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O RELACIONAMENTO DE MESTRE E DISCÍPULO

Djall Kull (O Mestre Tibetano)

A atenção de um Mestre por um homem é atraída pelo brilho da luz interior. Quando essa luz consegue alcançar uma certa intensidade, quando os corpos estão compostos por matéria de uma certa qualidade, quando a aura atinge um tom determinado, quando a vibração alcança uma velocidade e medida específica, e quando a vida de um homem começa a ressoar ocultamente nos três mundos (som esse que é ouvido através da vida de serviço), um Mestre em particular começa a testá-lo pela aplicação de alguma vibração superior e pelo estudo de sua reação àquela vibração. A escolha de um discípulo por um Mestre é dirigida pelo carma passado e por antiga associação, pelo raio no qual ambos possam ser encontrados, e pela necessidade do momento. O trabalho do Mestre (tanto quanto possa ser tornado sabiamente exotérico) é variado e interessante, e está baseado na compreensão científica da natureza humana. O que um Mestre tem a ver com um discípulo? Enumerando as coisas principais a serem feitas, podemos ter alguma idéia do escopo de Seu trabalho:

Ele tem que acostumar o discípulo a elevar sua intensidade de vibração até que possa continuamente vibrar alto e, então, auxiliá-lo até que essa vibração alta se torne a medida estável dos corpos do discípulo.

Ele tem que ajudar o discípulo a efetuar a transferência de polaridade dos três átomos inferiores da Personalidade para os átomos superiores da Tríade Espiritual.

Ele tem que supervisionar o trabalho executado pelo discípulo enquanto este produz o canal entre a mente superior e a inferior, enquanto ele constrói e aplica esse canal (o antakarana). Esse canal finalmente substitui o corpo causal como meio de comunicação entre o superior e o inferior.

Ele ajuda de maneira definida a vivificação dos vários centros e seu correto despertar, e mais tarde auxilia ao discípulo a trabalhar conscientemente através desses centros e a levar o fogo circulante, em correta progressão geométrica, da base da coluna vertebral até o centro da cabeça.

Ele dirige o trabalho do discípulo em diversos planos, registra a extensão do trabalho realizado e o efeito de longo alcance da palavra falada, tal como enunciada pelo discípulo. Esse é (ocultamente falando) o efeito, nos planos interiores, da nota da vida exotérica do discípulo.

Ele expande a consciência do discípulo de várias maneiras e desenvolve sua capacidade de incluir e contatar outros tipos de vibração além da humana, para compreender a consciência de outras evoluções que não a humana, e movimentar-se com facilidade em outras esferas além da esfera terrestre.

Sua meta imediata, ao trabalhar com o discípulo, é prepará-lo para a primeira iniciação. Isso acontece quando a capacidade do discípulo para manter uma certa intensidade de vibração, por um espaço de tempo específico, esteja desenvolvida, o espaço de tempo sendo aquele em que ele deve se apresentar ante o Senhor das duas primeiras iniciações. Isso é conseguido por um gradual aumento da vibração, a poucos e determinados intervalos, e depois mais amiúde, até que o discípulo possa vibrar com mais facilidade na vibração do seu Mestre e manter a vibração por um espaço de tempo ainda maior. Quando puder mantê-la por esse período (cuja extensão, lógico, é um dos segredos da primeira iniciação) será submetido à aplicação de uma vibração ainda mais alta que, se mantida, o capacitará a permanecer ante o Grande Senhor por um período de tempo suficiente para permitir a cerimônia da iniciação. A aplicação do Cetro da Iniciação assegura, então, algo que estabiliza a vibração e torna mais fácil progredir na tarefa de vibrar até a intensidade mais alta dos planos mais sutis.

Ele desenvolve a capacidade do discípulo de trabalhar na formação do grupo. Ele estuda sua ação e interação no seu próprio grupo filiado. Ele trabalha com o corpo causal do discípulo, sua expansão e desenvolvimento, e ensina o discípulo a entender a lei do seu próprio ser e, através desse entendimento, leva-o à compreensão do macrocosmo.

Agora, esses vários aspectos do trabalho do Mestre poderiam ser tratados em profundidade e demonstrariam ser esclarecedores para o leitor. Todos os parágrafos acima poderiam ser ampliados e se mostrariam de extraordinário interesse. Mas o ponto principal que procuro aqui destacar está em conexão com os estágios anteriores desse trabalho, antes do discípulo ser admitido nos estágios posteriores da intimidade mais chegada com seu Mestre. O Mestre, durante esse período, trabalha com seu discípulo, principalmente:

a) - à noite, quando ele está fora do corpo físico;

b) - durante os períodos em que o discípulo medita.

Conforme o êxito na meditação, conforme a capacidade do estudante em excluir o inferior e contatar o superior, assim se apresentará a oportunidade do Mestre efetuar com êxito o definido trabalho científico que requer Sua atenção. Estudantes de meditação sentir-se-iam surpresos e, talvez, desencorajados, se pudessem perceber quão poucas vezes provêem as condições certas, na meditação, que permitam a seu vigilante Instrutor produzir certos efeitos. Pela freqüência da habilidade do estudante em assim proceder, vem a indicação de progresso e a possibilidade de levá-lo a um outro passo. Enfatizai esse ponto do ensino, pois ele traz consigo um incentivo a maior diligência e dedicação. Se o próprio discípulo, por seu lado não provê as condições corretas, as mãos do Mestre estarão atadas e muito pouco poderá Ele fazer. O esforço-próprio é a chave do progresso, unido à consciente e compreensiva dedicação ao trabalho proposto. Quando esse esforço é feito com perseverança, então vem a oportunidade do Mestre executar Sua parte do trabalho.

