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ESQUIZOFRENIA: UMA DOENÇA FAMILIAR

Mariann Laaksonen

A esquizofrenia, apesar de sua antigüidade, permanece ainda nos tempos atuais mergulhada num campo obscuro, numa dimensão aonde não pode ser falada, sendo freqüentemente colocada num lugar de mito.

Muitas vezes, o próprio médico se vê com uma "batata quente" nas mãos quando, diante da família do paciente, é questionado sobre o diagnóstico: "Doutor, o que é que meu filho tem? Quando vai ficar bom? Ele tem cura?" Muito freqüentemente a verdade vem disfarçada sob a resposta de que trata-se de uma crise, de stress, estafa, etc... como se fosse algo passageiro.

A esquizofrenia é uma doença psíquica grave, que rouba do indivíduo a sua possibilidade de exercer sua autonomia, levando-o gradativamente a uma situação de extrema dependência emocional. Num curto período de tempo o sujeito se transforma no "doente da família". Passa a ser marcado pelo fracasso, pela incompetência, se tornando incapaz de levar seus compromissos adiante.

Esse "doente" vai ser levado de médico em médico, como numa peregrinação em busca de cura, processo este que muitas vezes vai servir para aplacar a culpa da família.

Após alguns anos a família dirá: "Tentamos tudo", e poderá contabilizar uma dezena de profissionais visitados, no entanto, sem ter conseguido levar a cabo nenhum tratamento.

Sabe-se que a esquizofrenia é uma manifestação, é um sinal de doença na estrutura familiar. Existe um eleito, aquele que expressa a doença, mas, na realidade, o grupo familiar é doente. Geralmente são famílias cujos membros passaram por muitas dificuldades na vida, muitas vezes devido a estruturas familiares problemáticas.

A carência interna provocada por um passado difícil retorna no presente, personificada naquele filho que vai reviver, que vai ser o representante de todas as carências, inseguranças e sofrimentos de uma história familiar passada.

Então, a culpa é da família?... Não, se pudermos pensar que a princípio, ninguém tem em mente o propósito de adoecer um filho. No entanto, a família é responsável a partir do momento em que pode adotar duas condutas diferentes com relação à situação. Poderá negar tudo, reduzir a questão a uma explicação simplista fazendo uso da genética ou da hereditariedade como justificativa de não cura; ou então poderá se questionar sobre onde teria falhado e sobre o que poderia ser feito. Se a família puder se responsabilizar pela situação, possivelmente este paciente terá chances de cura; caso contrário, entrará para o rol dos pacientes incuráveis.

O sucesso do tratamento vai depender fundamentalmente do desejo de cura da família e da disponibilidade interna de cada um para lidar com as dúvidas, as ambivalências e a ansiedade que eventualmente surgirá no decorrer do tratamento.

Mariann Laaksonen é psicanalista.