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S.O.S. NATUREZA
PROJETO BALEIA JUBARTE

Baleia jubarte (Megaptera novaeangliae), também chamada baleia corcunda ou preta, pertence a família Balaenopteridae e é conhecida por seu temperamento dócil, por um desenvolvido sistema de vocalização e pelas acrobacias que realiza - saltando e exibindo o caudal, que é sua impressão digital. Uma característica marcante da espécie são as nadadeiras peitorais extremamente longas, que atingem quase 1/3 do comprimento total do corpo. As fêmeas, um pouco maiores que os machos, podem alcançar 16 m de comprimento e pesar 40 toneladas. Quando em fuga deslocam-se a velocidades de até 27 km/h.

As jubartes realizam migrações sazonais entre áreas de alimentação em altas latitudes, e área de reprodução e cria em regiões tropicais. No Atlântico Sul Ocidental, a principal área de reprodução desta espécie é o Banco dos Abrolhos, no litoral sul da Bahia. Nos meses de julho a novembro, estas baleias procuram as águas quentes, tranqüilas e pouco profundas de Abrolhos para acasalar e dar à luz a um único filhote, que nasce após uma gestação de aproximadamente 11 meses. A caça indiscriminada reduziu drasticamente quase todas as populações de baleias do planeta. As baleias jubarte, cuja população mundial antes da caça era cerca de 150.000 indivíduos, hoje está estimada em quase 25.000 baleias distribuídas em todos os oceanos. Elas se encontram na Lista Ofícial de Espécies Ameaçadas de Extinção do IBAMA.

Na região do Arquipélago de Abrolhos, no sul da Bahia, entre os meses de julho a novembro, as baleias jubarte chegam e se concentram com o propósito de reprodução e cria. São observadas normalmente em pares de fêmeas com filhotes acompanhadas de machos adultos (escorts). Estes competem pelo acesso às fêmeas em idade de reprodução. Para estudar e proteger estas baleias em sua época de cria e reprodução, foi criado em 1988 o Projeto Baleia Jubarte.

PROJETO BALEIA JUBARTE

Em Abril de 1996 foi criado o Instituto Baleia Jubarte - Organização Não Governamental sem fins lucrativos - que tem por objetivo alavancar o desenvolvimento das atividades de pesquisa do Projeto Baleia Jubarte e de outros projetos que visem a melhoria da qualidade de vida das comunidades litorâneas desta região, como, por exemplo, o Programa de Educação e Informação Ambiental e o Projeto de Gerenciamento Costeiro Integrado. O Instituto Baleia Jubarte conta, atualmente, com 9 colaboradores diretamente envolvidos com a realização de suas diversas atividades, entre biólogos, oceanógrafos, fotógrafos, técnicos em Educação Ambiental, e equipe técnico-administrativa. Os recursos para a realização dos projetos são obtidos através de patrocínios. Porém como estes recursos são insuficientes, há necessidade de complementá-los a captação através de material de divulgação (camisetas, adesivos, chaveiros, bonés) e doações.

OS OBJETIVOS DO PROJETO BALEIA JUBARTE SÃO:

Proteger esta espécie; Avaliar o tamanho da população de baleias jubarte que freqüenta Banco de Abrolhos; Identificar individualmente cada animal através de marcas naturais e da pigmentação da nadadeira caudal; Estudar o seu comportamento natural e a interação com os barcos de turismo da região; Monitorar e fiscalizar o turismo para que as baleias possam ter tranqüilidade nas suas ações (cria e reprodução) na região; Realizar estudos de vocalização e análise de DNA; Desenvolver atividades de Educação e Informação Ambiental na região do Banco de Abrolhos. Registrar e atuar no resgate de cetáceos encalhados/emalhados na faixa litorânea compreendida entre o norte do Espírito Santo e o Extremo Sul Baiano, auxiliando nesta mesma atividade, quando necessário, ao longo de toda a costa brasileira.

POR QUE NÃO MATAR BALEIAS?

São animais únicos, os maiores que já viveram no planeta desde que a Terra se formou, são dóceis e pacíficas. Assim como os outros seres vivos do planeta que existem na Terra há muitos milhões de anos antes da espécie humana evoluir, eles merecem a vida e o nosso respeito. Valor intrínseco de cada ser vivo.
Hoje em dia um enorme número de pessoas, grupos e países acreditam que a caça e tortura destes seres vivos é uma prática cruel que não pode ser mais moralmente aceita.
Baleias em geral demoram de 6 a 15 anos para atingirem a maturidade sexual, seu tempo de gestação é de 11 - 15 meses, geram 1 filhote em média a cada 3 anos. Baleias não são peixes que colocam mais de 1 milhão de ovos por 2 -3 vezes ao ano.

