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DOS ESPINHOS ÀS ROSAS: AJUDANDO CLIENTES COM ASPECTOS DIFÍCEIS

Glenn Perry, Ph.D.

Na prática astrológica, muitas vezes nós usamos palavras como cura, integração e transformação da mesma forma como se estivéssemos comentando sobre os cereais que ingerimos no desjejum. Mas o que exatamente nós estamos querendo dizer com estes termos? Da mesma forma, costumamos abordar os aspectos difíceis como se atuassem sempre de uma forma estressante e frustrante. Mas será que tem que ser necessariamente assim?...

Numa astrologia orientada para o crescimento pessoal, a grande meta é integrar os planetas envolvidos em aspectos difíceis com o passar do tempo. Isso mostra que enquanto um aspecto pode ser, de certa forma, um ponto difícil na nossa vida, por outro lado pode ser experimentado de uma maneira completamente diferente e assim alcançar um novo significado.

Provavelmente todos nós já tivemos a experiência de estar com um cliente e observar que ele têm um aspecto particularmente difícil no mapa. Se o cliente confirma que, de fato, esta tem sido uma questão problemática na sua vida, nós enfrentamos a difícil tarefa de trazer algo que esclareça a natureza do problema, revelando seus mais profundos significados, e lhe proporcionando esperança. Mas para fazer isto, nós precisamos entender primeiro como funciona um aspecto difícil.

Quando consideramos as quadraturas e quincúncios, nós estamos falando de ângulos que se relacionam a signos que são yin em polaridade, ou seja, Câncer (quadratura crescente), Virgem (quincúncio crescente), Escorpião (quincúncio minguante) e Capricórnio (quadratura minguante). O outro aspecto difícil tradicional, a oposição, é a exceção a esta regra, já que corresponde a um signo yang, Libra. Basta dizer aqui que um aspecto deriva seu significado da natureza do signo ao qual corresponde. Esta não é apenas uma chave para entender o significado de qualquer aspecto, mas também o meio de saber o que o aspecto requer para que seu potencial seja canalizado.

Por exemplo, um quincúncio crescente seria virginiano, uma vez que o signo de Virgem constitui o primeiro ângulo de 150º graus no zodíaco natural. Da mesma maneira que o enfoque natural de Virgem está em resolver problemas, os planetas num quincúncio crescente constituem um problema a ser resolvido. Este problema estará implícito nas circunstâncias da infância e semeará outros problemas à frente, ao longo da vida. Planetas representam funções a serviço de necessidades psicológicas específicas. O problema implícito no quincúncio tem a ver, portanto, com essas necessidades frustradas por algum tipo de dilema ou problema. Na infância, o indivíduo pode desenvolver uma crença negativa relacionada às necessidades em questão; já na maioridade, ele atrairá ou criará circunstâncias nas quais irá testar estas crenças. Na verdade, a palavra apropriada seria recriar, desde que estas circunstâncias mais recentes recapitularão o dilema original, enquanto também provêm uma oportunidade para solucionar o problema. Embora a natureza do problema tenha algo a ver com as funções dos planetas envolvidos, a solução exigirá atributos virginianos, por exemplo, desmontando o problema em partes, analisando essas partes constituintes, e fazendo os ajustes requeridos para aumentar eficiência, de modo a tornar a associação dos planetas operativa. O resultado ideal é que os planetas integrem as suas respectivas qualidades de forma a prover o indivíduo com uma habilidade nova e singular.

Quando eu digo que os signos yin de Câncer, Virgem, Escorpião e Capricórnio correspondem a ângulos que produzem aspectos difíceis, eu estou me referindo que há algo na natureza destes signos que nos proporciona informação sobre o que as quadraturas e quincúncios exigem para serem adequadamente canalizados. Falando de modo geral, signos yin operam de uma forma inibidora, contrapondo-se à energia yang. O yang diz "expresse a si próprio através de uma ação espontânea", e o yin diz "contenha-se através de um controle disciplinado". Signos yin são vulneráveis à perda e à dor porque eles simbolizam necessidades de vínculos, tanto num nível físico (Terra) quanto emocional (Água). Da mesma forma, os aspectos que correspondem a estes signos se relacionam a questões de autocontrole que advêm do medo de que uma auto-expressão inadequada possa conduzir à rejeição, vergonha, fracasso ou culpa. Claro que tanto o yin quanto o yang são necessários para uma personalidade equilibrada e produtiva. Os problemas surgem quando as funções planetárias que os aspectos difíceis simbolizam aparecem de uma forma ou sub ou super controladas. Tais problemas podem usualmente ser detectados pelas manifestações iniciais do aspecto na infância. A fórmula aqui é relativamente direta: (1) os aspectos difíceis são inicialmente manifestados através de eventos problemáticos bem cedo durante a infância; (2) estas experiências tendem ser interiorizadas como crenças patogênicas; (3) tais crenças subseqüentemente recriam e mantêm o problema original; e (4) a recriação do problema provê uma oportunidade para sua solução.

