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A MORTE E O PROCESSO DE EVOLUÇÃO CONSCIENCIAL

Márvio Belliard e Silva

Um assunto fascinante é a morte biológica. No entanto, a maioria das pessoas nem quer ouvir falar nisto... Como se fossem viver para sempre.

A questão da tanatofobia (medo não justificado de morte iminente) pode ser trabalhada através das experiências extracorpóreas. Ao compreender que você não é o corpo, mas a consciência que o habita, fica mais fácil perder o medo da morte. Mas a questão intrigante não está relacionada com o medo da morte, mas com a forma como ela se dá.

A estreita ligação com os bens materiais sempre contribui para que as pessoas encontrem dificuldades na passagem pela morte física. É o apego excessivo às coisas desta dimensão: dinheiro, filhos, marido/mulher, posição social, e até mesmo ao próprio corpo físico.

Pude observar que nem todas as pessoas passam pelo descarte do corpo físico de forma serena e conformada. Muito pelo contrário, a grande maioria fica ressentida, e isto somente quando adquire alguma lucidez, pois o normal mesmo é o desconhecimento da morte biológica. Algo em torno de 90% das pessoas passam pela morte física sem saber o que ocorreu naquele momento e ficam um tempo errando pela dimensão crostal pensando que ainda estão vivas. Se permanecem assim até o próximo renascimento, perderão as oportunidade evolutivas que a dimensão extrafísica oferece, onde o indivíduo pode se dedicar ao estudo e ao preparo de sua programação existencial futura. É fato que nem todas as pessoas que passam para o reino dos mortos têm lucidez para entender a situação. Isto parece ser bastante lógico e claro. Como a maioria das pessoas se identifica totalmente com esta dimensão física, é normal e previsível que viva apenas em função das coisas típicas deste plano. Por isso, basta cuidar bem do corpo, alimentá-lo, vesti-lo, sempre procurando viabilizar a produção de meios para viver confortavelmente até o dia da morte física, quando tudo estará acabado de forma definitiva e inapelável. Pensando desta forma, a coisa parece bastante estúpida, pois de que adianta tanta preocupação com a vida física se tudo acaba lá mesmo, como a grande maioria das pessoas teima em pensar.

De certa forma senti algo parecido com a proximidade da morte quando vivenciei uma experiência fora do corpo numa certa madrugada. Com certeza, naquele momento meu íntimo mudara de algum modo: transcendera os valores e posturas aos quais estava habituado. Não mais encarava a vida sob a perspectiva única deste breve período aqui na Terra; a morte deixara de ser assustadora pelo simples fato de agora saber que o corpo físico é transitório e descartável e que continuamos a existir em planos mais sutis. A morte não existe como algo definitivo e imutável; é apenas um estado efêmero e periódico.

Ora, se tudo não acaba com a simples passagem pela morte biológica, torna-se evidente que não estamos neste planeta apenas em férias ou "just viziting this planet", como é possível ler em adesivos colados em alguns automóveis. Mas, o que estamos fazendo aqui? Será que temos algum projeto em especial a ser realizado nesta dimensão? Para a primeira pergunta não tenho resposta, mas para a segunda, somente de forma positiva poderia ser respondida. Ter este tipo de compreensão é bastante positivo, pois cria uma espécie de desafio em que a pessoa deseja convictamente descobrir o verdadeiro motivo de sua permanência nesta dimensão mais densa. Uma pista para a resposta poderia estar na tentativa de lembrar algumas vidas anteriores, ou todas, se possível. Desta forma, sabendo quem fomos em outras existências, poderíamos entender o que somos agora e o que estamos fazendo em termos multidimensionais. Através de um processo regressivo que desvendasse nossas vidas anteriores, conseguiríamos descobrir a verdadeira raiz de estigmas que nos perseguem na existência atual. Várias fobias inexplicáveis poderiam também ser solucionadas, buscando-se sua origem em acontecimentos longínquos. Através de experiências retrocognitivas analisadas de modo racional, sem emocionalismos e com a maior sinceridade possível, aumentamos o nosso autoconhecimento, nos preparando para as próximas vidas intrafísicas, o que, sem a menor sombra de dúvida, acelera nosso processo evolutivo.

