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A LINGUAGEM DA NATUREZA

Tova Sender

Certamente existe uma linguagem universal anterior a toda forma de comunicação convencional. Esta linguagem pulsa em tudo, todo o tempo: está no homem, na natureza, no universo. Até o mineral mais inerte vibra energia e se comunica, a seu modo, com todo o resto. É tarefa do homem encontrar a chave do código no qual a linguagem cósmica está cifrada. Na realidade, somente o homem poderá fazê-lo. O cosmos é um organismo inteligente que envia sinais por meio de seus elementos, os seres dos planos superiores, os astros, os reinos da natureza. Tais sinais serão decodificados pelo homem, seja por meio da sensação, do sentimento, da mente, do psiquismo ou do espírito. Se não passarem pelo processo de decodificação, permanecerão no estado latente; mas a mensagem estará perdida.

Ao que tudo indica, os mitos se constituem numa tentativa de interpretar os sinais, revelando os padrões arquetípicos que se insinuam nos fenômenos naturais, em estreita interação com os arquétipos psíquicos inerentes ao homem. A produção mitológica, que representa o aspecto simbólico da linguagem implícita e subjacente a todas as coisas, detém um caráter coletivo, de acordo com os elementos culturais que a compõem, e resulta da interpretação de grupos específicos. Esta possibilidade, que se apresenta no nível coletivo sob a forma dos mitos, ocorre também no nível individual, quando o homem, penetrando o âmago da sua essência, decodifica a linguagem cósmica, não somente por meio dos elementos culturais do grupo ao qual pertence, como antes mencionamos, mas também dos elementos que compõem a sua própria subjetividade, numa leitura única, peculiar e particular. É o seu modo próprio de interagir com o universo, criando uma ponte entre o seu mundo interno e as suas circunstâncias externas. Esta ponte parece ser uma via de mão dupla, onde o estado psíquico afeta as circunstâncias externas e vice-versa. Não causa estranheza a afirmação de que o mundo externo afeta o interno; talvez, o que venha a parecer novo seja a possibilidade de o psiquismo - tendo em vista seus conteúdos - interferir nas circunstâncias da vida, o que significa, o mundo interno afetando a realidade externa. É certo que esta possibilidade só é perceptível quando ocorre a decodificação dos sinais que pulsam todo o tempo em tudo. Sem a leitura, a mensagem permanece cifrada e velada.

A ponte entre o mundo interno e a realidade externa não se rege pelas leis de causa e efeito. Há uma relação de reciprocidade e simultaneidade entre as vivências psíquicas e os fatos circunstanciais. À primeira vista, não há qualquer relação entre os eventos em interação; para um olhar desatento, a ocorrência de situações análogas e sincronísticas entre o mundo interno e o externo são freqüentemente justificadas como simples coincidências. Para um olhar ainda mais desatento, nem mesmo as "coincidências" são percebidas.

Decodificar os sinais do universo é possível: é conectar-se com todo o resto formando uma unidade absoluta com o cosmos; é comunicar-se com os fenômenos naturais numa linguagem sem palavras, mas cheia de significados; é entrar definitivamente num processo de autoconhecimento, entendendo a si mesmo como um modelo para a totalidade, mas também como um reflexo da totalidade. Estabelecer o contato com os símbolos é um aprendizado que pode exigir tempo e atenção. Os resultados, contudo, são compensadores. É preciso começar; o resto, acontece. A linguagem dos símbolos está em toda parte enviando sinais por meio dos códigos da natureza. Para uma mente treinada, uma simples borboleta na vidraça da janela pode se constituir em mensagem, resposta, aviso, aconselhamento. Talvez uma boa fórmula para iniciar o exercício desta prática seja: Quer transformar a si mesmo? Observe as suas circunstâncias. Quer transformar as suas circunstâncias? Observe a si mesmo. Assim, o mundo adquire um outro sentido: os valores se modificam, as pequenas coisas se tornam importantes, as grandes coisas perdem o valor, e o homem se renova.