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CURIOSIDADES HISTÓRICAS DO TARÔ

Nei Naiff

1) Você sabia que o artesão de tarô era uma profissão?
A produção do tarô esteve tão enraizada na cultura européia que surgiram os oficiais produtores de cartas. O primeiro decreto foi instaurado em 1455 por João II, rei de Navarra e Aragão (hoje compreende o sul da França e o nordeste da Espanha), incorporando os artesãos de cartas à Confraria de São Juliano dos Mercadores de Barcelona, onde regularizava o exercício da profissão, seu ensino, fabricação e venda. Seguindo os passos do rei espanhol, foi criado em 1592, em Paris, a Associação dos Fabricantes de Cartas, os "tarotiers". Durante este período até o final do século 19 houveram 492 gerações de famílias oficiais de edição de tarôs, sem contar as centenas de artistas autônomos.

2) Você sabia que o tarô foi monopólio estatal?
O consumo de cartas foi uma febre na Europa entre as Eras da Renascença e do Barroco (século 14 ao 18), a tal ponto que alguns governantes tentaram monopolizar sua produção e conseguiram. Entre 1583 e 1811, o governo espanhol manteve a Real Fábrica de Cartas, produzindo uma média mensal de 240.000 pacotes de cartas (tanto o tarô como o baralho comum), para consumo interno e de suas colônias. Também o governo português manteve a Gráfica Real de Cartas, entre 1769 a 1832. Outros governos prefeririam manter a produção na mão de famílias locais, porém introduziram decretos proibindo a exportação e importação das cartas, tais como a Itália (1441), França (1605) e Inglaterra (1628).

3) Você sabia que houveram várias manifestações artísticas sobre o tarô?
Talvez, uma das partes mais fascinantes, depois de sua aplicação oracular, foram as artes que envolveram o tarô. Há vários afrescos, com mulheres jogando tarô, pintados no século 15. Estão no Castelo de Issogne (Aosta - Itália), Casa Barromeo (Milão - Itália), Castelo Sforza (Milão - Itália); poemas, tais como de Merlini Cocai (1527) e de Girolando Bargalli (1572); óperas, tais como a de Tomazo Garzoni (Opera di Tomazo, 1585) e de Tchaikovsky (La dame du pic - 1890); pinturas, tais como a de Lucas Van Leuden (1520) e de José Carbonero (1860). Enfim, o tarô teve sua influência nas artes européias.

4) Você sabia que o tarô nunca foi proibido pela Igreja nos séculos anteriores?
Nunca ninguém foi condenado pela Santa Inquisição (1225-1875) por utilizar as cartas do tarô; a Igreja nunca proibiu o seu uso. Somente no século 20 é que a Igreja fez sua oposição oficial ao jogo de cartas como forma divinatória para os seus seguidores, como também de outros oráculos (astrologia, numerologia, quirologia). O que a Igreja fez proibições, nos séculos anteriores, foi somente para os seus clérigos de jogarem cartas ou qualquer outro tipo de distração profana - gamão, xadrez, tetractis, dança, música popular.

5) Você sabia que o tarô não é uma arte cigana?
Os ciganos são de origem indiana, embora alguns devaneiem que eram egípcios. Os ciganos eram uma tribo nômade que perambulavam pela região hindu e foram expulsos pelo conquistador islâmico Timor Lang entre 1390 e 1400. O principal oráculo na tradição cigana era (e ainda é) a leitura de mãos (quiromancia/quirologia). Eles vagaram pelos desertos da Pérsia, uns foram para a região do Mediterrâneo, outros para o leste Europeu; entraram, em 1417 no norte da Itália, pelo porto de Veneza, e em 1422 no sul da França, pelo Porto de Marselha, e dali invadiram todos os países da Europa. Portanto, quando aportaram no continente europeu, as cartas já eram produzidas com simbologia da sociedade local (roupas medievais) e por artesãos oficiais. Os ciganos somente começaram a jogar cartas de forma oracular a partir do início do século 19, depois que Antoine Court de Gebelin (1775) declarou (insensatamente) que teriam sido os ciganos, pretensamente de origem egípcia, que as teriam trazido para o continente. Estas histórias perduram até hoje no imaginário popular.

