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ASTROLOGIA VÉDICA NOS VEDAS

Bernadeth Pombo (Bhutamata Dassi)

Invocação a Ganesha

VAKRATUNDA MAHAKAYA SURYA KOTI SAMAPRABHA NIVIRGHNAM KURU ME DEVA SARVA-KARYESHU SARVADA
Tradução:
Ó Ganesha de rosto de elefante, ó todo poderoso, tua refulgência é igual a milhões de Sóis. Oro para que removas todos os impedimentos no caminho de minhas ações auspiciosas.

Este é um mantra para Ganesha, o protetor dos astrólogos védicos. Este mantra deve ser recitado também pelos estudantes do conhecimento védico, pois ele permite que os canais de receptividade a tal conhecimento sejam então abertos e eles possam com isto provar o néctar de tal conhecimento exatamente como ele desce dos planos divinos. O conhecimento védico pode ser comparado a um rio que desce dos planos superiores, em cujas águas podemos nos banhar, sendo assim uma experiência sagrada.

A divindade de Ganesha representa exatamente esta atitude reverente de pedir permissão para conhecer estes assuntos. Isto porque é ele quem dá as bênçãos sempre que cultivamos uma atitude no coração, de simplicidade, de disposição pura para obtermos um conhecimento que vem lá de cima, que foi preservado por milhares de anos. Ganesha, inclusive, é retratado nos Vedas como aquele que escreveu os Vedas. Ele foi o escrivão pessoal de Sri Vyasadeva - Vyasa recitava, Ganesha escrevia. Os Vedas vêm de um plano sagrado que temos dificuldade de alcançar. Então, antes de entrarmos neste plano, devemos pedir permissão ao guardião, que é Ganesha.

Algumas pessoas perguntam por que a Astrologia Védica dá mais ênfase ao lado fatalista do que ao lado psicológico durante a interpretação do mapa. Os astrólogos védicos escrevem livros com interpretações tão exatas que algumas pessoas ficam assustadas. Porém, tudo isto é muito relativo. Conforme formos conhecendo aos poucos a Astrologia Védica, iremos também perceber sua abordagem psicológica, emocional. Passaremos também a perceber através do mapa védico, certas necessidades psicológicas trazidas de várias vidas para esta existência. Porque o campo psicológico não se limita apenas a esta existência. Existem necessidades psicológicas de vidas passadas que o mapa védico apresenta com muita clareza. Há também um aspecto da Astrologia Védica que vai além do físico e do psicológico - é o aspecto espiritual. A visão psicológica da Astrologia Védica é relativamente diferente da visão psicológica da astrologia ocidental.

O aspecto psicológico utilizado na astrologia ocidental costuma se basear na mitologia grega, que possui nuances diferentes das da mitologia dévica utilizada na Astrologia Védica. Esta parte arquetípica da Astrologia Védica é mais direcionada ao plano do sagrado. Por exemplo, Júpiter na astrologia ocidental é Zeus, o deus olímpico, deus da cultura grega. É um deus de caráter altamente poderoso. Mas Júpiter na Astrologia Védica é Brhaspati, que é um mestre. É fácil fazer com que Zeus encarne em nós; basta assumirmos uma postura poderosa. Existe a tendência psicológica de realmente assumir certas posturas na vida que se associam a certos padrões arquetípicos da mitologia grega. Todas as associações relacionadas ao deus Zeus podem-se encontrar manifestas na vida; por exemplo, um Zeus casado com uma perfeita Hera, etc. A leve diferença entre os aspectos arquetípicos da Astrologia Védica e os da Astrologia ocidental é que todas as divindades védicas são vistas como seres sagrados, pertencentes a um plano superior. Por isso, cultiva-se uma atitude um pouco mais reverente. Ao mesmo tempo em que fazem parte da nossa existência, também fazem parte de uma existência no plano sagrado, e não psicológico. Trata-se de um plano espiritual muito mais extenso e profundo.