Por exemplo, considere uma quadratura crescente entre o Sol e Plutão. O Sol está se esforçando para satisfazer a necessidade de aprovação (Leão), enquanto que Plutão está se esforçando para satisfazer a necessidade de transformação (Escorpião). A natureza da quadratura crescente corresponde ao signo de Câncer, que simboliza a necessidade de ligação emocional e empatia. Como um signo de natureza yin, Câncer requer que o indivíduo se sintonize com o mundo subjetivo dos sentimentos. Desta forma, para ser adequadamente canalizada, a quadratura crescente requer que os sentimentos gerados pelos planetas combinados sejam entendidos e aceitos. Se isto não acontece, isto é, se o indivíduo tenta muito rigidamente controlar-se e aos seus sentimentos, então os problemas aparecem. Imagine que - enquanto ainda criança - as tentativas desta pessoa para auto expressar-se (Sol) foram submetidas ao desprezo e abuso (Plutão). Uma possibilidade é que o pai tenha sido uma presença intimidante e negativa, tentando reformar a criança. Esta é uma das manifestações típicas do Sol em quadratura a Plutão. Eu não estou deduzindo que a criança foi somente uma vítima do pai, mas isso pode ter sido o início, e assim torna-se o protótipo de um tipo de experiência padrão que nós chamamos de Sol em quadratura a Plutão. O ponto aqui é que com toda a probabilidade, a resposta da criança foi desenvolver certas convicções negativas sobre si, com dolorosos sentimentos envolvidos. Talvez ela tenha nutrido um sentimento de vergonha e começado a pensar sobre si como sendo "ruim, inaceitável e não amada". Ela sentiu como se não estivesse correspondendo. Estas idéias podem ter sido suficientemente dolorosas e frustrantes, fazendo com que a criança não as tivesse retido na consciência. Um forte medo inconsciente poderia ser aquela revelação do mundo interno, que resultaria na confirmação que ela é "ruim, inaceitável e não amada". De forma a proteger sua frágil auto-estima, a criança reprime estas idéias assustadoras e os seus sentimentos.

Porém, uma vez reprimidos, os conteúdos psicológicos do aspecto não estão sujeitos ao controle consciente. Devido ao fato da criança originalmente não ter trazido estes conteúdos à luz da consciência, eles não puderam ser comentados nem resolvidos. Ao invés disso, eles continuam influenciando a pessoa a partir do nível inconsciente. O resultado pode ser uma baixa auto-estima, medos de ser humilhado, e uma inibição na auto-expressão. Quando adulta, esta pessoa se esforçará para desfazer as suas crenças e ansiedades negativas que carrega, buscando pessoas ou criando situações nas quais o trauma original pode ser restabelecido, contudo agora com um final feliz. Esta reação é chamada de "compulsão repetitiva". Uma vez que a manifestação original do aspecto permanece inconsciente, o indivíduo normalmente tem sucesso apenas em recapitular e reforçar as velhas idéias e sentimentos.

Como astrólogos, nós podemos ver no mapa o que está acontecendo. Nós sabemos as necessidades que estão envolvidas (aprovação e transformação), e também que a quadratura crescente requer que as idéias e sentimentos gerados pelas tentativas de satisfazer estas necessidades devem ser trazidos à consciência. Perguntando pelas experiências da infância, nós podemos auxiliar o indivíduo a obter o insight para perceber como ele foi afetado bem cedo na vida pelas experiências relacionadas à sua quadratura de Plutão ao Sol. Nós podemos estabelecer uma empatia com a dor dele e interpretar seu comportamento subseqüente como tentativas para desfazer-se de uma falsa crença de que ele era "ruim, inaceitável e não amado". Em outras palavras, nós podemos ajudar o indivíduo a aprender a lidar com os sentimentos dolorosos que foram gerados pelas experiências iniciais da vida e remover as idéias negativas que subseqüentemente se desenvolveram. Se tudo correr bem, a pessoa se sentirá capaz de achar novas formas para integrar as funções planetárias simbolizadas pelo Sol e Plutão. Isto poderia envolver uma auto-expressão mais espontânea (Sol) aliada a uma capacidade de enfrentar seus medos e abraçar experiências que conduzam a uma renovação pessoal (Plutão). O mais importante é que a integração da quadratura permitiria uma abertura e aceitação dos sentimentos dolorosos que tal processo de crescimento acarreta.

À medida em que essa integração for se aprofundando com o passar do tempo, o indivíduo poderá, de maneira crescente, se expressar de formas que são poderosas e transformadoras, não só para ele, mas para outros também. Ele será sensível a esta problemática em outras pessoas e poderá ajudá-las a curar as suas próprias feridas psicológicas. Ele se transforma, assim, num curandeiro, justamente na área na qual ele foi ferido. Em última instância, este é o presente do aspecto e a fonte do seu maior potencial.

NOTA: Para determinar se um aspecto é crescente ou minguante, primeiro observe qual é o planeta mais rápido. Por exemplo, Marte é mais rápido que Saturno. Então observe se o planeta mais rápido está se aproximando do ponto de oposição ou da conjunção entre eles. No primeiro caso (vai para a oposição) o aspecto é crescente; no segundo caso (vai para a conjunção) o aspecto é minguante. Por exemplo, se Marte está em Câncer sessenta graus à frente de Saturno em Touro, este seria um sextil crescente. Mas se Marte está em Peixes a sessenta graus de Saturno em Touro, este seria um sextil minguante.