Não basta, entretanto, apenas entendermos nosso objetivo nesta dimensão física. Afinal, existem outras dimensões mais sutis com as quais temos que lidar simultaneamente, uma vez que a multidimensionalidade não é estanque. As dimensões se interpenetram.

Existe também uma influência muito forte de uma dimensão sobre as demais, e isto é importante para que nos conscientizemos de que não estamos sós. É possível, por exemplo, nos sintonizarmos com seres que habitam outras dimensões mais sutis, simplesmente através da semelhança do nosso padrão de pensamentos. Em outras palavras, podemos ter excelentes companhias extrafísicas se nosso pensamento estiver direcionado para temas elevados como fraternidade e altos padrões de ética.

Como não paramos de pensar nunca, estamos sempre em contato direto com criaturas, visíveis ou não, que se aproximam ou se afastam, de acordo com a força atrativa de nossos pensamentos, e sua influência pode ser boa ou não, sem deixar de mencionar que, em ambos os casos, os semelhantes se atraem.

E nós, muito embora estejamos nesta dimensão mais densa, temos a oportunidade de nos manifestar em planos mais sutis através de nosso corpo menos denso - o corpo astral. De uma certa forma, trata-se de uma vantagem, pois temos a faculdade de nos manifestar em duas dimensões: uma mais e outra bem menos densa - a física e a astral. Nem todas as criaturas têm essa faculdade.

Os habitantes de outras dimensões mais sutis não podem se manifestar concretamente aqui neste plano sem utilizar um veículo próprio para esta dimensão, muito embora os mais sensíveis possam sentir sua presença e até mesmo sofrer as conseqüências dela, escutando vozes - através da clariaudiência -, ou quando se torna possível vê-los - através da clarividência -, ou, então, nos inúmeros casos de ocorrência de poltergeist - fenômenos sobrenaturais comuns em casas onde há crianças ou adolescentes com muita energia, que é canalizada pelos chamados espíritos brincalhões, gerando efeitos luminosos, sonoros, combustão, etc.

Uma conclusão a que chego é de que ninguém é posto a evoluir junto de outras pessoas por acaso. Existe uma razão para que um indivíduo esteja em determinada casa, trabalho e, também, naquela cidade, naquele país e neste planeta. Não se trata de tentar encontrar desculpa para tudo, mas encarar os fatos na tentativa de entender a finalidade de cada situação. Quando isto não ocorre, a pessoa acaba perdendo a oportunidade de deslanchar seu processo de evolução e, sabe-se lá quando esta oportunidade tornará a acontecer.

Não existem fatalidades, profecias e carmas que não possam ser alterados de acordo com a capacidade e os méritos de cada um. A isto se chama livre-arbítrio. Esta mudança de rumo pode se dar em sentido inverso na vida das pessoas que se encontram confortavelmente instaladas no alto de um falso sólido período intrafísico, arrogando-se na posição de inatingíveis, como pode ocorrer a qualquer um de nós se nos descuidarmos dos verdadeiros valores que importam no processo evolutivo da consciência: humildade, serenidade, confiança, desprendimento e, principalmente, estar sempre aberto às manifestações da multidimensionalidade.

Vale também ressaltar que nos planos extrafísicos próximos do plano físico também encontramos multidões de pessoas em estado lastimável de semiconsciência. São os desencarnados que se encontram num estado sonambúlico no mundo astral após a morte. São verdadeiras legiões de zumbis espirituais, envolvidos nas formas-pensamento engendradas durante a vida física pelo descontrole mental e emocional em que viviam. Dentro do monoideísmo espiritual em que se encontram, alguns pensam poder ressuscitar o cadáver e, assim, tornar a viver no plano físico. Outros sentem a falta das vibrações densas e pesadas do corpo humano. Outros ainda sentem dores atrozes devido à morte violenta que sofreram ou choram as oportunidades perdidas e a saudade dos familiares que ficaram encarnados. Se todas essas pessoas tivessem aprendido a projetar-se conscientemente para fora de seu corpo durante a vida física, provavelmente não estariam nessa situação, pois teriam compreendido que a morte é apenas a passagem da consciência para outra dimensão.

As experiências fora do corpo, portanto, permitem ao indivíduo um maior autoconhecimento como ser multidimensional e multiexistencial e, aos poucos, vão lapidando a consciência daqueles que optam por evoluir pela experimentação.