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O FEMININO E SEUS ARQUÉTIPOS

Rubia Coelho

"Imagine um ser que sangra mas não está ferido. Imagine um ser que sangra mas não morre. Será uma criatura mágica, mítica ou apenas uma mulher? Ou ambas as coisas?" ( A Tecela , Bárbara Black Koltuv, Ed.Cultrix)

Ao compreender os mistérios de sua própria natureza feminina, a mulher une-se a si mesma e a todas outras mulheres da terra, criando uma sinergia que se expande para além da vã compreensão. Esses mistérios - menstruação , sexualidade, gravidez, parto, lactação e menopausa - são a nossa história, dentro de nós mesmas e no mundo.

A mulher enquanto virgem, amante, esposa, mãe, conselheira, amiga, doadora de vida, a que nutre, tem ainda uma "obrigação ", no atual mundo moderno, de se mostrar bela, inteligente, serena, capaz (mesmo que seu salário seja menor do que o do homem na mesma função) e bem humorada, recebendo com sorrisos e doçura as infames piadas a respeito de seu estado pré-menstrual ou sobre suas possíveis observações geradas pela cor loira de seus cabelos.

A Astrologia pode vir ajudar os homens, através dos mitos e dos arquétipos. A desvendar um pouco mais os segredos deste ser tão complexo e, mesmo que o homem não consiga compreender totalmente a mulher, que ele possa ao menos mostrar-se cordial, gentil e afetuoso, que é o que todas nós mulheres, desejamos do fundo de nossos corações. Na realidade, podemos perceber que, afinal, no mundo inteiro, têm sido ressaltadas imagens ao mesmo tempo antigas e radicalmente novas do feminino que vão chegando ä consciência, através da mídia e de artistas. São forças interiores que provocam mudanças e transformam os modos mais fundamentais de pensarmos sobre nós mesmos, apesar do tempo que demoram para se tornarem padrões de comportamento.

Embora o tema seja absolutamente feminino, os homens também são influenciados pelos vários arquétipos, mesmo que vivencie-os externamente, ou seja, por mulheres pelas quais são atraídos ou pelas quais se sentem fortemente provocados.

Arquétipos são fontes derradeiras daqueles padrões emocionais de nossos pensamentos, sentimentos, instintos e comportamentos. No caso, arquétipo feminino é tudo o que pensamos com criatividade, inspiração, tudo o que acalentamos, amamentamos, gostamos, todas as fusões e impulsos de absorver, reproduzir, tudo o que nos impele á união e a proximidade humana, é lua, água, ciclo, é receber, acolher, enfeitar, proteger, é lutar pelo bem dos amados, é ser onça, leoa, anima e animus. E, assim como não somos apenas o signo do Sol no nosso mapa, mas sim a conjugação de todos os signos e planetas, também não somos apenas um dos aspectos apresentados e sim TODOS os arquétipos, já que somos influenciados por eles no decorrer de um mesmo dia e na própria vida.

A abordagem mitológica ajuda na compreensão do ser humano e seu posicionamento no mundo que o cerca. O mito serve como elemento de orientação. Assim como os pais ensinam aos filhos como e a vida, relatando-lhes as experiências vividas, os mitos também fazem a mesma coisa, porém num sentido mais amplo, delineando padrões para a caminhada existencial, com o recurso da imagem e fantasia.

É através do mito que nos preparamos para o símbolo. É uma mensagem, um modo de significação. Para Roland Barthes, "o mito é qualquer forma que substitui uma verdade ", enquanto Jung vê o mito "como uma verdade profunda de nossa mente ". Os mitos são o depositário de símbolos tradicionais. São pistas para as potencialidades espirituais da vida humana e o símbolo traduz uma RE-UNIÃO, um conceito de equivalência, ajudando-nos a compreender o que está sutil, que não é dito nem explicitado.

Assim, sem nenhuma pretensão feminista, baseando-mos nos princípios mitológicos, astrológicos e simbólicos, podemos fazer uma viagem através das histórias de todos os tempos para desembarcar na alma da mulher dos dias de hoje que, mesmo tendo conquistado novos valores e representando novos papéis, terá sempre em seus ideais a realização, junto com seu companheiros , do ETERNO FEMININO.

Os principais arquétipos gregos encontrados na vida das mulheres modernas e na sociedade atual podem ser assim resumidos:

Ártemis (Lua): é a mulher atlética, que aprecia a vida ao ao livre e os animais. Ama a natureza e dedica-se á proteção do meio ambiente. Respeitada, sabe viver só e sente-se bem assim. Pode ser vingativa e cruel, se ultrapassarem o limite imposto por ela mesma no seus encontros.

Afrodite (Vênus): é a mulher que se deixa levar pelo amor. Feminina, atraente, pode vir a usar o amor como arma mortal, satisfazendo seus desejos. Sensual, sensível e refinada, está voltada principalmente para os relacionamentos humanos, para a beleza e inspiração nas artes.

Atená (Palas): mulher extremamente profissional e prática, busca realizar-se numa carreira onde possa mostrar sua sabedoria. Equilíbrio, cultura e educação. Não briga á toa, envolvendo-se só em causas justas, ás quais defende com argumentos irrefutáveis, o que lhe concede quase sempre o merecimento da vitória.

Hera (Juno): mulher ligada ao poder. São as líderes políticas, governantes, regentes. Por outro lado, são apegadas á tradição, não abrindo mão de um casamento convencional, com moralidade, fidelidade e companheirismo, sendo boas esposas e "imperatrizes" em suas casas.

Deméter: é a mulher-mãe. Gosta de estar grávida, de amamentar e de cuidar de crianças. Geradora não só da vida mas também de sentimentos, emoções, experiências. É a que protege, acolhe e alimenta, é a que se apresenta com reservas aparentemente inesgotáveis de energia. A que cuida de tudo o que é pequeno, carente e sem defesa.

Perséfone: mulher atraída pelo mundo espiritual, pelo que está oculto Modesta e discreta, mostra-se misteriosa e mística, reservada e inquietante. Vive dividida entre o mundo real e o desconhecido. Pode ser ou Ter pensamentos sombrios, apesar de compreender o hiato que existe entre os dois mundos, não temendo a morte.

Conhecendo os mitos dessas deusas e de algumas heroínas gregas poderemos tentar compor o universo psíquico da mulher contemporânea e, como diz o Poeta Ministro: "quem sabe, um dia, o Super-Homem venha nos restituir a Glória; mudando como um deus o curso da História, por causa da Mulher".