6) Você sabia que foi Antonie Court de Gebelin quem inventou o passado egípcio das cartas?
Entre 1775 e 1784, o francês, pastor evangélico e historiador, Gebelin, declarou em suas obras ter descoberto as origens do tarô através de uma simples visita de 15 minutos a uma cartomante. Disse que as cartas eram hieróglifos egípcios escondidos dos bárbaros, disseminadas pelos ciganos e que ele havia descoberto a chave para a tradução da escrita arcaica. Traduziu a palavra "Tarot" como sendo a "estrada real da vida" e diversos outros papiros; ele não escreveu sua obra para os ocultistas, mas sim para os historiadores e arqueólogos. Em 1820, quando Jean Champollion, descobriu verdadeiramente a chave para a escrita egípcia e copta, revelou-se que tudo o que Gebelin havia traduzido estava errado. Não existe a palavra "tarot" na língua egípcia e nenhum símbolo que se conecte com as cartas; assim, os conceitos de Gebelin foram esquecidos pela ciência, mas foram acalentados pelos místicos. Independente dele ter errado em suas análises históricas, é inegável que foi o primeiro a escrever ou tentar desvendar o que era o tarô, despertando o interesse em inúmeros ocultistas da época.

7) Você sabia que outros ocultistas inventaram outras histórias sobre a origem do tarô?
Entre 1850 e 1860, o francês, jornalista e ocultista, Éliphas Levi, fez sérias restrições ao trabalho de Gebelin e Vaillant, sugerindo que eles estariam errados: não teriam sido os ciganos que trouxeram o tarô para a Europa e nem foram os egípcios quem inventaram o tarô, mas, pasmem: os hebreus! Lévi declara que as cartas foram introduzidas por Moisés na cultura egípcia! Outros ocultistas, para não ficarem sem suas glórias, foram um pouco mais além: Papus e Paul Christian, entre 1870 a 1900, disseram que não foi nada disso: o tarô teria sido introduzido por Hermes Trismegisto, o também, não menos famoso, deus Thot! Em 1936, outro ocultista inglês, Carl Zain, também, para não ficar com menos mérito que seus antecessores, declarou que o tarô surgiu na legendária Atlântida!

8) Você sabia que foi Mac Gregor Matheus quem introduziu o tarô no esoterismo?
Em 1888, tomando por base o trabalho de Eliphas Levi, o inglês ocultista Mac Gregor amplia os conceitos e modifica as relações entre a cabala e o tarô. Desenvolve seu próprio sistema, fazendo a seguinte relação: cada letra do alfabeto hebraico tem uma relação astrológica e numérica; então, cada carta do tarô terá uma referência da letra, número e signo cabalístico. A partir desses conceitos cabalísticos em relação as cartas do tarô ele fundou uma ordem mística chamada Golden Dawn. Pela primeira vez, no final do século 19, o tarô é estudado exclusivamente por esotéricos; por fim, no século 20, todas as fraternidades se renderam ao estudo das cartas de tarô. Muitos dissidentes desta ordem, tais como, Arthur Waite, Aleister Crowley, Carl Zain, Paul Case, Manley Palmer e Israel Regardie, discordaram de seu grande mestre Mac Gregor e cada um deles criou uma outra fraternidade com diferentes sistemas simbólicos entre o tarô e a cabala. Atualmente temos mais de dez escolas diferentes aplicando este conhecimento; portanto tenha cuidado quando for estudar livros que contenham o assunto.

9) Você sabia que o ducado de Milão jogava tarô comendo panetone?
O panetone, muito apreciado em épocas natalícias, é originário da Itália, e há diversas receitas, como todos sabem. Por volta de 1395, um membro da família Visconti, Giangaleazzo, criou uma receita de panetone que os brasileiros conhecem muito bem - Panetone Visconti. Esta mesma família, apaixonada por cartas e guloseimas, mandou produzir o famoso tarô que chamamos de Visconti-Sforza: as cartas foram desenhadas para a comemoração de casamento entre Felipo Visconti (filho de Giangaleazzo) e Maria Sforza, em 1441; as famílias se uniram para fortalecer o ducado (governo) do norte da Itália. Também mandaram fazer vários afrescos sobre cartas em seu castelo: datam de 1450 e são as primeiras pinturas artísticas que se tem notícias.

10) Você sabia que o tarô egípcio mais estudado foi criado na Argentina?
O famoso tarô egípcio da Kier, tão estudado e exaltado, foi criado em Buenos Aires, pela Editora Kier, em 1970! O tarô foi uma encomenda para acompanhar uma obra, também da mesma época: La Cabala de Prediction, escrito por Julio Iglesias (não é o cantor, é um esotérico argentino). Na história do tarô tiveram poucos tarôs com iconografia egípcia, o primeiro ocorreu em 1896 (Falconnier), depois em 1910 (Papus), 1970 (Kier), 1981 (Ansata) e 1989 (Íbis).

Extratos do livro do tarólogo e astrólogo Nei Naiff - "Tarô, Ocultismo & Modernidade" da Editora Elevação.