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MITOS DE PLUTÃO

Frank Dutt Ross

Carl Gustav Jung foi o primeiro a perceber que povos de diversas culturas, sem o conhecimento uns dos outros, tinham mitos bastante semelhantes. Esta descoberta foi fundamental para o estabelecimento da sua teoria do inconsciente coletivo. Na mitologia dos mais diversos povos, encontramos simbolismos análogos para representar os arquétipos zodiacais e, entre esses simbolismos, um dos princípios mais marcantes é o que representa o princípio "Plutão".

O significado básico desse símbolo é a regeneração profunda, a morte, para que se possa renascer numa dimensão mais alta. A questão aqui é que essa morte pode se dar no sentido literal ou figurado: podemos ter uma crise profunda (morte emocional, Plutão/Lua); uma pesada humilhação (morte do orgulho, Plutão/Sol); uma separação (morte de um relacionamento, Plutão/Vênus), etc. Como a idéia de morte sempre evoca perdas, torna-se de difícil aceitação para os seres humanos. Costumamos não aceitar as "mortes" e nem as perdas, tentando lutar contra o princípio "Plutão". Mas isso, na verdade, trata-se de um completo desperdício de energia e uma forma segura de aumentar o sofrimento, pois a energia transformadora é muito mais forte do que nós.

Na mitologia grega essa energia era representada por Hades, o "Senhor do Mundo Inferior", para onde as almas iam depois da morte para serem julgadas. As que estivessem em débito com a "Lei" iam para o Tártaro arder no fogo, numa representação simbólica da dor que pode causar um retorno kármico da energia plutoniana. Nesse mito, a frágil situação do ser humano, indefeso contra a energia de Plutão, é mostrada na passagem em que Perséfone está colhendo flores silvestres e, de repente, a terra se abre, surgindo a figura de Hades, na forma de um ser assustador, que a agarra pela cintura e a carrega para o mundo subterrâneo. Praticamente em todas as culturas vamos encontrar um deus da morte, normalmente o mais temido dos deuses, que habita num lugar escuro e tenebroso, julga os seres humanos depois da morte e castiga os maus com suplícios terríveis. Na mitologia nórdica é a deusa Hela que faz esse papel. Mora no frio e escuro reino de Niflheim, julga os mortos e castiga quem merece. Na mitologia hindu, em sua fase védica, vamos encontrar Yama, o temível deus negro que pesava o coração dos homens depois da morte e os levava para a sua abóbada, onde os que não passassem na pesagem eram supliciados no fogo, em torturas bem semelhantes às descritas por Dante na Divina Comédia. Na mitologia egípcia vamos encontrar Anúbis, o deus-chacal, que também julgava os mortos pesando o seu coração para decidir o seu destino na outra vida, e também era o guardião das tumbas, impedindo que os condenados escapassem. É também nessa mitologia que vamos encontrar a Fênix, a ave que todo ano morre queimada numa morte dolorosa, para, em seguida, renascer mais bela e mais perfeita das próprias cinzas. No candomblé e na umbanda, que se fundamentam na mitologia yorubá, da África, vamos encontrar a figura de Naná, a senhora dos mortos, que dança sempre com o cadáver de uma criança morta no colo, e é mãe de Omolu, o senhor dos cemitérios.

Na mitologia hindu, em sua fase purânica, vamos encontrar as figuras de Shiva e Parvati. A trindade hindu é composta de três deuses: Brama, o criador; Visnu, o conservador; e Shiva, o destruidor, cuja especialidade é destruir o que não tem mais serventia, para que possa nascer outra vez. Parvati, a consorte de Shiva, também é uma figura plutoniana. Uma das formas em que ela aparece é como Durga, a deusa guerreira, montada em um Leão, com dezenas de braços, cada um empunhando uma arma que destrói gigantes em combates violentíssimos. Isto simboliza a energia de Plutão, que é capaz de destruir grandes estruturas, e da qual toda humanidade tem medo.

Existe ainda uma forma mais terrível de Parvati se apresentar: é a deusa Kali, muito semelhante a Durga, também guerreira, cheia de braços com armas, e montada em um leão; só que possui a pele negra, um colar de caveiras em torno do pescoço, sangue pingando do corpo e está sempre fazendo uma careta medonha com a língua para fora.

Esta idéia de deuses da destruição e da morte vem assustando os povos de diversas culturas há muitos séculos. Por isso, nada é mais temido do que o arquétipo de Plutão, essa força avassaladora que, de repente, começa a destruir tudo, sem misericórdia. Existem muito poucas pessoas que conseguem enxergar o seu aspecto positivo: que ela mata a forma estagnada para que a vida aí contida possa renascer. Aquela perda, naquele momento, é fundamental para que o indivíduo se liberte dos grilhões do passado, tome consciência de sua nova proposta de vida e continue sua jornada a caminho da luz.

Uma das tarefas mais importantes do astrólogo é fazer com que seus clientes entendam a proposta de Plutão no mapa natal, fazendo-os tirar o máximo proveito das suas crises para o seu processo evolutivo.