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RAMANA MAHARISHI


Venkataraman Ayyar, que mais tarde seria chamado por seus discípulos de Bhagavan Sri Ramana Maharishi, veio ao mundo nas primeiras horas de 30 de dezembro de 1879, na pequena cidade de Tiruchuzhi, na região de Tâmil, ao sul da Índia, filho de Sundaran Ayyar e Alagmmal Ayyar.

Venkataraman cresceu normal e sadio; tinha um irmão mais velho, um mais novo e uma irmã caçula. Quando tinha doze anos seu pai morreu e a família dissolveu-se. As crianças foram morar com um tio paterno que tinha uma casa na cidade vizinha de Madura.

Venkataraman foi mandado inicialmente para a Escola Média de Scott e, a seguir, para o Ginásio da Missão Americana. Tinha uma surpreendente capacidade de memorização que disfarçava sua preguiça, permitindo-lhe repetir toda uma lição depois de ouvi-la uma única vez. No entanto, o que mais marcou sua infância era seu sono anormalmente profundo, pois não acordava com nenhum barulho e nem com agressões. Quando adormecido, podiam bater-lhe à vontade, que não acordava.

Alguns episódios começaram a delinear a missão espiritual que tinha pela frente. Ao ler um exemplar do Periapuranam, hagiografia dos sessenta e três santos tâmiles, Venkataraman foi possuído de extático espanto ante a existência de tanta fé, tanto amor, tanto fervor divino. Os relatos de renúncias levando à união divina inspiraram nele pasmo e emulação. Daí em diante uma corrente de compreensão começou a despertar nele, levando-o finalmente ao estado de iluminação, onde a mais pura e abençoada compreensão é constante e ininterrupta, sem que impeça, contudo, as percepções e atividades normais da vida. Nesta época Ramana tinha 15 anos, e sua iluminação veio de uma experiência onde sentiu plenamente o processo da morte, de onde emergiu reunificado à totalidade.

Esse novo estado de consciência o levou a perder o interesse no relacionamento com amigos e parentes, passando a entregar-se mecanicamente aos estudos. Uma outra conseqüência é que passou a não ter mais nenhuma preferência ou antipatia em relação aos alimentos: engolia tudo com indiferença. A partir daí, passou a entrar em continuados estados de êxtase espiritual e, finalmente, fugiu da casa do tio, cerca de dois meses após o despertar, indo para Tiruvannamalai, onde permaneceu em samadhi (absorção) por muito tempo, negligenciando completamente o corpo e os cuidados com o mesmo.

Em 1900 instalou-se nas cavernas da colina de Arunachala, um dos mais antigos e sagrados de todos os locais sacros da Índia, onde inicialmente estabeleceu-se numa gruta, mudando-se posteriormente para outras cavernas situadas no monte. Durante os seus primeiros anos na montanha Sri Bhagavan continuou com uma prática que já vinha mantendo anteriormente: o silêncio. Sua aura luminosa já havia reunido em torno de si um grupo de devotos e havia surgido um ashram (comunidade). Não apenas aqueles que procuravam a verdade sentiam-se atraídos por ele, mas também as pessoas simples, as crianças e até mesmo os animais. Crianças da cidade subiam o monte até sua gruta, sentavam-se junto a ele, brincavam por perto e voltavam felizes. Esquilos e macacos achegavam-se a ele e comiam nas suas mãos.

De quando em quando Ramana escrevia explicações ou instruções para os seus discípulos, mas o fato de não falar não se constituía num empecilho ao aprendizado pois, tanto na ocasião quanto no futuro, quando recomeçou a falar, seus verdadeiros ensinamentos eram transmitidos através do silêncio. Em 1922 deslocou-se para o sopé do monte, onde cresceu e vicejou o seu ashram.

A vida de Ramana Maharishi resplandeceu em santidade e deu origem ao relato de muitos milagres e prodígios. Em 1926 teve que abdicar do hábito de caminhar pela montanha de manhã e de tarde, pois as multidões de seguidores tinham crescido de tal modo que haviam se tornado incontroláveis; ninguém se dispunha a ficar no ashram quando ele saía, mas todos queriam acompanhá-lo.

