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MENOPAUSA: UM RITO DE PASSAGEM

Maria Helena Bastos

A menopausa é uma fase natural na vida de todas as mulheres. No entanto, ela é reconhecida até mesmo por muitas de nós como um tabu. Isso se deve parcialmente aos mitos e às informações preconceituosas que nos dizem que a mulher perde seus encantos com a maturidade.

Na definição médica, menopausa é "a cessação da menstruação, decorrente da interrupção permanente da função ovariana", simplesmente isso. Certamente que a menopausa representa uma mudança de vida e algumas destas mudanças podem ser bem intensas e interessantes. Não há o que temer em relação à menopausa: a simples associação de uma atitude de vida saudável, aliada a um check-up periódico, podem garantir uma transição suave para este novo estágio da vida.

Grandes mudanças ocorrem na relação da mulher com sua feminilidade. São transformações absolutamente naturais, como o verão que se segue à primavera, e o fruto que surge a partir da flor.

Define-se feminino, segundo o Novo Dicionário Aurélio, como um adjetivo "referente ao sexo caracterizado pelo ovário nos animais". Nesta definição vemos o ser feminino reduzido a um órgão que supostamente o qualifica e caracteriza. Colocando-o como um produto de reprodução, sem considerá-lo como sujeito. Dentro desta ótica mecanicista, a menopausa pode vir a ser um problema. Mas a mulher não é uma simples máquina de reproduzir, ela é muito mais, ela é um universo de poesia, é uma multiplicidade infinita de beleza, de ternura, e isso nenhuma definição redutora pode nos roubar.

O termo climatério é mais abrangente e pode ser utilizado para conceituar o período de transição entre a fertilidade e a menopausa propriamente dita. A palavra climatério provém do grego climakterius, que significa mudança (climak) de tempo (terius), ou seja, representa aquele período da vida onde a mulher passa por uma mudança, uma verdadeira "pororoca" física e emocional imposta pelo tempo. É um rito de passagem, e se for vivido com naturalidade e consciência, nos conduzirá a outro degrau em nossa evolução.

Para muitas de nós, este é um período de difícil adaptação, pois aí surgem os mal compreendidos sintomas da menopausa, como as ondas de calor, a diminuição do desejo sexual, as alterações de humor e a depressão, entre tantos outros sintomas. E para a medicina convencional, onde há sintomas há doença. Esta visão limitada faz surgir a expressão "Síndrome da Menopausa". Mas nós sabemos que isso é apenas uma definição e jamais um compromisso com a doença ou o sofrimento.

Ao ingressar neste período, passamos a reavaliar antigos aspectos de nós mesmas e às vezes ficamos aflitas com o que será do futuro e com as mudanças que estão por vir. O temor do futuro desconhecido é inerente ao ser humano, mas à medida em que vamos nos sintonizando com as transformações, e entendendo que é da própria dança da vida que estamos participando, o medo se dilui, e começamos a usufruir as vantagens do amadurecimento. Passamos pela mesma expectativa quando nos assustamos na adolescência com as modificações do nosso corpo. Tivemos que nos despedir da infância, pois agora nos tornamos "mocinhas". A menopausa é uma despedida de determinados aspectos femininos que nos definiam como "mocinhas" mas não a perda da feminilidade. Na verdade, acontece um aprimoramento da feminilidade.

Quando em outro momento da história da humanidade, em que não era tão solicitada a "juventude eterna", a mulher não se sentia desconfortável em sua própria estrutura, ou seja, aceitava o fluir do tempo, ao invés de brigar contra ele, esses desequilíbrios, apesar de existirem, não eram tão exuberantes, e por isso nossas avós e bisavós não dependiam tanto de tratamentos cada vez mais caros, como a terapia de reposição hormonal.

Saturno, o Senhor do Tempo, passa a ser o grande vilão na história de muitas de nós. Mas somos todas viajantes do tempo, como apregoam tantos poetas, e esta é uma caminhada sem interrupção.

