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ENXAQUECA: O SINTOMA DE UM BECO SEM SAÍDA

Mariann Laaksonen e Marília Sodré

Muita coisa já se sabe sobre a famosa enxaqueca. Diz-se que tem algo a ver com uma certa constituição familiar; diz-se também que precede o período menstrual e está relacionada à questão dos hormônios. Sabe-se que pode ser deflagrada a partir da fome, do fato de estar o estômago vazio naquele determinado momento. Como tratá-la, também já existem inúmeros procedimentos conhecidos: pouca ou nenhuma luz, aspirina, intervalos pequenos entre as refeições, banho quente e por aí afora.

O que muito pouco se fala é do aspecto emocional deflagrador da enxaqueca. Sabemos que pode estar relacionada, por exemplo, a um contexto que envolva o sentimento de raiva ou de impotência relacionados a uma determinada configuração afetiva onde o que se viveu ou o que se vive é uma situação à qual não se pode reagir. Essas emoções, por não terem podido ser reconhecidas, transformaram-se num misto de dor, enjôo e uma certa aversão ao contato acompanhadas por um desejo de isolamento, e aí se configura o quadro característico da enxaqueca. A pessoa não sabe dizer porque sofre pois a consciência e o pensamento não deram conta do que aconteceu: tudo se passou silenciosamente, insistindo porém em se expressar através do corpo, corpo este que fala sempre daquilo que desconhecemos de nós mesmos.

Temos inúmeras razões para pensar que as tensões e ansiedades representam importante papel no quadro da enxaqueca sendo, portanto, de extraordinária importância que o paciente possa aprender a reconhecer e a lidar com elas no sentido de auxiliar desta forma a terapêutica medicamentosa.

O objetivo de uma compreensão psicológica da pessoa que sofre de enxaqueca será de ajudá-la a criar respostas diferentes aos impasses emocionais. A enxaqueca assim como vários outros sintomas inscritos no nosso corpo, fica sinalizando esta necessidade: a de resolver ou encaminhar neles uma determinada questão interna a fim de romper o ciclo vicioso que resulta em sofrimento.

Em suma, um entendimento maior sobre os mecanismos deflagradores da enxaqueca é tão importante quanto um entendimento maior sobre seu aspecto clínico pois estes dois eixos convergem para uma mesma direção: livrar a pessoa de seu padecimento crônico. É só quando conhecemos as razões pelas quais fizemos determinada escolha que podemos reavaliá-la e substituí-la por outra. Isso parece verdadeiro para a compreensão de muitas outras afecções psicogênicas.

Mariann Laaksonen e Marília Sodré são psicanalistas.