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MULHERES DE SHAKESPEARE

Jaqueline Iório

Não suspirem damas, não suspirem mais...
Os homens são impostores,
um pé no mar, outro na terra...
Por isso,
Alegria, alegria!
Não cantem, damas, não cantem mais cantigas...
A traição faz parte da vida dos homens...
Por isso,
Alegria, alegria!
(Muito barulho por nada/ Shakespeare)

Sabemos que já existem muitos estudos sobre o feminino e que por várias e várias décadas o papel da mulher em nossa sociedade, seus desejos, anseios e conflitos vêm sendo objeto de pesquisa e reflexão.
Ainda hoje, a mulher sente-se dividida entre o seu papel de mãe, esposa, com o de alguém que procura buscar um amadurecimento no campo profissional, social e lutar pela realização dos seus sonhos.
Na sua alma feminina guarda um psiquismo marcado pelo aspecto que a psicanálise tem tentado decifrar descrevendo-o ora como "continente negro", no caso da psicanálise freudiana, ora como "ausência", como fazem seus prolongamentos lacanianos. Freud diz que a vagina é bem conhecida como órgão, pedaço do corpo, mas não é reconhecida a nível significante como sexo feminino.
É incrível como mesmo nos tempos modernos, o sexo feminino ainda é de uma certa forma influenciado por definições que colocam a mulher como um ser que está sempre relacionado a uma "falta", a algo que "não é completo" (o famoso conceito da "inveja do pênis" tão abordado por Freud), a algo "misterioso e que ainda precisa ser desvendado".
Muito material sobre o feminino temos através dos estudos da psicologia, da mitologia grega (através das principais deusas do Olimpo), mas vocês sabiam que também os textos das obras teatrais de William Shakespeare nos remetem à uma profunda viagem ao universo das questões femininas e que podemos traçar várias analogias muito interessantes das personagens mulheres de suas peças com os signos e planetas da astrologia e com as principais deusas da mitologia?
Por exemplo, na obra "A Megera Domada", Catarina (a personagem da "megera", terrível como o próprio nome já diz) é a própria energia do elemento fogo, ligada ao signo de Áries e ao planeta Marte, pois dotada de grande instinto selvagem e natureza quase que animal, Catarina é feroz como uma leoa, dá coice para todos os lados como uma égua brava (espanca a pobre da irmã mais nova, vive batendo e esmurrando as portas e janelas), enfim é um bicho em forma de mulher. Além disso, sente-se independente e recusa todos os seus pretendentes, apesar de ser muito cortejada. Outra maravilhosa personagem de Shakespeare, tão feminista como Catarina, porém muito mais mansa, é a Beatriz da obra "Muito barulho por nada", que é totalmente contra a instituição do casamento e que prefere "ouvir seu cachorro latir para uma gralha a ouvir um homem dizer que lhe dedica amor".
Se traçarmos um paralelo dessas duas personagens de Shakespeare com o estudo das principais deusas do Olimpo, podemos identificar Catarina e Beatriz com Ártemis, a deusa independente da mitologia, da caça e da lua, que é autoconfiante, independente, com traços feministas e que se sente realizada sem um homem ao seu lado, não precisando da aprovação dele para qualquer coisa que faça.
Já em "Sonho de uma noite de verão", por causa de uma travessura de um ser mágico da floresta (o duende Puck), duas belas amigas e jovens nobres atenienses, Helena e Hérmia, se deparam com um conflito relacionado mais ao signo de Libra e ao planeta Vênus (signo/planeta relacionados às associações, ao amor romântico e à beleza), pois elas lutam e brigam pela felicidade no amor e para conquistar o coração "dos seus senhores". E aí, só estando muito "incorporadas" de Afrodite e pedindo ajuda a essa deusa do amor e da beleza, para que ambas vençam essa guerra, não é mesmo?
Por último, não podemos esquecer da mais famosa e encantadora personagem de Shakespeare, a Julieta, que como a deusa da mitologia grega Perséfone (deusa das trevas, que foi raptada por Hades, ligado ao signo de Escorpião e ao planeta Plutão), teve seu coração e até sua vida roubada por Romeu, não resistindo também este nobre moço à inocência, doçura e fragilidade da bela jovem; pois, as meninas como Julieta, que possuem uma forte influência da deusa Perséfone, são receptivas, jovens e podem buscar um companheiro como a melhor saída para escapar de uma família dominadora.
Na verdade, poderíamos aqui ficar fazendo mil viagens, refletindo sobre essas personagens, essas deusas e o feminino; porém, o que se torna mais rico neste estudo é conhecermos as diversas facetas e papéis do feminino e sabermos usá-los no momento certo e adequado. Por exemplo, ao buscarmos uma conquista no campo profissional, vamos lutar como Catarina e Ártemis; no momento do amor com nosso parceiro, vamos buscar a sedução e a doçura de Afrodite e Julieta. Dessa forma ficaremos com todos esses arquétipos do feminino dentro de nós e poderemos "evocar" o auxílio de cada deusa/personagem de acordo com a nossa necessidade. Na verdade, esse estudo de muito vale também para os homens, visto que não só a mulher é um enigma, mas que o ser humano, como um todo, é um enorme mistério... No fundo, todos nós estamos em busca dessa tal felicidade, do tal do amor, de um toque, de uma palavra carinhosa. E, para isso, não existe sexo: basta pulsar um coração. Como cita um personagem de Shakespeare em "Sonho de uma noite de verão": "SE TODOS SONHAMOS A MESMA COISA, QUER DIZER QUE ESTAMOS ACORDADOS".