À medida que o discípulo medita com precisão acurada, traz seus corpos inferiores ao alinhamento e - reitero com ênfase - o Mestre somente será capaz de trabalhar com os corpos do discípulo depois que o alinhamento tiver sido efetuado. Nesse esforço, as condições ideais entre discípulo e Mestre e a inter-relação correta serão alcançadas.

No período probatório, antes de ser admitido como discípulo, em que o homem está sob supervisão, ele é deixado quase inteiramente a si mesmo, e somente tem consciência da atenção do Mestre em raros e irregulares intervalos. Seu cérebro físico não está receptivo, com freqüência, ao contato superior e, apesar de seu Ego (Eu Superior) estar ciente por completo da sua posição no Caminho, o cérebro físico não está ainda em condição de sabê-lo. Mas sobre esse ponto, nenhuma regra exata pode ser estabelecida. Depois que um homem tenha feito com seu Ego ou com seu Mestre por várias vidas, ele poderá estar ciente disso. Os indivíduos diferem tanto que nenhuma regra universal pode ser formulada em detalhe.

O Mestre faz uma pequena imagem do probacionário, imagem essa que é guardada em certos centros subterrâneos no Himalaia. A imagem é ligada magneticamente ao probacionário e mostra todas as flutuações de sua natureza. Sendo composta de matéria emocional e mental, ela pulsa com cada vibração desses corpos. Ela mostra suas tonalidades predominantes e, estudando-as, pode o Mestre aquilatar rapidamente o progresso feito e julgar quando o probacionário pode ser admitido num relacionamento mais íntimo. O Mestre observa a imagem a intervalos determinados, raramente a princípio, uma vez que o progresso feito nos estágios iniciais não é tão rápido, mas com freqüência cada vez maior, conforme o estudante de meditação compreende mais prontamente e coopera mais conscientemente.

Chega o tempo em que o Mestre vê, pela inspeção da imagem, que o grau de vibração necessária pode ser mantido, que as eliminações requeridas foram feitas e uma certa profundidade de cor foi alcançada. Ele pode, então, expor-se ao risco (pois é um risco) e admitir o probacionário dentro da periferia de Sua própria aura. Então torna-se um discípulo aceito.

Durante o período em que o homem é um discípulo aceito, o trabalho feito pelo Mestre é de real interesse. O discípulo é designado para classes especiais, dirigidas por discípulos mais adiantados, sob a supervisão do Mestre e, apesar de poder assistir às aulas gerais, no Ashram (a Câmara do Mestre, para ensinamento), está sujeito a um treinamento mais intensivo.

Nos primeiros estágios, o Mestre trabalha de quatro maneiras principais: (1)- A intervalos, e quando o progresso do discípulo o justifique, Ele "acolhe o discípulo em Seu coração". Essa é uma afirmação esotérica de uma experiência muito interessante à qual o discípulo pode estar sujeito. Ao final de alguma aula no Ashram, ou durante alguma meditação especialmente bem sucedida, quando o discípulo tenha alcançado um certo grau de vibração, o Mestre o acolherá junto de Si, trazendo-o da periferia de Sua aura ao centro de Sua consciência. Ele lhe dá, então, uma tremenda expansão temporária de consciência e o capacita a vibrar numa intensidade pouco comum para ele. Daí a necessidade da meditação. A recompensa de tal experiência excede, de longe, qualquer das partes extenuantes do trabalho; (2)- O Mestre trabalha nos corpos do discípulo com a cor e produz, nesses corpos, resultados que capacitam o discípulo a fazer mais rápido progresso. Agora, vereis porque tanta ênfase é colocada na cor. Não é somente porque ela conserva o segredo da forma e da manifestação (segredo que precisa ser conhecido pelo ocultista), mas a ênfase é assim posta, para que ele possa cooperar conscientemente no trabalho do Mestre nos seus corpos e seguir, inteligentemente, os efeitos produzidos; (3)- A intervalos determinados, o Mestre toma seus discípulos e os capacita a contatar outras evoluções, tais como os grandes anjos e devas, os construtores menores e as evoluções sub-humanas. Isso pode ser feito pelo discípulo, sem perigo, graças ao efeito protetor da aura do Mestre. Mais tarde, quando iniciado, o discípulo aprenderá como se proteger e fazer seus próprios contatos; (4)- O Mestre supervisiona o trabalho de estimulação dos centros nos corpos do discípulo, o do despertar do fogo interior. Ele ensina ao discípulo o significado dos centros e sua correta rotação quadridimensional e, no tempo certo, Ele trará o discípulo a um ponto onde ele possa, conscientemente e com pleno conhecimento da lei, trabalhar com seus centros e trazê-los a um ponto onde possam ser estimulados com segurança pelo Cetro da Iniciação.

Apenas toquei, do modo mais breve, em algumas das coisas que um Mestre tem a fazer com Seus discípulos. Não as considero os últimos estágios do progresso de um discípulo. Conduzimos todos por passos graduais e, ainda assim, discípulos aceitos são raros. Se, pela meditação, pelo serviço e pela purificação dos corpos, os agora probacionários puderem ser levados a fazer progresso mais rápido, chegará então o tempo para a comunicação de conhecimento adicional. De que serve dar fatos dos quais o estudante não pode ainda fazer uso? Não perdemos tempo em interessar intelectualmente aqueles que procuramos ajudar. Quando o discípulo se tiver habilitado, quando se tiver purificado e estiver vibrando adequadamente, nada poderá impedir que lhe venha todo o conhecimento. Quando ele abrir a porta e alargar o canal, luz e conhecimento fluirão.

Texto extraído do livro "Cartas Sobre Meditação Ocultista", de Alice Bailey, ed. Pensamento