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A LUA, SEU SIMBOLISMO E CICLO PROGREDIDO

Carlos Hollanda

"Fez Deus os dois grandes luzeiros: o maior para governar o dia e o menor para governar a noite e fez também as estrelas" Gênesis

Este excerto da Bíblia é interessante... Como os antigos sabiam que a Lua é menor do que o Sol, uma vez que, vistos da Terra, exceto por uma diferença mínima, imperceptível a olho nu, os dois têm o mesmo tamanho? É... A história nos prega peças e os iniciados que compilaram as escrituras sagradas deixaram muitas informações importantes nas entrelinhas. Só aos buscadores sinceros era permitido chegar ao cerne dos conhecimentos, os "Mistérios". Entre eles, a astrologia figurava como um dos mais célebres. Se analisarmos qualquer texto religioso antigo à luz do simbolismo cabalístico/astrológico, um novo universo se descortina.

Costuma-se dizer que o elemento mais importante de um mapa astrológico é o Sol. Pessoalmente, percebo a Lua como algo tão importante quanto ele, em vista de suas dimensões aparentemente iguais. Na Astrologia lidamos com um céu simbólico, portanto, tudo o que se apresenta neste céu aparente tem valor arquetípico definido. O Ascendente, por exemplo, o ponto localizado no horizonte a leste do local e hora do nascimento, tende a "dilatar" os corpos celestes que ali se posicionam. É fácil entender esta "dilatação" quando vemos o Sol nascendo (ou se pondo - Descendente). Neste momento nossa estrela nos parece enorme, com o dobro do tamanho, mas à medida em que o dia vai se firmando, suas dimensões se modificam. Dentro do simbolismo do Ascendente, tudo o que se posiciona em sua área de "influência", tem maior atividade na psique, inclusive mexendo com o significado do signo da cúspide. Assim também é com os demais símbolos astrológicos. De acordo com o modo como são vistos daqui de nosso pequeno mundo (em relações angulares entre si e pela proximidade com os pontos cardinais), os arquétipos têm manifestações diversas. A Lua não é diferente, sobretudo devido às suas formas alteradas durante seu ciclo mensal.

A Lua representa nossa ligação com a origem da humanidade e, por conseqüência, nos vincula com a massa, o povo. Ao contrário do Sol que, desenvolvido, representa a consciência da individualidade nos termos junguianos, a Lua aparece como o povo, suas raízes (inclusive as raízes do ser humano) e o sentimento de pertencer a uma coletividade (bairro, cidade, estado, nação). A progressão da Lua simboliza a evolução do ego coletivo encarnado na unidade de cada ser, isto é, a herança da espécie que cada indivíduo possui, passando pelas experiências individualizadoras e evolucionárias da essência do ser, representadas pela totalidade do mapa astrológico. A Astrologia Esotérica considera a Lua como um corpo morto, uma vez que, ao vincular a consciência com o passado e com a massa de seres ainda não diferenciados (Karma biológico), dificulta o avanço da alma a níveis mais elevados. Todavia, considera o posicionamento em Aquário como valioso, pois este arquétipo tende ao despojamento das ligações emocionais com os valores anteriores da evolução. Esta impessoalidade é o que torna a posição em Aquário potente no nível da alma, embora no nível da personalidade (o que estamos acostumados a atuar) não seja a mais confortante e a mais sustentadora, face às qualidades dissimuladoras das emoções, quando neste signo.

Como herança genética, a Lua participa da construção do ego, juntamente com o Ascendente, Meio do Céu, Marte e Saturno. Ela nos põe em contato com a vida cotidiana devido à sua qualidade de "Lente do Espírito". Como diz Dane Rudhyar, não podemos olhar diretamente para o Sol, o Espírito. Portanto, a Lua, a Alma, é o intermediário entre o físico (ego, Ascendente, sensações corpóreas das casas 1 e 2) e o metafísico. A progressão da Lua é como uma viagem pela existência nos seus becos e meandros mais sinificativos. Não é como a progressão do Sol, que realiza a experiência em 3 ou 4 anos, onde nem sempre nos tornamos conscientes dos efeitos de sua trajetória de imediato. Geralmente nos tornamos plenamente conscientes das mudanças ocasionadas pela progressão solar um pouco depois destas terminarem, a não ser quando ciclos como o da Lua progredida ativam um ponto correspondente ao que o Sol está ativando. Por exemplo: quando o Sol entra em conjunção com Vênus, a tendência a atrair relacionamentos e uniões aumenta, mas os poderes de Vênus vêm a se concretizar durante uma progressão da Lua ou mesmo sob o trânsito de planetas rápidos. Quando algo sensibiliza a Deusa do Amor sob este tipo de contato solar, o resultado é o que vemos tradicionalmente nos manuais de Astrologia. O que poderia levar alguns anos para ser percebido como um ritmo mais lento e concentrado e um desejo maior por conforto, passa de imediato pela consciência do indivíduo assim que estes símbolos atingem o ponto citado. Apesar disso, o Sol é o fator de integração em todos os sentidos. Nada pode ser obtido das progressões da Lua ou de qualquer fator no horóscopo que de algum modo não faça parte do fator solar em ação. No caso da progressão lunar, que coopera no processo solar de complementação, colocamo-nos em contato com as realidades dos arquétipos no espaço de 3 ou 4 meses, sendo o mês de culminação do aspecto o de maior importância. Como ela é um processo cotidiano, não é de admirar que, quando toca Marte, por exemplo, há um aumento (ou conscientização) claramente perceptível da agressividade. Algumas pessoas chegam a mostrar-se excessivamente competitivas a ponto de pôr em risco as amizades ou se expor a acidentes. Quando o planeta ativado é Júpiter há expansão. Muitos fazem viagens longas a trabalho ou a turismo. Aquilo que o Sol transmite, passa a ser vivenciado cotidianamente pela Lua num pequeno período.

Mais uma vez, reporto-me a Dane Rudhyar ao dizer que não se pode encarar o Sol (espírito) de frente, sob pena de ofuscar-se ou ficar cego. As doses de revelação solar vêm gradativamente de acordo com a capacidade e com o karma de cada pessoa, e a Lua, na maioria dos casos, é a ponte entre o Homem/Matéria e o Homem/Deus.

A Lua é o símbolo astrológico correspondente à sephira Yesod (Fundamento), na Cabala. A progressão lunar, além de representar um desenvolvimento dos atributos da humanidade em um único ente, significa a evolução do ego yesódico sobre os campos de experiência do mapa astrológico. É o ego encontrando situações propícias ao desenvolvimento individual no devido tempo e sofrendo as transformações necessárias ao advento de uma consciência superior se, é claro, o Ser em questão permitir que essas energias penetrem em sua vida modificando-a (o que a maioria da humanidade não faz) e fazendo com que essa pessoa manifeste os atributos cósmicos em seu cotidiano.

Carlos Hollanda é astrólogo e autor do livro "Progressão Lunar e Kabbalah", lançado pela Editora Elevação.