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OS CHAKRAS E O DESENVOLVIMENTO PLENO DO SER

Paulo Murilo Rosas

Segundo os Tantras, no decorrer de uma vida todos têm oportunidade de experimentar a plenitude ao vivenciar as diversas fases da existência através da correta energização de cada um dos sete chakras principais. É como se tivéssemos uma história para contar, história com princípio, meio e fim, cujo final será sempre feliz, pois teremos passado pelas diversas fases da vida sem nos identificarmos com nenhuma delas e, finalmente, viveremos a plenitude do Ser.

A vida é um processo de autoconhecimento iniciado na hora em que somos gerados, desenvolvendo a partir daí as características do primeiro chakra, o básico ou raiz, chamado em sânscrito Muladhara, que é considerado o início e o fim de toda uma história de vida.

Esse chakra é básico porque nele começamos a desenvolver as características da nossa personalidade, o nosso desenvolvimento físico, mental e espiritual. Nesta fase da vida aprendemos a andar e, literalmente, a nos sustentar por nossas próprias pernas.

Manifestamos, então, a necessidade da lógica, da ordem e de nos estruturarmos, nos orientando no tempo e no espaço, desenvolvendo a nossa percepção através dos cinco sentidos. Neste nível, somos completamente dependentes dos nossos pais (cuidados, atenção, afeição, higiene, alimentação) e por isso desenvolvemos os nossos primeiros conceitos de lealdade, identidade e código de honra familiar. Estabelecemos as nossas raízes, identificamos a nossa tribo ou o nosso clã.

É fundamental para a nossa caminhada estarmos com este chakra bem estruturado, pois a estabilidade psicológica se origina na unidade familiar, nosso primeiro ambiente social.

O segundo passo nesse caminho é chamado de Svadhisthana Chakra, que significa "Suporte do Sopro da Vida". Nesta fase se dá a descoberta da sexualidade, o surgimento das características masculinas e femininas da nossa personalidade. Há o impulso de se voltar para fora do nosso clã, a necessidade de novos conhecimentos, de novos relacionamentos, de estabelecer novas amizades, de expandir o ambiente físico. Neste nível, desenvolvemos um senso de identidade pessoal, de limites psicológicos, de avaliação de nossas forças pessoais, modificando com isso a nossa forma de interagir, não só com a nossa família, como também com o mundo ao nosso redor.

É importante, para a nossa caminhada, desenvolvermos nesta etapa da vida a auto-suficiência, o instinto de sobrevivência, a habilidade para sobreviver, para se defender, para se proteger, para estar bem no mundo que nos cerca e desenvolver o talento de tomar decisões pessoais na hora certa.

O terceiro chakra, Manipura, que significa "Cidade das Jóias", influencia a terceira etapa, quando chegamos à fase da adolescência, a fase em que nos voltamos, aparentemente, contra a figura materna ou paterna para podermos nos afirmar como uma personalidade independente e conhecedora dos nossos limites; por isso, o Manipura também é chamado de "Centro do Poder Pessoal". Aqui se dá a formação do ahankara, que significa a noção do "eu", esse eu que se identifica com o corpo, com a mente ou com o intelecto e que está sujeito aos pares de opostos, gostos e aversões, tais como: feio e bonito, bem e mal, etc. Neste nível ocorre a passagem do modo como nos relacionamos com as pessoas para o modo como nos relacionamos e compreendemos a nós mesmos.

Este Chakra é também considerado o centro das emoções e por isso é imprescindível que se desenvolva na personalidade, entre outras coisas, a auto-estima, o auto-respeito, a auto-disciplina, a generosidade, a ética e a força de vontade, para não ficarmos ao sabor das emoções.

Segundo a tradição, até esta etapa da vida o indivíduo é chamado de bramachari (estudante).

Dizem os Tantras que o quarto chakra é o Anahata, "Som Místico", e é assim chamado porque se diz que a concentração nele permite escutar o Sabda-Brahma, isto é, o som primordial que surge sem o choque de dois objetos. Podemos deduzir que neste nível começamos a ter a necessidade de nos interiorizarmos e desenvolvemos uma forma de personalidade mais abrangente, em que a individualidade e o sentimento de universalidade começam a se fundir.

O Anahata corresponde ao nível afetivo, e nesta faixa etária já estaríamos com os pés no chão (Muladhara), com força para vencer os obstáculos que a vida nos impõe (Svadhisthana), com a nossa personalidade bem estruturada (Manipura), e aí, então, começaríamos a pensar em experienciar uma parceria mais profunda com o outro ou a outra, sem abdicar, no entanto, da nossa própria individualidade.

