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AS LÂMINAS INVERTIDAS NO TARÔ

Giancarlo Kind Schmid

Um dos problemas, ou, digamos assim, uma polêmica comum entre tarólogos e estudiosos da área, é a questão das lâminas invertidas. Muitos tarólogos não adotam o uso das lâminas invertidas por considerar uma transgressão simbólica ao tarô. É comum encontrarmos em livros, interpretações negativas ou contrárias ao significado da lâmina em pé, e isso parecer confundir muitas vezes quem está pesquisando. Algumas linhas que adotam o tarô esotericamente, apontam a lâmina invertida como sendo um símbolo de magia negra; outras apontam para uma descaracterização do significado e uma perda energética de sua interpretação. Durante o final do século XVIII e início do XIX, algumas editoras fabricaram tarôs cujos arcanos maiores mostravam em pé ou invertida a figura da forma original (o mesmo acontece nos nossos baralhos comuns com os números e figuras dos naipes). Ao que parece, existia uma preocupação em manter o simbolismo conservado em qualquer posição que a lâmina se encontrasse.

Vamos meditar apenas no simbolismo que reveste o tarô: considerando que a rica alegoria encontrada principalmente entre os arcanos maiores é uma projeção do sistema arquetípico que reside no inconsciente coletivo, invertido ou não, seu significado não se desdobra em polaridade positiva ou negativa. Um símbolo nunca é essencialmente bom ou ruim; ele se modela de acordo com nossos conteúdos inconscientes (exemplo disso é que um Enforcado tirado para alguém preparado para lidar com o mundo espiritual ou a renúncia não terá conseqüências desastrosas como para alguém essencialmente materialista, que sofrerá muito).

Vejo a lâmina invertida no sentido psicológico como um potencial não explorado ou não reconhecido pela psique do cliente. O que chamo a atenção é o fato que a lâmina quando aparece invertida para o tarólogo, aparece em pé para o cliente, como um reforço para o inconsciente do cliente e um lembrete do que ele deve trabalhar ou avaliar. Portanto, devemos considerar uma lâmina invertida não como uma conseqüência negativa, mas, sim, um trabalho de reorientação pessoal, no qual o cliente deve reassumir o significado da lâmina naquela posição, conscientizando-se do melhor caminho a ser percorrido. O símbolo sempre possui um dupla atuação dependendo de como o utilizemos; é como a faca que nos serve em muitas coisas mas também pode nos ferir ou ameaçar...

O tarô é um caminho amplo e complexo que pode nos fazer refletir em muitos ângulos e é preciso sempre ter muito cuidado em nossas colocações e interpretações.

Giancarlo Kind Schmid é tarô-terapeuta, teórico junguiano e simbolista.