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SUFISMO: O ENCONTRO COM A UNICIDADE

Fátima al-Yerrahi

O sufismo é o aspecto interior do Islã, e tem como objetivo purificar o praticante para que ele possa, cada vez mais, aproximar-se de Deus. Ele visa, em última análise, destruir a diversidade que nos afasta da divindade, para que possamos ser unos com Deus e Sua criação.

Partindo do princípio que é o ego o que nos retira desse estado de Unicidade para nos lançar num estado caótico de diversidade, onde nos perdemos de Deus, buscando cada vez mais afirmarmo-nos como um ser com especificidades próprias, o sufismo busca nos empurrar pela via oposta à que anseia nosso ego.

Esse tipo de concepção não é estranha, ao menos para aqueles que estão em contato com as teorias de C.G.Jung. Jung sempre enfatizou a importância do Self como o motor da nossa aproximação com a divindade; ele tem o Self como um fator inerente ao ser humano, que traz as dificuldades e os contratempos em nossa vida, jamais visando a satisfação do ego, mas, sim, a algo que o transcende, a parte divina que habita em nós. No Islã, o sufismo é a via que conduz do individual ao universal, do mundo das aparências ao mundo da Unidade. Na psicologia Junguiana é o Self quem nos faz percorrer essa mesma via.

O caminho que o adepto deve seguir para alcançar esse grau de purificação implica, além do respeito à Lei, numa prática religiosa esotérica, na sua iniciação e num método específico. Esses últimos se realizam por intermédio da presença de um guia. Esse mestre, que recebe a denominação de sheik na doutrina sufi, seria uma espécie de terapeuta, mas mais do que terapeuta, seu objetivo maior é auxiliar o praticante que se encontra aos seus cuidados a alcançar esse estado que se constitui na única meta. Essa relação sheik/dervixe (mestre/discípulo) só pode ser explicada pelo amor, já que é ilógica para a mente.

Assim, podemos perceber que a base em que se sustentam tais práticas é o amor, o amor transpessoal, que não faz parte da esfera do ego, mas que se constitui numa dádiva de Deus e no reconhecimento de um estado de não ser, ou de não existência, para que possa ser participante do sentimento de que o outro que se encontra aos seus cuidados não é outro que não ele mesmo.

Por isso, a importância de se ter um mestre, alguém que veja as falhas em nós mesmos e que, com sublime amor, nos aponte-as. Somente um outro, nesse caso, um Mestre, seria capaz de apontar nossas falhas e nos libertar da tirania de nosso ego. Nós, sozinhos, não conseguiríamos; necessitamos de alguém que funcione como um espelho para nós mesmos.

Todos somos possuidores de mente e coração. Para o sufismo, o coração se constitui em nosso centro divino; é ele que sabe verdadeiramente o que é melhor para nós e, assim, é o órgão que conecta os dervixes a esse caminho. A mente discrimina, secciona, corta, rotula, nomeia, separa do resto da criação; nos torna Marias, Paulos ou Ângelas. O coração unifica.

Ser sufi é buscar o estado de não mente, é aprender a escutar o coração, é acolher seus anseios mesmo que a mente os considere loucura. Ser sufi é estar no mundo e estar livre dele, participar dele, mas não sujeitar-se a ele, reconhecer que é e faz parte de algo maior, e que o único anseio de sua alma é o retorno para Aquele que a criou.

Fátima al-yerrahi é o nome místico sufi de Claudia Araujo, astróloga e terapeuta junguiana. É moderadora da lista sufinetti@egroups.com, a primeira lista de sufismo em língua portuguesa da internet.