O yantra (símbolo geométrico) do Anahata são dois triângulos que se interpenetram, semelhante à estrela de Davi, e que representam o encontro de Shiva/Shakti (características masculinas e femininas da nossa personalidade), significando que cada indivíduo deve estar bem consigo mesmo para então poder criar uma parceria íntima de sucesso. O casamento é visto, neste nível, como a união de dois seres que se amam com a intenção de uma evolução consciente.

Neste chakra já há a necessidade de uma entrega a uma força superior, que alguns chamam de Deus e que se compreende como sendo "Amor", daí surgir a necessidade de uma religião que fale de amor e enalteça as qualidades desse sentimento. É interessante notar que muitas vezes, quando as pessoas têm uma forte decepção amorosa, se voltam para a religião como uma maneira de compensação e, então, entregam os seus sentimentos mais nobres a alguém que elas julgam jamais irá magoá-las.

Nesta fase da vida já estaríamos prontos para criar e manter o nosso próprio clã; por isso, essa etapa é denominada, segundo a tradição, de grhastha (casado).

O quinto passo, o Visuddha - "Grande Pureza" - está localizado no centro do pescoço e é considerado o centro da criatividade e verbalização de todas as nossas emoções, sentimentos e sensações. Neste nível se dá a compreensão de Deus Impessoal e, por isso, diz-se que o Visuddha é o centro do renascimento em termos espirituais, pois aqui se dá a liberação plena de nossa vontade à vontade Divina.

É interessante notar que na saída do útero materno temos que passar por um estreito canal, onde o nosso corpo é apertado e comprimido até conseguir sair e iniciar, com o primeiro alento, o ciclo da vida. É como se fosse um acordar para outra "realidade". Nessa região (Visuddha), ocorre algo semelhante, representado pela passagem da energia através do pescoço (parte estreita que liga o tronco à cabeça), onde todos os nossos valores, crendices e visão da vida devem ser abandonados para poder surgir o novo ser com a compreensão mais abrangente de si mesmo, de Deus e da vida.

Nesta etapa, já teríamos criado e preparado os nossos filhos para a grande experiência da vida e aí então poderíamos nos dedicar mais intensamente a buscar a resposta à pergunta que agora se tornou o objetivo maior de nossa vida: Quem sou eu? - Sou este ser limitado que se identifica com este corpo, esta mente ou este intelecto?

Esta região é chamada de " O portal da Grande Liberação", pois aqui se dá a necessidade do desenvolvimento dos potenciais latentes e o estudo da compreensão de si mesmo. Nesta etapa da vida o indivíduo é denominado vanaprastha (aposentado).

Segundo os Tantras, o sexto chakra é chamado de Ajna, que significa "Mando"; é também chamado de "Terceiro Olho", pois nele se dá a interação da mente e da psique, podendo levar à visão intuitiva e ao conhecimento (sabedoria).

Este chakra envolve as nossas habilidades mentais em todas as suas formas, nos permitindo avaliar com clareza as nossas crenças e atitudes e nos dá uma compreensão precisa e um entendimento rápido do que está sendo lido, escutado e meditado.

Neste nível, o indivíduo se vê impelido constantemente a buscar a diferença entre a verdade e a ilusão e, embora ainda permaneçam as vasanas (tendências da personalidade), o indivíduo já é considerado realizado, ou seja, consegue vivenciar na diversidade a unidade.

Segundo a tradição, neste sexto passo o indivíduo é denominado sannyasi (renunciante), pois aqui ele é capaz de, mesmo agindo, renunciar aos frutos da ação e é capaz de desapegar-se das percepções subjetivas e ver a verdade nas situações.

O sétimo e último passo, Sahasrara, o "Lótus de Mil Pétalas", é o que conduz à liberação de todos os sanskaras, tendências de virtude e pecado, e desejos reprimidos. Neste Chakra o amor pessoal é transcendido e se vive o amor universal.

Este nível é também chamado de transpessoal ou transcendental, pois se tem a consciência da realidade e a vivência da unidade do Ser.

Segundo a tradição, o indivíduo que chegou ao estágio de turya (completo, absoluto) é considerado o Sábio.

Ocorre nesta yuga (época), entretanto, uma grande dificuldade dos indivíduos vivenciarem plenamente os sentimentos, as sensações e as emoções de cada uma das etapas da vida ou destes níveis de consciência e, por isso, os rsis (sábios) desenvolveram e mapearam cuidadosa e criteriosamente a Sadhana Tântrica (caminho do Tantra), legando este precioso tesouro à posteridade.