . O primeiro produto a ficar famoso na história dos perfumes foi a chamada água húngara, que apareceu em 1370, destilada do alecrim e complementada com outras essências. A "Água de colônia 4711" ficou famosa após 1710, secretamente ser passada de uma geração a outra - a receita do remédio que já em 1508 era preparado num estabelecimento em Santa Maria Novella. Naqueles dias, a água de colônia era usada não apenas com um produto de beleza ou de higiene, mas também como um autêntico remédio.

As misturas aromáticas por séculos preservaram uma aura de mistério e eram apreciadas por sua profunda repercussão no corpo, mente e espírito. Com a emergente química orgânica, as fragrâncias sintéticas foram aos poucos introduzidas no perfume. Os sintéticos foram vigorosamente promovidos e logo substituíram as essências naturais. Dessa forma foi promovido o crescimento do perfume e, com uma crescente demanda comercial e com grandes industrias produzindo artigos com marcas, deu-se o declínio do oficio praticado por perfumistas artesãos. Os perfumistas antigos seguiam os estágios do processo alquímico - separar, purificar, recombinar e fixar - mas a fabricação do perfume havia se mudado do atelier para o laboratório, literal e filosoficamente.

Assim, o "impulso vital" que só as essências naturais contém foi perdido e a arte da perfumaria esquecida. A sua proposta criativa, inspirada e sensual, foi sendo ofuscada pelos ingredientes sintéticos que compõem a maioria dos perfumes atuais que nada tem da fineza e inteireza das essências naturais e sua complexa química que não pode ser copiada pelo homem com fidelidade. Nos dias atuais a nossa sensibilidade está amortecida pela invasão de odores químicos comprometendo a habilidade de apreciar odores naturais. Como Paolo Roveste escreve em suas crônicas sobre o mundo dos perfumes: "Nós, que estamos imersos na artificialidade da vida moderna não conseguimos nos lembrar, sem nostalgia ou tristeza, daqueles presentes que a natureza coloca à disposição do homem, hoje negligenciados ou em desuso. Dentre eles estão os paraísos perdidos dos perfumes do passado e do espírito".

O perfume natural, vem resgatando o valioso legado da perfumaria desde o comércio das especiarias até as buscas realizadas pelos alquimistas.

O aroma nos revela sua capacidade inigualável de evocar nossas emoções mais profundas de forma delicada e harmoniosa, nos auxiliando a despertar o que temos de melhor. Consegue agir em nossos corpos pelo olfato e pela pele chegando ao seu destino - o centro nervoso - onde nossas memórias emocionais encontram-se armazenadas. Os efeitos de alguns óleos já são reconhecidos, tanto que a ciência moderna os tem analisado com sucesso e hoje sabemos que nenhuma parte do nosso organismo deixa de ser envolvida nas reações fisiológicas decorridas da percepção olfativa. Os perfumes naturais nos influenciam fisicamente e nos tocam psicologicamente. A mente e o corpo estão interligados, uma ligação tão intima que será muito difícil delinear de forma clara suas fronteiras.

Um aroma pode nos transportar instantaneamente ao passado ou nos arremessar para outro estado mental/emocional, mudando a nossa maneira de perceber o aqui e agora.
Parece magia? mas não é .
Trata-se de uma cadeia de reações fisiológicas de surpreendente complexidade. Através da inalação as moléculas odoríferas chegam aos receptores olfativos. A cada inalação os neurônios tornam-se disponíveis para processar a informação captada. Esses neurônios estão diretamente ligados ao sistema nervoso central. O perfume transmitido atinge o centro emocional do sistema límbico que é completamente desprovido de censura. Lá é imediatamente transformado em informações relaxantes, calmantes, estimulantes e inspiradoras, que são retransmitidas para todo o nosso corpo, influenciando tanto a atividade consciente quanto o sistema nervoso autônomo. O nariz é a única porta que conduz diretamente ao centro emocional.

O perfume personalizado é feito de acordo com as necessidades pessoais e o gosto de cada um, sendo cada perfume único por excelência e naturalmente exclusivos os seus efeitos.

As pessoas para as quais tenho feito perfumes personalizados relatam que se sentem melhor ao utilizá-lo, conseguem objetivar melhor o que querem e se sentem mais fortalecidas.

Através do uso contínuo, os aromas produzem diversos efeitos, auxiliando no desenvolvimento do ser.