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O I CHING, O CÉU E A FLOR

Oscar Maron Filho

"Contemplar o caminho do céu
e praticar o seu movimento.
Isto é desígnio de plenitude."
(do Yin Fu I Ching - Tratado da União Obscura - Imperador Amarelo-3000 AC)
Todos nós quando nascemos possuímos uma vida: vamos crescer, envelhecer e morrer seguindo a trajetória da vida chamada Destino. Destino é algo que não podemos evitar, não temos como evitar, é uma vida que precisa ser vivida, zelada. E o I Ching vem como a grande ferramenta de assistência para nos ensinar como tomar decisões corretas, para nos ajudar a entender por que as coisas estão acontecendo, o que devemos fazer e como tomarmos as atitudes adequadas.

Após longo tempo de estudo e experiência com o oráculo, uma pessoa pode, sob influência e vivência do próprio oráculo, tornar-se mais sábia em suas atitudes. Por isso, o livro do I Ching passou também a ser observado como uma obra de filosofia que explica o sentido da vida e ensina caminhar em nosso Destino de forma saudável, harmoniosa e equilibrada.

Precisamos tomar decisões a todo momento, quer seja perante acontecimentos familiares, sociais, políticos, financeiros, emocionais ou espirituais. O I Ching nos orienta, nos coloca claramente perante a realidade de entender o que está acontecendo, como tomar a decisão correta no momento e forma apropriados, integrando o tempo, a pessoa e a situação de maneira harmoniosa.

"O homem se orienta pela terra,
A terra se orienta pelo céu,
E o céu se orienta pelo Tao".
Tao Te Ching-Lao Tsé

O céu é invisível, e sua força opera obscura e invisivelmente sobre todas as coisas que são visíveis. O homem deveria contemplar o caminho do céu (termo simbólico que significa destino), para entender através dessa contemplação como o mundo está evoluindo e o destino celestial está acontecendo para em seguida decifrar as circunstâncias de sua vida. Observar se está no momento de expansão ou recolhimento, qual a situação, qual o momento, qual a circunstância do destino para saber como se conduzir dentro do impulso de sua vida.

Toda vez que o homem está confuso e não consegue contemplar o caminho do céu, através de seu coração e seu silêncio interior, então a consulta ao oráculo do I Ching fornece essa orientação. O homem vive entre o céu e a terra, e conhecer a receptividade da terra e o movimento do céu é o próprio caminho do I Ching. Através dele conseguimos participar, praticar, e realizar a vida e o caminho, conforme o fluxo da força criativa do céu.

O I Ching ensina a contemplar o curso do céu, para tornar essa circunstância como seu destino e entrar no lugar certo, no momento exato, assumindo o papel que precisa ser preenchido. A partir desse momento, o destino do céu passa a ser o seu destino.

O I Ching é a pedra fundamental do pensamento Chinês, e um dos três clássicos principais do Taoísmo. Sua leitura contém conceitos fundamentais da filosofia, teologia, alquimia, magia e diversos ensinamentos ainda desconhecidos no Ocidente.

Existem dois estilos, duas escolas de estudos do destino. As escolas mecânicas e as dinâmicas. As escolas mecânicas são as astrológicas, baseadas em dados e referências da mecânica celeste, as respostas vem demarcadas conforme latitude, longitude e posicionamento do movimento do sol, da lua, dos planetas, das constelações e das estrelas. O outro grande ramo é a escola dinâmica que traz a resposta da fonte original, da consciência universal, do princípio do vazio, são as escolas de Oráculos, do qual o I Ching é dos mais antigos.

Os grandes mestres do Oráculo perceberam que para torná-lo mais eficiente poderiam associá-lo com dados astrológicos, como elemento complementar. E muitos mestres de astrologia perceberam que para a interpretação de um mapa mecânico chegassem ao ponto preciso, muitas vezes teriam que recorrer a uma fonte dinâmica, uma resposta do mistério (Oráculo) para confirmar a tendência no mapa astral. Um símbolo tem mil possibilidades de interpretação, entre as mil, qual delas na prática vai acontecer?

Dessa maneira as duas correntes tem a sua característica própria utilizando-a como carro chefe e, fazendo uso dos elementos da outra escola como complemento. Na tradição Taoísta existem três grandes escolas de I Ching: Zuo I, a escola dos cinco elementos, e a escola da Flor de Ameixeira.

A escola da Flor de Ameixeira foi criada pelo sábio Taoísta Sao Yuon, considerado historicamente um dos maiores estudiosos da prática do I Ching. Seu método mistura a escola mecânica baseada em dados astrológicos, com a escola dinâmica que traz a resposta da consciência universal.

Na escola Flor de Ameixeira são utilizadas diversas técnicas de interpretação e análise: o simbolismo puro dos trigramas, hexagramas, cinco elementos no ciclo de criação e destruição, troncos celestes, ramos terrestres, a boa e a má fortuna trazidas pelas divindades que governam as constelações de acordo com a antiga astronomia chinesa, a utilização dos sinais do universo, além de outras técnicas que superpostas conseguem captar o código das evoluções em curso e prever o destino. O conhecimento da Flor de Ameixeira para os praticantes do I Ching é de valor inestimável e sua consulta serve para nos colocar em posição de colher o destino.

Na linhagem dos antigos mestres Taoístas, depois de tanto consultar, ler, meditar, e refletir sobre o I Ching, os mestres incorporam o Oráculo no cérebro, no sangue, nos ossos, até chegar ao ponto de não mais jogá-lo, respondendo exatamente o que ele responderia, porque o mestre, absorvendo o conteúdo do I Ching, torna-se um homem oráculo.
Esse é o I Ching como ele é!