Inteligência é medida através da massa cerebral - a maioria das espécies de baleias e golfinhos possuem cérebro relativamente maior que os dos seres humanos.
São animais que não tem pátria, são mundiais, são "patrimônio" da Terra sem limites geopolíticos - uma herança comum a todos seres humanos, logo seu futuro deve estar baseado em padrões globais.
O encontro de seres humanos com cetáceos é uma experiência pacífica única capaz de enriquecer e dar maior sentido a vida da espécie humana.
O desenvolvimento tecnológico existente hoje contradiz totalmente a caça às baleias. Desenvolvemos micro ships do tamanho de um minúsculo inseto contrapondo com um tipo de alimentação totalmente arcaica. Os produtos oriundos das baleias são todos substituíveis.

Países produzem e criam animais para alimentação, uma política de importação poderia ajudar economicamente tanto o importador como o exportador.
Existe a argumentação que baleias competem com os seres humanos no que se refere à alimentação (peixes). Esse argumento é infundado, a pesca exploratória é que é comprovadamente predatória.
Sendo assim a caça às baleias representa um abuso não só contra elas mesmas mas contra os seres humanos de outras nações.

Um Filme de Impressões e Retratos Únicos:
Projeto Baleia Jubarte. Litoral Sul da Bahia.
Setembro de 2003.

Henrique Raizler

Henrique Raizler, fotógrafo e diretor da Photomundi, retornou recentemente de uma viagem dedicada a documentar as baleias Jubarte, a bordo de um cruzeiro no arquipélago de Abrolhos, litoral sul da Bahia, durante o projeto do Instituto Baleia Jubarte. Foram mais de duzentos registros de uma das doze maiores espécies de grandes baleias existentes no mundo.
A seguir, Henrique compartilha conosco sua experiência e nos convida a viajar através da sua narrativa, que nos aproxima da magia e encanto das dimensões inexploradas da natureza.

