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LUDWIG VAN BEETHOVEN:
O GÊNIO REBELDE DA MÚSICA

Nos círculos musicais conta-se que em certa ocasião dirigiram-se a Wagner para perguntar-lhe a respeito de quem ele considerava o melhor dos músicos. O mestre respondeu que, evidentemente, era ele mesmo.
- Mas, e Beethoven? - tornaram a perguntar-lhe.
- Beethoven?!... Senhores, Beethoven É A MÚSICA!

Ludwig van Beethoven nasceu em Bonn, em 16 de dezembro de 1.770. Nesta época, Mozart tinha 14 anos, Goethe 21, e Napoleão acabara de nascer. Sua família era natural da antiga região de Flandres, ou seja, de origem flamenga. Embora tenha nascido em Bonn, o cenário principal da vida de Beethoven foi Viena, que no fim do século XVIII era um centro musical por excelência. Quase todos os aristocratas e burgueses ostentavam possuir uma orquestra própria, na qual em muitas ocasiões tomava parte o próprio cabeça da família. A figura do compositor, no entanto, como experimentaram Haydn e Mozart, era ainda imprecisa: seus meios de subsistência dependiam sobretudo da permanência em mansões nobres, pois o cargo reunia, ao mesmo tempo, o papel de funcionário, de cortesão e de criado.

Porém Beethoven não se submeteria a essas situações e faria da liberdade uma das metas predominantes de sua vida: ele foi o artista livre que a História sempre irá lembrar.

Seu avô paterno, igualmente chamado Ludwig van Beethoven, havia emigrado para a Alemanha a fim de tentar a vida como músico. Aprendeu a tocar vários instrumentos e conseguiu se elevar à categoria de músico na capela da corte. Casado com uma mulher que foi levada à bebida, buscou entre seus filhos algum que revelasse talento musical e, efetivamente, o segundo, Johann, herdou do pai a inclinação pela música, vindo a ser tenor e violinista da corte. Mas teve a desgraça de herdar da mãe o gosto pelo álcool, o que converteu o pai de Beethoven num homem autoritário e brutal no momento de relacionar-se com a família, onde apenas se ocupava de seus filhos, sobretudo do mais velho - Ludwig - para obrigar-lhe desde os três anos a tocar o clavicórdio durante horas, quando intuiu nele dotes prodigiosos.

Entrega-lhe inclusive um violino em miniatura, para que Ludwig aprenda a tocá-lo, mas o pequeno não oferece a menor resistência; pelo contrário, demonstra desde cedo uma grande inclinação à música: aprende as notas musicais antes das letras do alfabeto, e como ainda é uma criança, suas primeiras lições de música são interrompidas muitas vezes pelo choro.

O mundo naquela época estava cheio do nome de um menino prodígio, Mozart, e semelhante que fez ao pai daquele, quando Ludwig estava para completar 8 anos, seu pai o apresenta para dar alguns concertos dizendo que tem apenas seis.

Aos 14 anos, Beethoven alcança o posto de segundo organista da corte. Através deste trabalho conhece o conde Waldstein, que exercerá uma influência decisiva em sua carreira musical. O conde consegue que Beethoven viaje a Viena para ser apresentado a Mozart - mestre já consagrado na Europa -, que aos 28 anos escuta aquele jovenzinho improvisar ao piano e emite um juízo clarividente, dizendo: "Atenção! Este jovem fará com que o mundo fale dele!".

Mas a sua primeira e feliz estância em Viena é interrompida pela notícia da morte de sua mãe. Tem 17 anos e essa morte o converte rapidamente num adulto. O pai, cada vez mais embrutecido pelo álcool, é expulso da corte e é entregue a Beethoven a metade do salário daquele, com a condição de que tome a seu cargo a educação de seus irmãos. Mas é pouco, e Beethoven trata de ganhar mais dinheiro dando aulas. Como professor de música, entra nas casas mais abastadas, trava relação com nobres de educação esmerada, amantes da música, e que sabem admirar seu talento. As mais altas hierarquias de Viena abrem-lhe suas portas. Mas não se deixa intimidar por ninguém, nem sequer pelos grandes personagens. Por isso, em várias ocasiões, se alguém está falando quando ele interpreta, depois de censurá-lo, não vacila em deixar as teclas e abandonar a sala ante a estupefação geral. Para Beethoven a música era algo sagrado, e não suportava a banalidade das pessoas em sua presença.

Aceita, então, hospitalidade no belo palácio do príncipe Lichnowsky, mas já começa a manifestar-se seu espírito independente, rebelde a toda espécie de atenções, e quando a etiqueta do grande palácio lhe resulta intolerável, Ludwig não duvida em reunir seus pertences e mudar-se para um pequeno alojamento no centro da cidade. Começa aqui a manifestar-se aquela característica de instabilidade que o acompanhará durante toda a sua vida e que em 35 anos de permanência em Viena, o induziu a mudar de domicílio até trinta vezes, chegando inclusive a residir em três casas ao mesmo tempo.

Em 1795, aos 25 anos, Beethoven encontra-se no ápice da fama. Esta, se estende mais além das fronteiras da Áustria. O seu êxito é tal, que começam a chover-lhe os concertos. Sob seus dedos rechonchudos, o piano se converte num instrumento mágico.

