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INTEGRAÇÃO CORPO E MENTE NA ORIGEM DAS ACADEMIAS

Luiz Claudio Moniz

Hoje em dia, o culto ao corpo tem levado milhares de pessoas a se matricularem em academias no intuito de modelarem seus físicos de acordo com as exigências da mídia. Mulheres e homens com corpos esculturais desfilam para cima e para baixo na televisão, ora em grupos de pagode e axé music, ora em novelas, sem falar das revistas e do cinema.

Principalmente quando vem chegando o verão (isso até parece música), a galera fica indócil, precisa malhar para entrar em forma. Afinal de contas, não dá para pagar um mico na praia ou na piscina com aquela barriguinha, aqueles pneuzinhos, ou ainda, com aquele culote, o bumbum caído, ou um aspecto meio raquítico. O negócio é ficar sarado.

A verdade é que as pessoas estão ficando cada vez mais exigentes com a aparência. Será isso tudo uma grande futilidade? Ou as coisas estão realmente mudando?

Uma coisa é certa, o radicalismo, seja ele qual for, é extremamente prejudicial. Geralmente quem só pensa em malhar deixa a desejar em outros assuntos que requeiram o uso do intelecto e, por sua vez, quem vive com a cara enfiada em livros ou estudos tende a negligenciar a parte física. O ideal seria a conjugação dos dois. Mas como isso é possível? A solução estaria num local onde as pessoas pudessem fazer as duas coisas, ou seja, cuidar da mente e do corpo simultaneamente, como aquele velho ditado: mens sana in corpore sano.

Academia é uma palavra que surgiu no século V a.C. O termo se originou de Academos, herói grego que emprestava seu nome a um bosque onde Platão construiu sua escola. Lá, ensinavam-se filosofia, matemática e ginástica, embora ensinar talvez não seja a melhor palavra nesse contexto. Isto porque também na academia de Platão o diálogo vivo era o que mais importava. Assim, não é por acaso que o diálogo foi a forma escolhida por Platão para registrar por escrito sua filosofia.

Foi no ano de 399 a.C. aos 28-29 anos que Platão perdeu seu grande orientador, Sócrates, obrigado pela sociedade ateniense a beber cicuta, suicidando-se. No entanto, o filósofo ao um perder um mestre ganha outro, Saturno, o deus/planeta do amadurecimento e da busca do conhecimento por si mesmo, pela experiência, pelo tempo. É justamente neste período que vivenciamos o "retorno de Saturno", ou seja, a época em que o planeta volta ao mesmo grau em que estava no momento do nascimento. Como nos assevera Stephen Arroyo:

"O primeiro ciclo de Saturno através do horóscopo de nascimento durante aproxima-damente os primeiros vinte e nove anos de vida é antes do mais, baseado na reação ao condicionalismo do passado, ao karma, às influências dos pais e às pressões sociais. Durante este período da vida, as pessoas são, regra geral, bastante inconscientes de quem e do que são fundamentalmente. Mas depois, com o primeiro regresso de Saturno, é, muitas vezes, como se uma velha dívida fosse paga e muitos velhos modelos e obrigações kármicas fossem subitamente removidos. Nesta altura, pode-se experimentar um estado de ser profundamente complexo; trata-se, na verdade, ao mesmo tempo, de um sentimento de limitação inalterável na estrutura da vida, e de um sentimento de liberdade interior que, em muitos casos, é acompanhado por uma alegria inspiradora e grande exuberância. O sentido de limitação provém de uma pessoa se tornar consciente, numa profundidade maior do que antes, do que é o seu destino e, por isso, do que tem de fazer no futuro. Acabaram-se as oportunidades e alternativas aparentemente intermináveis; agora sabe-se que se fizeram experiências, que se puseram de parte as ilusões da juventude e que, de futuro, é preciso trabalhar para desempenhar o nosso papel num vasto drama, mesmo que não se tenha idéia do modo como nos foi distribuído o papel que representamos. As responsabilidades para conosco e para com os outros são agora vistas com redobrada clareza e talvez algumas dessas responsabilidades sejam sentidas como pesadas e limitativas. Mas ao mesmo tempo, pode-se experimentar uma profunda liberdade interior, resultante da compreensão de que não somos mais presas de velhas obrigações, de velhos medos, de velhas restrições interiores".

Foi com esse sentimento que o jovem Platão resolveu sair de Atenas. Estava decepcionado com a democracia, que havia condenado seu mestre. Outro fato determinante foi o medo de ser perseguido, pois seus esforços para salvar Sócrates acabaram por granjear poderosos inimigos entre os líderes do governo.

Seu destino é um pouco nebuloso. Dizem que primeiro foi ao Egito. Lá entrou em contato com a sabedoria milenar dos sacerdotes egípcios, aprendendo também sua mitologia. Esta seria de grande importância nos seus diálogos, como por exemplo o Fedro, onde utilizando-se do mito de Thoth, o inventor dos hieroglifos, critica o texto escrito, que por ser estático é "fechado em si mesmo. Depois, publicado, leva sua própria vida, passa a ser de domínio público, é de todos e de ninguém, dirige-se ao mesmo tempo, indiferentemente, ao sábio e ao ignorante. Enfim, abandonado a si mesmo, em caso de contestação na ausência de seus autores, é incapaz de defender-se ou de polemizar com seus adversários. Assim, inerte, imutável, intocável, petrifica o sentido e monologa consigo mesmo". Depois, seguiu para a Sicília e para a Itália, onde entrou para a escola que teria sido fundada por Pitágoras. Há quem afirme que inclusive esteve na Judéia e também na Índia, país no qual aprendeu as meditações místicas, ampliando inclusive seus conhecimentos sobre reencarnação. Este tema é desenvolvido em vários textos, tais como A teoria da reminiscência (Ménon e Fedro), A sentença final (Górgias) e A distribuição das sanções (Fédon), entre outros.

Durante doze anos, como pode ser visto, bebeu de diversas fontes, o que serviu como base para o seu eterno e único estilo de filosofar. Aos quarenta anos, amadurecido pelas experiências vivenciadas (Platão chegou inclusive a ser vendido como escravo), retornou a Atenas. Estava pronto para passar tudo que havia aprendido em suas viagens.

É por volta dos quarenta anos que o indivíduo vivencia um outro período importante, refletido também pelos astros. Estamos diante de dois aspectos cruciais: Saturno em trânsito em oposição a Saturno natal e Urano em trânsito em oposição a Urano natal. São tempos de reavaliações profundas sobre a vida, onde o feedback que vem do exterior (qualidade típica da oposição) nos atinge de uma forma dupla: por um lado a cobrança da realização e do sucesso como indivíduo e por outro, a necessidade quase visceral de um rompimento com tudo que se tornou cristalizado demais, rotineiro demais, burocrático demais. Como se pode ver, a cabeça dá um, verdadeiro nó (cenas deste drama humano podem ser vistas no filme Beleza americana, ganhador do último Oscar, protagonizado por um quarentão típico da classe média).

A resposta de Platão foi altamente criativa (exemplo a ser seguido por todos nós): fundou sua famosa academia, sua própria escola de investigação filosófica e científica, onde sobre as portas podia-se ler a seguinte frase: "não permitam a entrada de ninguém que não saiba geometria", ou seja, que não tenha noção de espaço e forma. Assim, a conjugação do binômio mente/corpo é o ideal, é a verdadeira coniunctio opositorum, ou melhor, a união dos opostos, afim de uma plena integração do indivíduo com ele mesmo.