Quanto mais nos sintonizarmos com o caminho, mais ele nos será benéfico e harmonioso. Todo peregrino sabe disso e no fundo é o que todas nós somos: "Peregrinas do Tempo". Resgatar o poder sobre o tempo, não é brigar contra ele. É se integrar a ele.

Quando pelas pressões sociais, da mídia e da nossa cultura nos sentimos deslocadas do tempo, o caminho se torna duro e áspero e nossa estrutura começa a expressar a parte mais difícil da natureza de Saturno. Muitos dos sintomas dolorosos deste amadurecimento começam a se manifestar, como por exemplo a temida osteoporose.

A osteoporose é a doença que mais se relaciona à perda de contato com Saturno, senhor das estruturas. Esta doença se caracteriza pela perda progressiva do cálcio e outros minerais essenciais para a estrutura óssea, cuja principal complicação seriam as fraturas de bacia e punho, tão comuns nos idosos. É a estrutura que se fragiliza com o passar do tempo. Entrar em sintonia com Saturno não é simplesmente ficar pensando nele. Temos que agir. Podemos, por exemplo, prevenir a osteoporose com dieta e exercícios adequados e algumas vezes uma complementação de cálcio e vitaminas. Isto é usar as qualidades de Saturno a nosso favor.

As ondas de calor são o sintoma que observo como sendo o mais marcante da menopausa. É freqüente a mulher buscar assistência médica por esta queixa, mais até do que pela irregularidade na menstruação. Nem toda mulher na menopausa sente o "fogacho", porém aquelas que sentem, sabem o quão desagradável e inconveniente ele pode ser. Não seria o "fogacho" um movimento de maior contato ou consciência vivida do "fogo interior" do qual tantos místicos falam?... Não seria o "fogacho" uma conquista, um merecimento, um estágio da evolução natural da consciência feminina?...

Recentes pesquisas têm demonstrado que durante o "fogacho" ocorre a liberação de determinadas substâncias que provocam a regulação hormonal natural. É importante ressaltar que o "fogacho" geralmente dura no máximo dois anos, justamente o período que antecede a menopausa, mas passada esta fase, a mulher se encontra vitoriosa e possuidora de um novo domínio sobre a vida, isso se ela se permitir aceitar e compreender, sem medo ou preconceito, o "fogacho" como sintoma deste rito de passagem.

As mulheres percebem que o "fogacho" tem suas particularidades, e passa a representar um sintoma valioso para a homeopatia. Muitas encontram sua medicação de fundo ou similimum neste período da menopausa, de tão floridos que são seus sintomas. Quando a mulher faz tratamento de reposição hormonal ela percebe que a simples interrupção da medicação faz com que os sintomas todos reapareçam. Isto acaba gerando, de certa maneira, uma dependência química. E isso interessa sobremaneira aos grandes laboratórios que divulgam o uso quase indiscriminado de hormônios. Alguns casos, podem apresentar a necessidade real de reposição hormonal, mas estes casos se originam de patologias anteriores ou de um estado de grande desequilíbrio orgânico. Não é a condição mais natural, pois a natureza se encarrega serenamente de fazer todo o processo de adaptação a este novo estágio na vida da mulher.

Algumas terapias modernas que abordam a integração e o equilíbrio consciente entre a mente e o corpo, podem conduzir a mulher harmoniosamente para a cura, trazendo equilíbrio à natureza feminina e conseqüente desaparecimento dos sintomas.

Estima-se que a idade da mulher brasileira entrar na menopausa é aos 47 anos. Isto são dados de estudos estatísticos, e as exceções seriam os casos de menopausa induzida por intervenção médica ou os raros casos de menopausa precoce (menopausa antes dos 40 anos).

A consciência deste processo se inicia já na oposição de Urano, por volta dos 40 anos, quando a mulher pode começar a se libertar de uma série de vínculos e compromissos que a mantinham atrelada a uma imagem que lhe era exigida. Aquelas que aceitam com maior naturalidade que seu compromisso é com o universo e com a vida em si, vivem com mais tranqüilidade os sintomas do ingresso na menopausa. Aquelas que estão presas a certos condicionamentos que nem sempre a fizeram felizes, presas à vaidade e à expectativa que os outros têm de si, tendem a encarar seu amadurecimento não como uma libertação, mas sim como um sofrimento incorporando todo o lado inconveniente e sofrido desta passagem.