Em 1947, cinqüenta anos após ter-se estabelecido em Tiruvannamalai, a idade e a diminuição da saúde impuseram restrições a Sri Bhagavan, que já não era acessível a qualquer instante em que se queria vê-lo em particular. Em 1949 um pequeno nódulo apareceu-lhe sob o cotovelo esquerdo. Inicialmente não foi considerado coisa séria, mas logo foi diagnosticado como um tumor maligno, causando alarme generalizado. Daí em diante estabeleceu-se um ar de tragédia no ashram. Os médicos sugeriram que se amputasse o braço, mas isso contrariava a tradição de que o corpo de um gnani (santo) não deve ser mutilado.

Em 14 de abril de 1950, Sri Bhagavan Ramana Maharishi deixou definitivamente o corpo, no derradeiro samadhi. O grande santo partia para sempre, deixando milhares de discípulos desolados e atônitos, que prosseguiram cantando por toda noite numa última homenagem ao amado mestre.

Ramana Maharishi é considerado o mais célebre santo da Índia mística moderna. Sua doutrina apresenta uma religião do espírito que permite a libertação total de dogmas, superstições e ritos.

MAPA ASTROLÓGICO DE RAMANA MAHARISHI

É esclarecedora a análise do mapa astrológico de um santo iluminado e de sua vida. O mapa astral de Ramana Maharishi - assim como o de outros iluminados - não apresenta um desenho sobrenatural e nem indícios incomuns. É um esquema comum, como todos os mapas astrológicos, mas com uma diferença: vivenciado por uma pessoa incomum, por um espírito extremamente evoluído, que incorporou os princípios arquetípicos contidos no seu mapa de uma forma consciente e plena, diferente dos seres humanos comuns.

Com Ascendente Libra, Sol em Capricórnio e Lua em Câncer, Ramana viveu intensamente o princípio cardinal, buscando ativamente sua verdadeira missão. Não se deixou levar pela segurança familiar, sugerida pela Lua em Câncer. Este princípio foi vivenciado ao buscar as grutas na montanha (Lua em Câncer com Sol em Capricórnio), onde Ramana mergulhou em profundos êxtases espirituais e encontrou seu caminho, sua segurança e sua missão. Com o Sol no setor da comunicação (Casa-03), Ramana usou o silêncio para comunicar suas percepções e ensinamentos (Sol num grande trígono com Urano e Netuno).

A quadratura de Saturno ao Sol é expressa pela maioria das pessoas comuns como uma busca incessante do pai que foi perdido de alguma forma, uma busca que se canaliza na intensa necessidade de reencontrar este pai suprimido. Ramana - que também perdeu cedo seu pai terreno - sempre buscou o "Grande Pai", e seus êxtases eram momentos de reencontro com este grande ser divino.

A oposição de Vênus a Plutão no eixo Casa-02/08, em signos de mútua disposição (Touro-Escorpião), mostra a mudança de valores, a profunda transformação propiciada por experiências relacionadas à morte que, no caso de Ramana, conduziram à iluminação. Foi no trânsito de Urano em conjunção a Vênus que ocorreu a experiência que o levou ao despertar, quando tinha 15 anos.

Urano na Casa-11, em Virgem, trouxe a comunidade mística - o ashram -, cujos princípios implantados por Ramana visavam a humildade, o serviço e a simplicidade, modelos virginianos de vida.

Ramana nos mostra como a vivência do mapa astrológico se condiciona à cultura e ao nível evolutivo do indivíduo. O signo de Capricórnio usualmente conduz à necessidade de uma subida incessante nos degraus da vida em busca de status, poder e prestígio. No mapa do santo o levou a subir montanhas em busca de cavernas, para reencontrar a divindade. Um mesmo princípio manifestado em níveis diferentes.

Compilação biográfica e análise do mapa astrológico de Ramana Maharishi por Otávio Azevedo.