História da Astrologia Védica

A Astrologia Védica é um conhecimento que foi passado de mestre para discípulo, há milhares de anos atrás, através da tradição oral. Ao levar tal conhecimento adiante, vários sábios passaram a desenvolvê-lo a partir de seus dons intuitivos. Isto ocorreu há muito tempo e não há como se saber exatamente quando. O que se sabe realmente é que a Astrologia Védica, assim como todo o conhecimento védico, foi compilada há cerca de 5.000 anos. Como o próprio nome revela, védico é o que vem dos Vedas. Os Vedas foram compilados por um grande sábio chamado Vyasadeva. Vyasadeva também é chamado de Vedavyasa. Vyasa dividiu o Veda original em quatro partes. Os Vedas, então, são Rg, Sama, Yajur e Atharva. A princípio eram um só, depois dividido em três, mas depois surgiu a necessidade da compilação do quarto Veda, o Atharva.

O Rg e o Sama são hinos, poesias, orações e invocações. O Yajur Veda está voltado para sacrifícios, grandes cerimoniais, fórmulas para agradar certas divindades, etc. Já o Atharva Veda trata de assuntos do dia a dia, tais como rituais, medicina, astrologia, alquimia, arquitetura. Embora a Astrologia Védica, ou Jyotish, também seja abordada nos outros três Vedas, é no Atharva Veda que encontramos maiores referências a ela.

A Astrologia Védica também é um conhecimento em desenvolvimento. Ela vem sendo desenvolvida ao longo desses 5.000 anos. Alguns historiadores afirmam ter havido intercâmbios do conhecimento védico com as culturas dos países ao redor da Índia, como a Grécia, por exemplo, razão pela qual houve influência recíproca entre as duas culturas.

Apesar de historiadores darem várias opiniões a respeito da história dos Vedas, os próprios Vedas possuem sua própria e original versão. A razão para os Vedas terem sido compilados foi o início da Era de Kali, que teve seu início há cinco mil anos. A energia da era de Kali produz o que poderíamos chamar de sombra no planeta. Na era de Kali, as pessoas em geral são menos dotadas de atributos divinos, os quais são mais encontrados em outras eras. Por exemplo, na era de Kali o ser humano tem menos memória, estando mais sujeito a cometer erros e a ter vida curta. Como os sábios já sabiam de antemão dos sintomas da era de Kali, os Vedas foram compilados sob forma escrita concebida para este propósito. Surgiu assim o devanagari, que é o alfabeto sânscrito. Deva significa 'divino' e nagari, 'escrita', ou seja, a escrita dos deuses. Desta forma, os Vedas foram compilados para que este conhecimento não se perdesse, já que a raça humana na era de Kali desenvolveria gradativamente certas propensões, tais como a preguiça, a falta de memória, maus cuidados com a saúde e com a natureza, o que resultaria em uma vida mais curta, bem como em falhas no discernimento e sentidos pouco desenvolvidos - enfim, toda espécie de sintomas que mostram a dificuldade de preservar um conhecimento sob a forma oral e original. Era necessária a escrita, do contrário, ao se transmitir tal conhecimento, ele seria desvirtuado ou manipulado por interesses pessoais, políticos, religiosos, etc.

Desta forma, para se compreender o conhecimento védico nos dias de hoje é necessário que haja direto acompanhamento de alguém que já esteja acostumado a sua linguagem e além disto, tenha recebido iniciação espiritual de um mestre espiritual fidedigno. Muito se pode ler a respeito deste conhecimento, mas a chave que nos abre para seu real entendimento se encontra com um mestre espiritual verdadeiro que esteja vinculado a uma sucessão de mestres e discípulos pertencente a uma sampradaya autorizada. Sampradaya é uma tradição espiritual, e na Terra ainda existem algumas tais como Brahma-sampradaya, Sri-srampadaya, Madhava-sampradaya. Jyotish ou astrologia védica é considerado pelos Vedas como um de seus Angas, ou membros. Jyotish são os olhos dos Vedas, e por isso mesmo, um meio direto de se conhecer os Vedas sem mesmo ingressar em estudos mais apurados deste amplo conhecimento. Através de Jyotish, Veda pode ser conhecido.