"Partia de Porto Alegre, via São Paulo e Rio, com um esperado e claro objetivo: participar do cruzeiro de avistagem das baleias Jubarte, a convite da coordenação do Instituto Baleia Jubarte - uma ONGg modelo.
Mochila leve, equipamento fotográfico carregado, filmes, lentes e a expectativa de reencontrar as baleias depois do primeiro contato que tive com elas em continente Antártico, anos atrás.
A rota nordeste foi iniciada em Porto Seguro, final de noite, céu estrelado para pernoite em Arraial d'Ajuda. Bahia. Lá o clima muda, os movimentos definitivamente brasileiros, sem máscaras, cores em profusão, me iniciavam no que seriam os meus próximos dias de rota sul até Caravelas, ponto de partida e sede do Instituto.
Ali comecei a rodar um pequeno filme que se desenvolvia de uma forma solta e leve, como se uma história estivesse sendo contada, tendo seu capítulo principal versado sobre as Jubartes.
Entreguei-me ao sono já pela madrugada, pois no outro dia cedo o ônibus partiria para a praia de Caraiva, primeiro porto rumo Sul. As 5 da manhã apostos, aprumei o corpo e fui para praça central de Ajuda esperá-lo.
- A que hora chega? Só Deus sabe, exclamavam os nativos.
Nada melhor do que sossegar e com o brinde do sol, aguardar.
Distância e tempo dissociados de nosso ritmo frenético e urbano. Três horas depois, 50 km de distância, um pequeno paraíso clica sua primeira imagem.
Pequeno vilarejo, ruas de areia, sem luz elétrica; Maria, da pousada das Cores, me acolheu imediatamente num quarto alto, frente ao mar, rede de renda. Tudo de bom ...
Caraiva era para mim uma pequena preparação, um retiro em silêncio, com a exuberância do local, para o trabalho no Arquipélago de Abrolhos!
Chegar e ficar. O tempo ali não soa, encanta ao som das ondas. Portanto, partir era difícil. Os caminhos de chão batido, o ônibus que vinha - ou não.
E o roteiro do filme se desenrolava...
Depois de alguns contatos com os nativos, consegui uma carona na caçamba de um caminhão que levava um "time completo de futebol". A galera reunida, as chuteiras dançavam ao solavanco da estrada. O sol pintava o corpo e os eucaliptos desfilavam naquela Bahia longe dos mares. Três horas depois chegávamos na BR 101.
Despedi-me dos "craques", desejei boa viagem e bom jogo.
- Na próxima (carona) estarei pronto para ser o "xerifão" da área do Caraiva Futebol Clube! Descontraí com eles.
O domingo de filme, após quase dez horas para percorrer 250 km , foi de uma singela e aprazível chegada na Pousada dos Navegantes, em Caravelas.
Noite caída, luar tímido fugia das nuvens, lanche frugal... preparação e curtição pré cruzeiro azul!
Inverno na Bahia.
As frentes frias vindas do sul do continente aportavam ali. A segunda amanheceu gris ,ventosa, pingos graúdos esfolavam as pequenas morenas, crianças de escola, que zizezagueavam no asfalto com seus cadernos, mãos abanando a caminho da escola!
A coordenadora do Projeto, Cris, avisou que não partiríamos naquele dia.
- Condições de tempo inviáveis para navegar, informava.
Restava esperar, conhecer o pessoal do projeto, as pesquisas, enfim, interagir na essência destes pesquisadores, oceanógrafos, estagiários que vivem e "respiram baleia" por toda a parte.
Fui dormir na esperança de, na manhã seguinte, o vento sul dissipar a chuva .
Terça cedo, aprontamos as malas, equipamento carregado e embarcamos no Tomara, barco doado pela Petrobrás, que serve exclusivamente para cruzeiros do projeto.
Nossa rota seria rumo ao arquipélago de Abrolhos, local da maior concentração de baleias do litoral brasileiro. Éramos nove pessoas, incluindo três tripulantes e seguíamos para "balear" (termo utilizado para denominar o objetivo do cruzeiro, ou seja, nos aproximarmos ao máximo das baleias ).
As Jubarte, vindas da Antártica, nadam mais de 15000 km para acasalar ou parir nesta região. Águas calmas, transparentes, seguras pelas 5 ilhas do arquipélago fazem deste lugar um paraíso para as mais de mil baleias que permanecem 6 meses em território brasileiro, de maio a novembro. Hoje as baleias que ficam em alto mar, diferente das baleias francas, chegam até a praia do forte, 1.000 km ao norte de Abrolhos, local que conta com uma importante base do projeto Baleia Jubarte. São impressionantes mamíferos que, apesar de pesarem uma média de 18 toneladas e medir 60 metros, tem em sua docilidade o que mais impressiona o olhar.
Estes incríveis mamíferos tem uma gestação de 12 meses e ficam, quando com as crias, seis meses sem se alimentar; amamentam os filhotes até que tenham condições de retornar para o continente Antártico. Elas tem uma velocidade de cruzeiro de 14 milhas náuticas = 27 km/h.
Bira, o comandante do Tomara, seguia as orientações da Cris. Cada vez que avistávamos uma baleia, mudávamos a rota para, próximos, fotografá-las. As baleias apareceram em profusão: mais de 100, filhotes ou adultos, adornavam o mar de águas azuis transparentes com saltos, burrifos e demonstração de danças onde os caudais (identificação do DNA da baleia e da foto identificação), impressionavam o olhar pela leveza e equilíbrio de cada movimento.
Da proa do barco, máquina a postos. Cliquei mais de uma centena de imagens, buscando transmitir a magia destes animais que ainda hoje são mortos nos países do hemisfério norte .
O mais importante nesta experiência, foi a possibilidade de acompanhar o profissionalismo e interesse deste grupo de pessoas em preservar e estudar esta espécie que fascina. Sem falar em ter, na costa brasileira, visitantes tão ilustres todo o ano - um motivo a mais para visitar a Bahia.
Lá, cada dia flui como um filme . As coisas acontecem ao vento e sempre terá uma água de coco, um "causo" de pescador, um horizonte que abençoa o coração por sua beleza bem brasileira.
Passamos duas noites no Tomara. E o clima bem ao estilo brasileiro, descontraído, porque todos ali tinham um objetivo em comum: apreciar as jubartes. Ao entendê- las teremos condições de preservá- las, permitindo que elas continuem encantando aqueles que defendem o meio ambiente brasileiro.
Viver em alto mar nos ensina a respeitar a revelação dos ventos, pois como diz Amyr Klink: só o mar pode decidir se podemos continuar, só os ventos apontam nosso caminho!"