Relatos do início do século descrevem uma doença chamada histeria da menopausa, e por muito tempo esta doença foi considerada uma patologia exclusivamente feminina. A histeria se manifesta num momento de ansiedade aguda, geralmente motivado por um trauma, por uma repressão muito intensa, uma perda dolorosa, contínua rejeição, etc. São circunstâncias nas quais a mulher tem a consciência de seu próprio poder de sentir-se livre e feliz, impedida ou bloqueada por fatores externos .

Lembro-me, por exemplo, do caso de uma paciente de 48 anos que atendi num plantão de maternidade. Era uma fria madrugada e fui chamada para atendê-la com urgência no hospital onde eu trabalhava. Encontrei uma mulher com uma barriga imensa, aparentando 9 meses de gravidez e gritando: "Meu filho vai nascer doutora.....meu filho vai nascer !".

Coloquei as luvas imediatamente e ao examiná-la me espantei, pois não havia gravidez. O diagnóstico da paciente foi gravidez psicológica, ou pseudociese. Ao investigar a sua história, fiquei sabendo que este era seu segundo casamento, com um homem bem mais novo do que ela e que não tinha filhos, e nem tão pouco sabia que ela tivera suas trompas ligadas no passado. O desejo de ter um filho nesta relação era tamanho, que ela foi capaz de criar este quadro histérico de gravidez, deflagrado pela ausência de menstruação decorrente da menopausa.

O stress e as muitas cobranças típicas da vida moderna, cada vez mais submetem a mulher aos efeitos da ansiedade tanto no lado profissional quanto emocional. Este momento da menopausa é uma fase de crise de maioridade, onde muitas estruturas antes consideradas sólidas, como o casamento, por exemplo, mostram sua fragilidade. Filhos saindo de casa e a insatisfação pessoal por não ter investido em nada pessoal, muitas vezes podem marcar o início de um processo de adoecimento.

Muitas vezes, algumas mulheres, transformam o processo de adoecimento em cura e liberdade. Por exemplo, é freqüente encontrarmos mulheres que transformaram positivamente suas vidas após uma batalha contra um câncer, como podemos constatar através de vários depoimentos, alguns até transformados em best-sellers.

Outras vezes, os sofrimentos acabam agindo como venenos que aos poucos neutralizariam o sistema de defesas do nosso corpo. Podemos observar que a resistência a uma transformação tão profunda como é a menopausa, pode ser um terreno fértil para os grandes medos femininos, como, por exemplo, o câncer de mama.

O câncer de mama tem sua maior oportunidade de manifestação neste período da menopausa, mais em função do medo que debilita do que por um processo orgânico isolado. A mama representa essencialmente dois papéis, o de amamentação e o da sexualidade. A amamentação pode ser vista como a própria essência da natureza doadora da mulher, um ato de amor além de sua função nutris. A palavra mãe, e todas as funções tão belas que envolvem esta palavra, provém do ato de amamentar. A dificuldade que apresentamos nesta expressão do amor, motivada pelo acúmulo de mágoas, rancor e medo, muitas vezes pode se materializar como doença na mama. Todas estas dificuldades, possíveis fontes de adoecimento, correspondem a uma percepção distorcida que temos do significado de Saturno, sendo ensinadas a acreditar que uma estrutura se mantém na base da repressão e do medo, quando na verdade qualquer estrutura poderia ser mantida e alimentada pelo amor e pela liberdade.

Outro aspecto interessante da menopausa é o da liberdade para transar sem o medo de engravidar. A mulher nesta fase tem uma relação madura com sua sexualidade e sabe se proporcionar prazer; sabe exigir prazer. Alimentar uma atitude sexual saudável nos liberta e nos cura, principalmente se pensarmos que nesta altura da vida temos muito a ganhar e nada perder. Este é o período da plenitude e da intensidade, o período da "menos-pausa".

Maria Helena Bastos é médica e astróloga.