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NOSTRADAMUS: O HOMEM QUE VIU O AMANHÃ


Nostradamus nasceu Michel de Nostredame, em 14 de Dezembro de 1503, na cidade de Saint Rémy de Provence. Foi com o avô materno - Jean de Saint Rémy - que Nostradamus aprendeu grego, latim e hebraico. Desde cedo, Michel demonstrou aptidão excepcional pela matemática e um grande amor e mestria pela "ciência celestial", a astrologia. Apesar de destacar-se em todos estudos acadêmicos, sua preferência recaía nos livros de ocultismo e astrologia. Já nessa época, era apelidado de "pequeno astrólogo" pelos colegas. No entanto, numa época da inquisição e perseguições religiosas, a dedicação à astrologia poderia ser considerada prática de bruxaria. Por isso, seu pai aborreceu-se com o seu desejo de tornar-se astrólogo, e em consideração às ponderações paternas, Michel foi estudar medicina na Universidade de Montpellier, graduando-se em 1525.

Durante o Século XVI, o sul da França sofreu uma forma crônica de peste bubônica, popularmente chamada de "Le Charbon", devido às pústulas horríveis e negras que deixava no corpo. Nostradamus passou a dedicar-se de corpo e alma ao combate à peste, movendo-se em meio à doença, prescrevendo água fresca ou ar puro, ou tratando-a com ervas, e assim salvou inúmeras pessoas, aplicando métodos totalmente inconvencionais para a época. Já casado e pai de um casal de filhos, em 1537, Nostradamus encontrava-se em Agen, e ao retornar de mais um dia de trabalho para salvar pacientes da peste, encontrou a mulher e os filhos agonizando e com as faces cobertas pelas pústulas do "Le Charbon". Toda sua técnica de cura falhou para os seus. A notícia da tragédia espalhou-se pela cidade como um escândalo. A maioria dos pacientes o abandonou. Desprezado por todos, Nostradamus foi considerado suspeito pela Inquisição, e assim fugiu de Agen na sua mula. Durante anos, peregrinou solitário em busca da autodescoberta. Foi nesse período que seus poderes proféticos despertaram.

No ano de 1544 ocorreu um dos piores surtos da peste naquele século. Nostradamus foi a Marselha, depois a Aix, a capital de Provence, para tratar dos doentes. Trabalhou de forma incansável durante 270 dias sem parar, obtendo um grande índice de curas. O parlamento de Aix deu-lhe uma pensão vitalícia e os cidadãos lhe trouxeram recompensa e gratidão. Depois foi para Salon, onde permaneceria até o fim de seus dias. Aos 45 ano, casou-se com uma rica viúva, e foi morar numa casa agradável. À noite, quando a maioria das pessoas dormiam, Nostradamus consultava os aspectos astrológicos, e sentado sobre o tripé de uma tigela de metal cheia de água, entrava em êxtase, ouvia e tinha visões. Ele via as imagens se sucedendo, uma após outra. Em 1550 publicou o primeiro almanaque com as suas profecias, que se tornou um enorme sucesso.

Em seguida, Nostradamus começou a escrever um livro definitivo que descreveria todas as possibilidades do futuro da humanidade até o fim dos tempos. O livro teria dez volumes intitulados "Centúrias", tendo cem quadras cada uma, totalizando mil profecias. O trabalho iniciou-se em 1554, e no ano seguinte foi publicada a primeira Centúria. A reação foi intensa. Devido aos acertos de suas profecias, nesta época Nostradamus já era considerado um gênio pela refinada sociedade, e tornou-se moda na corte de Paris.

Nostradamus alcançou o ponto máximo de sua carreira profética um ano e oito meses antes de morrer. Em 1556 fez o testamento de seus bens. Nesta época, uma gota se deteriorara em hidropisia, e em 1 de Julho um padre foi chamado para dar extrema unção. Quando seu assistente e discípulo - Chavigny - o cumprimentou com um esperançoso "Até amanhã", Nostradamus replicou: "Você não me achará vivo ao nascer do Sol".

Na manhã seguinte, Chavigny conduziu a família e amigos com cautela, pela escada, rumo ao gabinete do mestre. Nostradamus jazia sem vida, prostrado no chão, entre a cama e o assento.

