Artigos

ARCANO 9, O EREMITA
O SENHOR DA SABEDORIA ATÁVICA

Nei Naiff

Todos sabem, através de meus livros, que não sou muito adepto em equacionar o tarô com a numerologia, astrologia ou cabala, por não encontrar uma correspondência concisa e unânime para o conjunto das 78 cartas; como também, por não ser tão essencial o estudo de tais ciências para o aprendizado do tarô. Contudo, este arcano em particular (O Eremita) consegue se relacionar com os diversos aspectos do ocultismo sem haver a fragmentação simbólica de seu conteúdo original. Quando estudamos o mito de Cronos, Saturno, Odim, Merlim, Parcival, a esfera de Yesod da Árvore da Vida, o número 9 ou até a casa 9 do mapa natal, observamos um fio condutor entre eles trazendo à tona a busca da libertação espiritual, da continuidade da vida, das reformas necessárias ao progresso, das filosofias aplicadas, da análise universal da sociedade, do bem comum, do amor universal. Olhando por este prisma, o Eremita, evoca a sabedoria atávica.

Também, o Eremita, é uma das raras cartas que na maioria dos tarôs, não importa qual fonte simbólica ele tenha sido desenvolvido, é representado pela figura de um velho segurando uma lanterna e um cajado. Interessante tal aspecto porque todos os outros símbolos do tarô puderam ser figurados de diversas formas, mas a ornamentação do arcano 9 manteve-se praticamente intacta ao longo de 700 anos! Como, por exemplo, no tarô Visconti-Sforza (1450), Jacque Vieville (1634), Oswald Wirth (1888), Rider-Waite (1910), Tavaglione (1980), entre dezenas. Acredito que sua simbologia é tão profunda e tão bem expressada que dificilmente poderá se encontrar algo análogo que pudesse estabelecer as mesmas significações.

O homem idoso, símbolo da experiência de vida e sabedoria, está figurado neste arcano por um eremita, símbolo da busca da iluminação e maturidade espiritual. Este personagem, também um ancião, segura uma lanterna, símbolo do conhecimento adquirido pelo esforço próprio, que ilumina pequenas áreas, pois não precisa de muita claridade, símbolo da dimensão e expansão, para saber por onde prosseguir. Podemos assegurar que ele já conhece todos os caminhos da vida, seus percalços e obstáculos. Contudo, apóia-se em um cajado, símbolo da prudência e aptidão, para se localizar e afastar os infortúnios. Seus olhos serenos, rosto marcado pelo tempo, cabelos e barbas brancas, simbolizam a síntese da experiência de vida: erros e acertos, descidas e subidas, céu e inferno; pois entender os processos da dor e da vitória é nossa evolução espiritual. Mesmo que busquemos o significado desta carta nos tarôs com relação mítica, tais como a grega, egípcia, céltica, nórdica, chinesa ou ameríndia, o personagem envolvido sempre se valerá de sua imagem arquetípica em relação ao tempo, aprendizado, sabedoria, autocura, espiritualidade, autoconhecimento.

Analisando sob um aspecto mais estrutural e filosófico do tarô podemos dizer que a principal meta do arcano 9 é atingir seu arcano sucessor, a Roda da Fortuna, que representa o movimento, a mudança, o destino; dessa forma, um dos objetivos do Eremita é o controle sobre o futuro, a orientação determinada num objetivo, a modificação de seu status atual num outro diferente e evolutivo (9>10). Afinal para que existem os momentos de reclusão, reflexão, pesquisa? Não é para pensar como melhorar o futuro? Como achar novas soluções? Não é parando e pensando? Um asceta se isola para adquirir sabedoria e iluminação assim como nós buscamos uma melhor qualificação do status pessoal.

Porém quando o arcano 9 não consegue estabelecer sua meta, ele retorna ao seu interior através de seu arcano ressonante (9=1+8), a Lua, que simboliza o encontro de si mesmo, o autoconhecimento, o inconsciente pessoal, a busca da verdade interior; assim, esta qualidade, permite que o Eremita tenha o reconhecimento profundo da alma. Este sintoma (9>18) é o tempo de maturação pelo qual descobrimos o rumo das verdadeiras necessidades pessoais, como aqueles momentos de nossa vida em que a demora para atingir um determinado objetivo nos amargura pela lentidão, questionamos os resultados e buscamos melhores soluções para o aprimoramento de nosso projeto inicial.

Na prática, a linguagem desta carta, será diferente na técnica de previsão (jogos ou casas de futuro) ou de vivência (jogos ou casas do presente). Numa previsão teríamos que orientar o cliente dos possíveis percalços para a realização do objeto do desejo, mas que apesar das dificuldades tudo estaria garantido ao longo do tempo onde a realização é garantida. Porém, quando nosso coração está repleto de paixão ou a mente cheia de idéias emergentes como acalmá-los sem a devida canalização? O Eremita surge para dar um alento à alma ansiosa, pois no momento "não vemos" a solução para as nossas angústias e dilemas, mas o destino "vê" e revela que será um futuro promissor onde a tolerância, serenidade e paciência são fundamentais para um bom desfecho.

Agora, estar vivendo o arcano 9, O Eremita, é bem diferente! Ele se torna sinônimo de tranqüilidade, paz interior, amor-próprio, auto-estima; significa que estamos buscando, com responsabilidade, a melhor saída para os nossos objetivos. Nesta fase, conseguimos entender os obstáculos e os revezes das situações, também contamos com a reestruturação se for necessário. Dessa forma, obstáculos jamais serão problemas, apenas soluções; pois a capacidade de análise, pesquisa e síntese são proeminentes nesta fase de vida. Como esta carta evoca uma sabedoria atávica, não mero acaso, consegue-se ficar longe dos holofotes da vaidade, da paixão, da rivalidade, da sedução; contudo, mantém-se brilhantemente na trajetória pré-estabelecida. Viver um Eremita não é somente um sinal de sabedoria, é um aviso de que teremos o sucesso duradouro, pois absolutamente nada é fugas nas atitudes!

Viva, o Eremita!
E, viva o Eremita!