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DIVERGÊNCIAS E PROPOSTAS DO TAROT

Giancarlo Kind Schmid

O tarot sempre foi um instrumento que despertou a imaginação dos seus pesquisadores. Por ter origens obscuras, sempre gerou uma grande especulação esotérica, palco de muitas divergências de opiniões, e os problemas envolvidos são sempre os mesmos: a criação do tarot, a alteração numérica das lâminas, as associações cabalísticas e astrológicas, a concepção artística e a metodologia aplicada nas consultas.

Naturalmente suas figuras trazem muitos mistérios à tona, deixando muitas perguntas no ar. Jamais devemos afirmar algumas coisas sobre o tarot, ainda mais porque nada temos de material concreto escrito e a maior parte dos estudos feitos, principalmente a partir do século XVIII, mais confundem do que elucidam.

Normalmente, o primeiro tema que confunde quem começa a estudar o assunto é exatamente o da criação do baralho. Alguns tarólogos e simpatizantes, por se sintonizarem com uma determinada linha de pensamento originária de um determinado pesquisador ou ocultista, afirmam com total certeza a origem do baralho. Origens como no Egito, Atlântida, Índia, Grécia, Espanha e até em outros planetas; entre os ciganos, templários, hindus, sarracenos, magos medievais, e etc. É fácil ver isso em ação: basta ler alguns livros que abordam o tema. Também surgem daí muitas das idéias sobre o nome "tarot"; é vasto o estudo etimológico, mas nada concreto. A enxurrada de informações que são lançadas a público mistifica por completo o tema. Por isso mesmo, o assunto por vezes não é levado a sério e o tarólogo ainda é confundido com o cartomante.

Em documento oficial, que data do ano de 1377, relato do monge alemão Johannes Von Reinfeldem, é que encontramos a primeira referência real sobre o tarot. Quanto ao resto, é pura mistificação e fantasiosa criação, que é claro, ajudou também a divulgar tarot e trazê-lo até os dias de hoje.

Muitos baralhos criados por volta do século XVII, com diversas figuras e trazendo as virtudes cardeais, deuses e eventos históricos, foram chamados erroneamente de "tarot". Devemos lembrar que o tarot é uma estrutura única de 22 arcanos maiores e 56 arcanos menores, contendo as tradicionais figuras por nós já conhecidas; ainda se confunde hoje baralho comum, cigano e mais outros, com o tarot. Encontramos nas prateleiras das lojas uma infinidade de baralhos com o nome de tarot e quem os compra pela primeira vez e nunca viu um tarot antes, acaba por viver o paradigma de que tarot é tudo aquilo que está impresso nos pedaços de papel e artisticamente representados. Seguem os tarots dos Anjos, dos Orixás, da Criança, dos Florais, Cigano, etc e tal. Infelizmente, por falta de informação de seus criadores ou por mera promoção de seus produtos, os baralhos são jogados no mercado e comprados por aqueles que não conhecem ainda realmente o que é um tarot.

Um outro motivo que floresceu principalmente no nosso século, foi cada vez mais a expressão dos artistas em seus baralhos. Sem dúvida, baralhos lindíssimos surgiram e ainda surgem para aquisição, mas está cada vez mais freqüente o esquecimento da estrutura simbólica das lâminas. É comum encontrarmos magos, papisas, imperatrizes e outros, em diversas posições, cores, objetos, cenários, distanciando-se da estrutura primordial das imagens arquetípicas e descaracterizando a intenção que se encontra por detrás das figuras. Quer seguir uma estrutura original do tarot? Baseie-se no Tarot de Marselha! Mas cuidado: existe uma infinidade de tarots denominados "Tarot de Marselha". Procure aqueles que trazem o nome de Claude Bourdel na caixa.

Por volta do século XVIII e XIX, muitos ocultistas abriram as portas para o tarot. Mas a gama de estudos associando o tarot à cabala, letras hebraicas e astrologia, trouxe uma confusão entre as linhas de estudos. A recomendação feita àqueles que estudam tarot é que não se prendam às associações. Sem as mesmas, o tema já dá trabalho, imagine ligando-o à outros caminhos. Todo cuidado é pouco!

A mudança numérica das lâminas também confunde e alguns estudiosos também não se sentem a vontade com o nome de algumas lâminas. Para se ter uma idéia, a lâmina "O Mago", teve inicialmente o nome publicado como " O Escamoteador". Em alguns baralhos ele ainda hoje tem o nome de "Pelotiqueiro", "Prestidigitador", "Mágico"... E "O Pendurado" ? Comumente conhecido como "Enforcado", também o encontraremos com o nome de "Apostolado". A liberdade é total na expressão, mas confunde a cabeça de muita gente por aí.

A dúvida principal é: será que o tarot nasceu nos braços do esoterismo ou misticismo? O certo é que sempre foi utilizado durante a Idade Média como um jogo de cartas comum e tornou-se mágico, de certo, apenas há 2 séculos atrás. Afinal, o tarot é mítico ou místico? Será sempre os dois, mas a mistificação deverá terminar, para que possamos ver o tarot de maneira ampla e sem reservas e integrá-lo como instrumento de auto-conhecimento.