Artigos

ASTROLOGIA: O RESPEITO FUNDAMENTAL ÀS DIFERENÇAS

Alexey Dodsworth

No ano de 2003, no intervalo de um dos cursos de astrologia que eu ministrava, me deparei com o namorado de uma das alunas do curso regular de astrologia, que me confidenciou, em tom quase desculposo:
- Eu não acredito em nada disso...
Diferentemente do que se pode esperar de um amante da astrologia, eu nunca me incomodo com comentários do tipo, por uma razão simples: o uso do verbo "acreditar", sendo inadequado para o ofício de algo que demanda estudo, e não crença, demonstra que aquele que "não acredita" está a falar de alguma religião, e não do estudo organizado, experimental, que é a astrologia. Se crê ou não se crê em Deus, mas "crer ou não crer" em astrologia se trata de um pensamento equivocado. Eu, por exemplo, nunca "acreditei" na Biologia, porque não venero o Deus dos Citoplasmas e do Ácido Ribonucléico. Mas tirei boas notas no colegial, porque procurei estuda-la, ainda que minimamente.

O tal namorado, pelo menos, não disse que "odiava" a astrologia. O ódio, enquanto substantivo, parece ser um [mau] sentimento que não se justifica jamais. Todavia, nem sempre o ódio é ódio: trata-se, na maioria das vezes, de ignorância. Odeia-se o que não foi compreendido - daí se justifica a raiva que alguns céticos insistentes têm da astrologia. Eles não têm culpa, pois ignoram. Quem leu a revista "Galileu" de fevereiro, deve ter percebido que alguns céticos não fazem a mínima idéia do que seja um signo zodiacal, mantendo a confusão de que "signo astrológico" é uma constelação estelar - quando quem estuda astrologia sabe que não é. E, se estes ignorantes exercem seu desconhecimento, seria preciso tecer um mea culpa, por parte dos astrólogos, muitas vezes acusados de se enfiarem numa torre de marfim simbólica, onde se preservam, à parte da humanidade, falando numa linguagem hermética que poucos compreendem.

Mas há também o ódio que não advém da ignorância, e sim do narcisismo das pequenas diferenças. Este ódio, muito mais perigoso, surge quanto nos vemos diante de algo que é diferente de nós. A partir desta fantasia de que tudo deve ser igual, brota o terror, a antipatia, o ódio. A astrologia segue um paradigma científico organicista, e não mecanicista. Ela parte do princípio de que a parte contém o Todo, em que cada indivíduo é um holograma do Universo. Escrever isso pode parecer apenas bonito, só que eu iria além e diria que, mais do que apenas bonito, é assustadoramente real: pensar que eu e algumas criaturas insuportáveis somos partes interligadas de uma coisa só não deixa de ser irônico e aterrador para o ego mais separatista, para aqueles que raciocinam em termos de pior e melhor. Sim, meus caros: estamos ligados, quer queiramos, quer não. E quem não aprender a lidar com as pequenas diferenças, está fadado à extinção psíquica.

Não é de estranhar, portanto, que sendo o paradigma da astrologia um paradigma ecológico [tudo está interligado], que a astrologia em si mesma, em seus conceitos mais básicos, nos ensine a primeira regra fundamental: tudo é diferente de tudo. E, chegando nesta parte, eu devo retornar à minha lembrança do namorado da aluna que não "acreditava" em astrologia. Notaram as reticências na frase dele, logo acima? É porque ele não havia terminado seu texto, que continuava com:
- ...Mas eu faço questão que a minha namorada continue a estudar o assunto, pois desde que ela começou a estudar astrologia, tornou-se muito mais tolerante com as diferenças alheias. Ficou mais paciente.
Este depoimento me chamou a atenção, porque ele parte de duas premissas:
1. A declaração da descrença de um indivíduo.
2. O reconhecimento de que, a despeito da namorada dedicar-se a algo que ele particularmente não dá crédito, este "algo" a ajudou a tornar-se um ser humano mais tolerante e respeitoso.

Existem pessoas que não amadurecem com a astrologia, ao contrário: utilizam-na como instrumento de justificativa de suas maledicências, de sua pequenez. Falam das quadraturas dos outros, das traves dos mapas alheios, arautos da catástrofe e do mau agouro. Por isso mesmo que, neste sentido, fecho com Jung e não abro: não é o instrumento que capacita o indivíduo ao crescimento, é o indivíduo que, estando pronto para o instrumento, dá um salto. Por isso é importante lembrar que a astrologia não é meta, é caminho, trilha, rota. E nem é a única. Mas - depoimento de quem se dedica ao assunto com vigor - é um caminho muito, muito divertido!

Este pequeno artigo tem poucas pretensões, além de servir de um testemunho sólido de uma pessoa que mal consegue imaginar como seria a própria vida se não tivesse aprendido - via astrologia - a respeitar a singularidade alheia. A você, que começa a aprender astrologia, sempre que se deparar com o lado dificultoso da matéria [cálculos, compreensão técnica do tema], mantenha em mente a certeza de que seus namorados, namoradas, vizinhos e animais domésticos agradecerão imensamente a pessoa mais paciente que você tem o potencial de se tornar.

A recompensa da paciência, segundo Santo Agostinho, é a própria paciência. Desenvolver a virtude, por si só, já é o nosso grande maior presente.