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LEÃO-AQUÁRIO: O EIXO DO PODER

Valdenir Benedetti

Um dos encantos da Astrologia é que ela permite, através da reflexão, uma renovação constante de nossos conceitos, uma atualização das idéias e uma compreensão cada vez mais clara e eficiente da vida e de nossas necessidades.

A cada movimento do pensamento, a cada instante, uma revelação, uma descoberta, constatações que fazem os olhos brilharem e o espírito ficar satisfeito por sentir que estamos caminhando para frente, para uma integração cada vez mais consciente com as forças e com a Lei que rege o universo.

Comecemos pelos signos Leão e Aquário, e suas casas correspondentes, V e XI, e em que essas casas podem influenciar nossas vidas.

Identificamos facilmente uma tendência comum ligada ao signo de Aquário ou a Casa XI, que é a necessidade de se encontrar com o Futuro, de se ligar ao futuro, e identificamos nisso uma provável dificuldade de se ligar no Presente de fato. Talvez essa inclinação desse signo ou das experiências que vivemos nessa área do horóscopo, se deva ao fato de que, pelo mecanismo de oposição entre signos e casas, Aquário (Casa XI) representando o oposto complementar de Leão (Casa V), também simbolize a sombra, aquilo que não é experimentado imediatamente na Casa V, aquilo que tem que ser conquistado ainda, e que, portanto, se mantém em níveis não perceptíveis e conscientes para a pessoa.

Talvez uma leitura mais clara da Casa V nos possibilite uma compreensão melhor desse fenômeno. A Casa V e o signo que ela representa, Leão, é a casa que simboliza, entre outras coisas, a "cristalização" da identidade, a afirmação do "si próprio" no mundo, e por isso ela oferece a oportunidade de criar, que é um dos mecanismos para afirmar nossa presença e nossa identidade nesse plano da existência, seja através de um filho que podemos ter, ou um livro, ou uma obra qualquer que concretizemos e que nos represente e confirme ao mundo nossa existência, nossa presença.

A Casa V é a casa que melhor representa a possibilidade de estarmos presentes, de fazermos a diferença, de sermos alguém, de que nossa vida tenha um significado simplesmente por existirmos e por conseguirmos confirmar essa existência ao todo universal.

Através do que experimentamos em nossa vida e que é referente à experiência da Casa V, procedemos a caminhada para o Centro, nos tornamos iguais e capazes de ser o centro de alguma coisa, e daí o poder centralizador de Leão. A palavra Centro nesse caso tem o sentido simbólico de ser o centro gerador de alguma coisa, de uma cultura, de uma emanação energética, de uma vontade, como é estudado pelos antropólogos em termos de importância cultural do centro das coisas, o centro da aldeia, o centro da mandala, etc.

É a possibilidade de nos colocarmos no centro de nossas próprias vidas, de nos sintonizarmos com o centro de nós mesmos, e para isso, é necessário a consciência, o reconhecimento constante de que estamos vivos e presentes e em movimento dinâmico. O Centro não é um "lugar" estático, é o vértice, a resultante gerada pela própria dança da vida. É o ponto de encontro das forças que produzimos através do gesto, através do ato motivado pela vontade e pela consciência, ou mesmo pelo movimento circular inconsciente ao qual a coreografia dessa dança cósmica nos conduz.

O aspecto menos palpável, talvez o menos perceptível dessa capacidade original de estarmos no centro de nós mesmos e de estarmos presentes na existência é representado pela complementaridade da Casa XI e pelo signo que lhe é correspondente, Aquário. Através da experiência representada por essa casa, e proporcionalmente à nossa resistência em agirmos conscientemente e enfrentarmos os desafios da existência, pode ocorrer uma projeção compulsiva no futuro, um tipo de comportamento de sempre esperar o que há de vir e não se conseguir focalizar no que acontece agora, já.

Isso pode conduzir em alguns casos a um processo de alienação, de não se comprometer com nada do que está acontecendo, de não assumir responsabilidade sobre os próprios atos e sobre as pessoas que são ligadas a nós. Aquário e sua casa representam, por oposição a Leão e sua casa, a capacidade de descentralizar, de sair do centro de si mesmo e caminhar para a periferia, para a margem das experiências, e por isso o espírito revolucionário, a tendência de compartilhar a si mesmo e trabalhar em grupo, que é justamente o oposto ao talento natural de Leão de centralizar e liderar.

Quando Aquário se projeta em Leão, ou quando focalizamos nossa experiência possível de Casa XI na casa oposta, podemos nos tornar centralizadores inconscientes, e isso gera uma inclinação à tirania e autoritarismo, pois quando agimos de acordo com o signo oposto e de forma projetiva, temos a tendência a nos tornarmos uma caricatura do que esse signo e casa representam.

Em ambos os casos, tanto em Aquário quanto em Leão, exatamente por causa desse mecanismo projetivo e inconsciente, notamos uma característica de comportamento que é muito reveladora: um tipo de auto-suficiência que às vezes é até um tanto arrogante, e que se mantém mesmo quando o indivíduo está precisando claramente de apoio de seus semelhantes.

Esse tipo de auto-suficiência é justamente a manifestação da incapacidade de aceitar o presente, viver o presente. E quando não aceitamos auxílio de outras pessoas, seja para tocar nossos projetos, seja simplesmente para atender nossa necessidade natural de afeto, é porque não aceitamos os presentes que o universo nos dá, não aceitamos o presente propriamente dito e, portanto, não poderemos estar presentes.