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A LOUCURA DO AUTOCONHECIMENTO

Nei Naiff

Todos esperam que um astrólogo ou tarólogo forneçam respostas bonitinhas a respeito de como tudo funciona na vida. Desejam que nós, profissionais do autoconhecimento, se é assim que podemos nos classificar, respondamos como tudo irá se desenvolver no futuro próximo. Sim, podemos delinear prováveis desenvolvimentos dos desejos pessoais, mas e daí?... O que importa dizer se o amor vai ou fica? Se a promoção, o dinheiro e a viagem ocorrerão? Se o desejo ardente da alma se concretizará?... Creio que para um profissional de astrologia ou de tarô, todos esses elementos, aos quais chamo de floreios do destino, sejam válidos, mas tratam-se de meros coadjuvantes se comparados à finalidade primordial da vida: o autoconhecimento.

Freqüentemente o cliente nos chega debilitado, fragilizado, com os olhos cheios de esperança por palavras que indiquem um alento ao seu âmago sofrido, pensando que seu ego ferido sairá vitorioso na batalha final com a resposta do oráculo. "Diga-me tudo, não me esconda nada, eu estou preparado...", ele sempre dirá. Será mesmo que está preparado para toda a sua verdade? O destino pode se tornar um dragão feroz ou, na melhor das hipóteses, feio e cruel perante os castelos de fantasias e sonhos dourados que vamos construindo ao longo de uma situação. Podemos ter uma certeza: quando alhuém agenda uma consulta pela primeira vez ou por "curiosidade", algum trânsito de Urano, Netuno e/ou Plutão, e a vivência de algum arcano evolucional do tarô - 8, 10, 12, 13, 16, 18, 20 e/ou S/N - estão fazendo alguma festa no destino da pessoa! E, não por mero acaso, somos os convidados especiais para cantar as árias de Carmem de Bizet ou de Dom Giovanni de Mozart, no caso, interpretar os planetas ou as cartas.

Quando nos sentimos afrontados pelo destino, com perdas e complicações, o nosso medo aflora e perdemos o contato com a realidade. Não somos capazes de enfrentar o problema porque o confronto entre o que nós queremos e o que o destino quer envolve coisas diferentes. Então, recuamos e sofremos. Este ponto é a característica principal do início do autoconhecimento que poderá nos levar à iluminação ou à escuridão interior. Se a pessoa gosta de sofrer e sentir-se culpada por todas as mazelas de sua vida, então ficará inerte, sem achar uma saída. Se a pessoa passa por grandes revezes e consegue continuar planejando a vida, então conseguirá encontrar uma solução satisfatória. Mas é difícil descobrir novos caminhos quando se está sem esperança, não é verdade? A saída se encontra em reconhecer nossas falhas, erros e potencialidades. Somente sabendo quais são nossos limites é que poderemos entrar em nosso autoconhecimento. Se sou orgulhoso, tenho que desenvolver a humildade; se sou egoísta, tenho que ser mais generoso; se sou reflexivo, tenho que ser mais expansivo. Dizer que a vida é um eterno ciclo e que tudo está fadado ao fracasso pode ser uma visão pessimista; poderíamos colocar que tudo na vida tem seu começo, meio e fim, e estarmos preparado para a renovação, as novas fases devida, poderá se uma grande experiência pessoal. Contudo, este reconhecimento não se faz numa consulta de tarô ou astrologia; poderemos até esboçar todas as qualidades e defeitos do cliente, mas, sempre, competirá a ele assimilá-los.

Embora as bases estruturais da astrologia e do tarô sejam distintas, o objetivo é o mesmo: colocar ordem no caos. Enquanto que na astrologia as regras são do estado do "ser", a do tarô são do "estar". Um observa a existência e outro a vivência. Assim, temos lições transpessoais nos trânsitos planetários e nos arcanos evolucionais e ambos remeterão ao autoconhecimento. Os planetas ditam as regras do destino e os arcanos refletem a natureza deste confronto (eu-destino), mas em todos os casos teremos o livre arbítrio em reconstruir ou autodestruir, dependendo do estado evolucional de cada um. Há um ditado que se adapta perfeitamente a essas lições - "Água mole em pedra dura (ser humano), tanto bate (ritmo do tempo) até que fura (fatalidade/necessidade)" - ou seja, para alcançar o autoconhecimento temos que dissolver o ego, o orgulho, a rigidez, o preconceito, a mediocridade, a insensatez, a mentira, a confusão, a ilusão; senão seremos impelidos às mazelas da vida. O autoconhecimento, embora difícil, indica o rumo da libertação, conduzindo à paz e à prosperidade.