A sua personalidade durante este período se consolida, sobretudo na composição de obras destinadas ao piano: as primeiras sonatas, numerosas variações, os primeiros quartetos... mas a necessidade de expressar uma emoção não somente individual, mas coletiva, faz com que Beethoven busque além do piano a riqueza instrumental, toda a potência sonora de uma orquestra com a totalidade de seus instrumentos. Nascem assim a "Primeira e a Segunda Sinfonias" e os três primeiros concertos para piano.

É em 1796, aos 26 anos, quando mais promissores eram os prognósticos para o futuro e a tranqüilidade financeira parecia estar garantida, que Beethoven percebe os primeiros sintomas da terrível surdez que iria agravar-se implacavelmente com as passagens dos anos. Seu estado piora a partir de 1801, a doença o deprime e ele pensa em se suicidar, porém supera a crise e continua sua carreira. Paradoxalmente, o problema o leva a criar uma arte de complexidade e beleza incomparáveis.

Sua vida sentimental é motivo de permanente angústia. Ao longo dos anos desfilam ante Beethoven muitas mulheres jovens, as quais admira e pelas quais é admirado e surge-lhe um desejo nunca satisfeito: de formar uma família, ter uma casa própria, uma esposa. Mas de todas as mulheres às quais se dirigiu, por nenhuma foi correspondido. Uma das causas que impediram, sem dúvida, que qualquer destas relações resultasse em matrimônio, é que estas jovens pertenciam à aristocracia. Um matrimônio celebrado fora do próprio âmbito social era impraticável naquela época.

É o período em que compõe a "Terceira Sinfonia", também chamada "Heróica" e que marca sua maturidade criadora. Surgem em seguida a "Apassionata", a "Quarta Sinfonia", a Quinta e a Sexta", e a Europa inteira o escuta eletrizada. O seu reconhecimento exterior chegou a tal altura que todos, quando visitam a capital austríaca, querem vê-lo, querem conhecê-lo. Financeiramente, porém está completamente falido. Chovem-lhe os títulos, mas Beethoven ri-se e exclama: "Com eles não se come!".

Em 1815 apresenta-se como pianista pela última vez. Ainda não completara os 45 anos mas a surdez o isola cada vez mais do público. Até este momento o ouvido teve suas alternativas, mas a partir dos 45 anos só conversa com o mundo através da escrita.

Em 1824 completa a "Nona Sinfonia", mas Beethoven parece intuir que lhe resta pouco tempo. Apenas terminada obra, já quer logo executá-la em público. Aquele foi seu último concerto. O mestre está presente, mas não pode dirigir a orquestra; de um palco contempla, ao finalizar, como a sala vem abaixo pela forte impressão recebida. Pode ver o público em pé, mas não pode ouvir seus aplausos, do mesmo modo que tampouco pôde ouvir a obra. Durante seus dois últimos anos somente escreve quartetos, porém coloca neles seu coração de tal forma, que ele mesmo confessa: "Nunca minha música teve semelhante expressão. Cada vez que recordo estas notas, meus olhos ficam úmidos".

No dia 26 de março de 1827, no final da tarde, Beethoven expirou, vítima de uma pneumonia que degenerara em hidropisia. Seus restos descansam juntos ao de Mozart, no mesmo cemitério vienês, numa parceria que nunca existiu em vida, mas que após à morte uniu o que restou dos dois maiores gênios da música clássica.

O MAPA DE BEETHOVEN

Beethoven nasceu no signo de Sagitário. O forte stellium de planetas na Casa VIII denota as constantes crises que enfrentou ao longo da vida: a figura problemática do pai autoritário e alcoólatra (Sol), a surdez (Mercúrio), e a morte por pneumonia (Mercúrio) seguida por uma hidropisia (Lua). Estas posições também refletem uma circunstância na qual sempre esteve envolvido: os favores dos nobres e reis para o seu sustento e morada (Sol e Lua nesta Casa VIII).

A Vênus em Capricórnio na Casa X indica sua paixão nunca correspondida por mulheres da alta aristocracia. E Plutão na cúspide desta casa mostra as constantes crises no campo profissional, a situação de ser o melhor do mundo sem dispor de recursos financeiros e até do principal sentido que necessita um músico: a audição.

Urano no Ascendente em quadratura a Saturno na Casa V lhe garante a natural rebeldia, o não submeter-se às hipócritas etiquetas palacianas, a constante busca da liberdade pessoal, a capacidade de desafiar a corte, os nobres, e retirar-se no meio de um concerto quando sentia que sua música era desrespeitada pelo murmurinho.

Igualmente a Mozart, Beethoven tinha Saturno na Casa V: ambos não tiveram uma infância normal e foram obrigados a trabalhar desde cedo pelos pais que, em ambos os casos, identificaram a possibilidade de explorar o talento dos pequenos. Igualmente nos dois casos, os pais alegavam ter os filhos menos idade do que realmente tinham, a fim de impressionar mais a platéia. E também em ambos os casos os romances que tiveram na vida foram mais com trabalho do que com uma figura humana.

E, para aquele que foi um dos maiores gênios da música de todos os tempos, o grande trígono Netuno (Casa VI) - Urano (Casa I) - Plutão (Casa X) mostra as alturas que um ser humano pode alcançar quando se dedica a realizar na vida os talentos previstos no seu mapa natal.

Fonte Bibliográfica: Revista Nova Acrópole - Tópicos do mapa de Beethoven por Otávio Azevedo