O MAPA ASTROLÓGICO DE NOSTRADAMUS

Nostradamus nasceu em 14 de Dezembro de 1503. O Sol se encontrava no signo de Capricórnio, a Lua em Escorpião e um stellium (aglomerado) de três planetas em Câncer aparecia na quarta casa astrológica. Este aglomerado de planetas, com Júpiter em conjunção a Saturno e Marte, mostra claramente a importância que teria seu avô materno, Jean St. de Remy, que o iniciou nos estudos e na astrologia. Depois, foi o avô paterno que continuou conduzindo-o na sua educação. O ascendente Áries reforça a posição de Marte nesta quarta casa, e todo Stellium aponta a grande intensidade com que o profeta viveu seus primeiros anos, fortemente apoiado pela família, apesar da disciplina que sempre lhe foi imposta e bem aceita. Foi uma infância feliz e segura.

O stellium compõe com a Lua e Urano o grande trígono de Água que aparece no seu horóscopo, sem dúvida responsável pelos seus dons místicos e proféticos. A Lua em Escorpião mostra a tendência para a magia e prática do ocultismo, predispondo-o também a emoções intensas e por vezes secretas, que podem tê-lo deixado na defensiva quando sentia-se atacado. No entanto, com Plutão e Lua na oitava casa, o profeta vivenciou experiências difíceis e marcantes, como a perda da primeira esposa e dos filhos deste casamento, bem como ameaças e perseguições por parte da Inquisição e intrigas populares. Esta posição astrológica que denota perdas, ameaças e grandes tensões, também carreia o potencial para grandes transformações, como a que se deu com o profeta ao fugir de Agen após a perda dos entes queridos, mergulhando em profunda auto-reflexão, que no final lhe liberou as habilidades proféticas. A oposição de Netuno em Capricórnio ao Stellium em Câncer acentua o lado místico do personagem, bem como sua predisposição a arriscar sua própria vida no trabalho, sacrificando-se para salvar outras vidas em meio ao cenário da peste contagiosa, atuando por vezes num misto de mártir e herói.

A linguagem cifrada e simbólica que Nostradamus utilizou nas suas profecias, deve-se em parte ao próprio caráter enigmático do autor, fortemente indicado pelo grande trígono de água, bem como à necessidade canceriana de preservar-se e manter-se seguro, de forma que uma suas palavras não despertassem a ira de instituições políticas ou religiosas. Como as principais posições do mapa astrológico de Nostradamus encontram-se estreitamente ligadas ao oculto e ao secreto, não é de se admirar que muito de sua obra e do seu trabalho tenha se desenrolado às ocultas. Nostradamus poderia ter sido um agente secreto. O seu acesso ao mundo invisível é um talento e uma atração inata, e o horóscopo inteiro parece conspirar para este desígnio. O dom da profecia é um fato, mas com a Lua na oitava casa astrológica e no signo de Escorpião, não é de se admirar que as Centúrias venham carregadas de previsões fatalistas, muitas vezes antevendo o fim de eras, reinos e mundos.

A presença de Urano em Peixes na décima-segunda casa deve ter ativado em Nostradamus a paixão pelos estudos científicos, aos quais sempre procurou associar o ocultismo. Urano em Peixes também dotou o médico Michel de Nostredame de procedimentos incomuns para curar seus pacientes, completamente fora do padrão de sua época. Por outro lado, a quadratura de Urano a Plutão afetou toda sua geração: vidas eram tomadas ou transformadas pela peste e pelas convulsões políticas e religiosas causadas pela Reforma Protestante.

O Sol em Capricórnio conjunto a Mercúrio e ao Meio-Céu aponta a intensa atividade intelectual do profeta e a grande aceitação popular dos seus escritos. A carreira, a fama, e a ascensão ao meio aristocrático da época, estão estreitamente relacionados a esta conjunção. O ascendente Áries dotou-o de iniciativa e impetuosidade, bem como do pioneirismo com que procurava tratar seus pacientes. Mas canalizando este ascendente para a quarta casa, através de Marte em Câncer, vamos encontrar Nostradamus desempenhando com igual competência a atividade de "gourmet". Sua receita de geléia de marmelo valeu-lhe elogios do núncio papal de Avignon, pela doçura celestial.

Uma lição importante deste mapa é a força de um Stellium. O grande trígono poderia permanecer pouco ativo, caso não fosse impelido pela força impressionante do Stellium. Antes de ser um profeta em busca de profecias, a sensação que passa o grande trígono é que Nostradamus foi tomado pelas suas profecias, como se elas tivessem escolhido a ele como o seu mensageiro.

Considerações sobre o mapa astrológico de Nostradamus por Otávio Azevedo.