AS LIÇÕES TRANSPESSOAIS DOS ARCANOS EVOLUCIONAIS
O tarô possui uma família de arcanos evolucionais que indicam as diversas facetas de um desenvolvimento pessoal. O segundo caminho do tarô, a Via Lunar, arcanos de 12 ao 21 mais o S/N, indicam a trajetória linear do autoconhecimento; contudo, somente os arcanos 13, 16, 18 e 20 podem ser considerados o "ponto alto" da experiência transpessoal rumo ao autoconhecimento. Vejamos o que cada um tem a nos dizer:

ARCANO 13, A MORTE: A experiência do novo assusta e projetamos o sofrimento da possível perda. Compreender que as transformações das estruturas obsoletas são apenas estágios cíclicos da vida se faz urgentemente necessário. Somos culpados, neste momento, pela falta de discernimento ocultada pelo ego. A dor faz parte da vida, o sofrimento é opcional. Curar as feridas emocionais, regenerando o plano mental e pensando numa nova vida é o melhor caminho a seguir, não assimilar as experiências obtidas é colidir com o próprio destino.

ARCANO 16, A TORRE: A transformação de vida indicada no arcano anterior (13) não foi suficientemente absorvida. Agora todas as estruturas e limites externos foram dissolvidos pela ação do tempo e do destino, no qual você é o único responsável pela falta de dissolução do próprio ego. Assim, o medo se apossa da alma, mas é inútil. Aceitar o desconhecido e as rupturas impostas pelo destino é se libertar da vida mofada e debilitada. Resistir ao inevitável transtorno é cair no abismo insondável da alma, não ir a lugar algum, dar voltas sobre si mesmo e nunca mais achar uma saída. O melhor que se tem a fazer é aceitar!

ARCANO 18, A LUA: O mergulho no abismo da psique é causado pelos múltiplos caminhos e possibilidades que surgiram na ruptura anterior (16), desde o possível retrocesso até a prosperidade. O sofrimento gerou medo e o medo a confusão. A falta da estrutura dissolvida pelo arcano anterior gera ilusões e devaneios, onde somos impelidos a buscar, urgentemente, um novo caminho junto ao caos que se apresenta. Discernir o falso do verdadeiro e o real do imaginário é um maravilhoso mistério pessoal que só é possível atingir na evolução espiritual. Acredite, a vida antiga já morreu e o que existem são fantasmas; e fantasmas não são mais realidades, somente tormentos que restam do que se foi. ARCANO 20, O JULGAMENTO: O ciclo terminou, tudo é novo, tudo é claro, tudo é definido. Os três arcanos anteriores (13, 16, 18) dissolvem, respectivamente, um elemento diferente da vida: interior, exterior e múltiplo; agora este arcano integra todos incondicionalmente; não há meio termo ou possibilidade de continuar com o que "eu quero" e sim com que "o destino quer". A metamorfose está completada, surge um novo ser em busca de um novo horizonte, o espírito se liberta e a individuação se processa. Negar a vida e o novo que surge causará dor, sofrimento, desespero e revolta. Neste momento não se pode jamais ver o destino apenas sobre a sua própria ótica; transcender os desejos humanos e observar os desígnios divinos é a única solução. Não há vitórias e nem retrocessos, apenas o novo que se inicia repleto de possibilidades.

Assim, na trajetória de uma consulta de tarô é possível desenvolver o diagrama da vida, numa visão ampla do que se deseja, do que os outros imputam ou o que o destino quer. De qualquer forma a vida não para nunca, nem quando estamos na mais profunda perda ou na mais perfeita prosperidade. Tudo é cíclico e inevitável: o ganho e a perda, o amor e o ódio, a paz e a dor. Entender, aceitar e assimilar a rotatividade do destino é viver em paz; portanto, aproveite a infinita loucura da autoconhecimento e siga vitorioso pelo seu caminho terrestre!